O GLOBO
Publicada em 02/12/2010 às 00h22m
Carla RochaRIO - As cartas da principal facção criminosa do Rio aos traficantes Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e My Thor - que foram interceptadas na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, em outubro - revelam que os bandidos temiam principalmente a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Complexo do Alemão. A informação é do próprio serviço de inteligência do presídio e faz parte do inquérito da Polícia Federal do Paraná que apura como e quem teria ordenado à mulher de um detento do estado a entrega das correspondências a dois chefes do tráfico carioca.
A íntegra das mensagens que os bandidos pretendiam entregar a seus chefes foi obtida com exclusividade pelo GLOBO. Nas cartas, cujos remetentes são identificados apenas como Tiago e Fellipe, é dito, numa escrita à mão com muitos erros de português, porém legível, que as quadrilhas estavam sendo desmanteladas em virtude das UPPs. "O governo estar embarreirando, e nós estar muito aborrecido com isto", afirma um trecho da carta de Fellipe. "Além do mais tem um montão de amigo largando o crime e abandonão nossa facção nas semi-aberta... O bagulho ta doido. Todos os toques que nós mandam pras cadeias os diretores ficão ligado em tudo. Tá difícil de confiar em alguem. Ainda mais toque de 1000 grau".
Ainda na mensagem de Fellipe, ele diz que prepara uma reação violenta caso uma nova UPP seja instalada, mas o texto não identifica o lugar. "Eu estou aqui aguardando a UPP. A bala vai comer sério ".
Já a carta assinada pelo bandido identificado apenas como Tiago sugere uma intenção de atacar UPPs. "Em relação de da um lance nos bruxos nas UPPs esse papo já foi dado nos amigos". Nela, o traficante garante ainda que "os amigos que estão de frente no B-3 (Bangu 3) falaram que quauque missão que passarem pra eles vão cumpri".
Agentes federais que participam das investigações disseram acreditar que Marcinho VP e My Thor, além de Elias Maluco, foram transferidos em decorrência das cartas - os três já estão na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. Embora não haja provas, há informações de que a mulher do bandido do Paraná que faria a entrega das correspondências já teria sido usada outras vezes como pombo correio. Condenado por homicídio e latrocínio, o detento não tem ligações com o tráfico mas seria usado por ter desenvolvido uma forma de fazer circular informações de fora para dentro da cadeia e vice-versa. Porém, a mulher dele, Rosângela Maria Ferreira, presa em flagrante, afirmou no depoimento que foi coagida a fazer a entrega. Ela foi flagrada na revista íntima com o material na vagina.
Não tivesse ocorrido o fato, Catanduvas ainda seria o local mais seguro por conta da gravação das conversas. Em Porto Velho, ainda não há respaldo legal para um monitoramento tão radical. O juiz federal Sérgio Fernandes Moro, que determinou a medida com um colegiado de juízes, afirma que o episódio das cartas não coloca em xeque a segurança do presídio do Paraná:
- A decisão de transferir é anterior aos episódios do Rio, que apenas precipitaram o que já era um pedido dos administradores dos presídios. O rodízio é para evitar que os detentos criem laços nas unidades.
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