O futuro do conjunto de prédios na Bela Vista (centro) onde funcionou por décadas o hospital Matarazzo continua incerto. Após associações de moradores e de ex-pacientes anunciarem que a PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) havia comprado o imóvel, a Fundação São Paulo, mantenedora da universidade, saiu a público para desmentir a informação.

A reitoria não se manifestou, mas fontes ligadas a ela confirmam o negócio.

O Ministério Público do Estado abriu ontem um inquérito civil para investigar o caso. Segundo Airton Grazzioli, promotor responsável pelas fundações, a PUC-SP não pode comprar o imóvel.

Em primeiro lugar, porque o reitor Dirceu de Mello não tem autonomia para fazer a compra. Depois, porque a compra e a venda de qualquer imóvel por uma fundação precisam ser aprovadas pelo Ministério Público, porque gozam de imunidade tributária.

E, por fim, porque a PUC-SP ainda tem elevadas dívidas com bancos e professores, remanescentes de 2005, ano em que a universidade passou pela pior crise financeira de sua história.

"A PUC-SP neste momento não tem condições financeiras para fazer esse negócio", disse Grazzioli.

Nota

A Fundação São Paulo divulgou ontem uma nota para esclarecer que "nunca participou de encontros ou assinou documentos com a Previ [fundo de pensão dono do prédio] ou com qualquer grupo de investidores", mas confirma que "recebeu notícias do reitor (...) de eventual proposta imobiliária envolvendo o imóvel".

Procurada, a Previ diz apenas que "informações e decisões relativas às negociações do imóvel estão sujeitas a sigilo comercial".

Está marcada para segunda-feira, no entanto, uma reunião entre associações de moradores e a reitoria para apresentação do projeto da PUC para o local. "O convite foi feito há cerca de 20 dias por um funcionário da universidade", disse o advogado Marcus Vinicius Gramegna, que, em 1999, entrou com uma ação civil pública contra a Previ a fim de evitar o destombamento do local.

Investidores

A Folha apurou que um grupo de investidores, que envolve credores da PUC, é quem está fechando o negócio. Os investidores querem que a PUC seja uma espécie de âncora do futuro empreendimento imobiliário que será lançado no local.

Imbróglio

A quem pertence o hospital Umberto Primo:
O hospital foi inaugurado em 1904 e, por questões financeiras e sanitárias, fechado em 1993. A Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) comprou o espaço em 1996 e negocia sua venda há cerca de um ano.

Os nomes envolvidos na negociação:
A PUC-SP, um grupo de investidores cuja identidade ainda é mantida em sigilo e um grupo hoteleiro francês.