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domingo, 21 de fevereiro de 2010

A medicina virou uma indústria, por isso fujo dos médicos




Estudo publicado pelo European Heart Journal esta semana concluiu que pessoas felizes têm menos riscos de apresentar problemas cardíacos. Parece óbvio, mas sempre é necessário um estudo científico para que se dê credibilidade às verdades mais irrefutáveis.

De minha parte, acrescentaria o seguinte: fujo de médicos.

Sei que existem médicos fantásticos, super competentes e, melhor do que isso, verdadeiramente preocupados em ajudar seus semelhantes, e não apenas em ganhar dinheiro. A maioria dos que me atenderam, porém, fez consultas tão rápidas e superficiais que não consegui acreditar em seus vereditos sobre minha saúde.

A medicina (como o futebol, o carnaval, o sexo e tudo mais) virou um grande negócio. Existe uma fenomenal indústria de medicamentos, equipamentos e exames que tem que dar resultado, gerar receita, aquele papo que conhecemos bem.

Laboratórios levam nossos doutores a viagens nababescas à Eurpoa, com tudo pago, hotel cinco estrelas. Na volta, dão a eles caixas e caixas de remédios, as chamadas amostras grátis.

Aí, você vai a um médico porque está com uma dorzinha de cotovelo e pronto: o cara já te manda automaticamente fazer uns três exames e lhe dá uma caixinha de remédio (bem que a minha avó dizia que a primeira dose de droga é sempre de graça). E você, por causa de uma dorzinha de cotovelo, já entrou na engrenagem dos laboratórios de análises, hospitais e farmácias.

Depois do primeiro exame, descobrem um pontinho, que pode não ser nada, mas por precaução dizem que você deve fazer mais uns três exames, todos chatérrimos, alguns doloridos, talvez até invasivos. E você lá, naquela roda-viva, sem poder mais sair, porque se não fizer vai ficar com aquela dúvida eterna: será que tem um caranguejo crescendo dentro do meu peito?

E a dor no cotovelo não era nada, apenas decepção por aquela vizinha boazuda ter preferido o dono da padaria aos seus encantos de dom Juan.

Fujo de médicos. Não faço exames, check ups. Quando Deus achar que é a minha hora, eu vou, sem passar por via crucis de pontes de safena, CTI e quimioterapias.

Lembro do filme De caniço e samburá, do Jerry Lewis, em que ele é diagnosticado com uma doença incurável:

O médico, desolado logo depois de dar ao paciente a notícia fatídica, diz assim:

_ Odeio ser médico nessas horas...

E o Jerry:

_ E eu odeio ser paciente nessas horas.

Depois, o desenganado sai viajando pelo mundo, gastando os tubos no cartão de crédito e curtindo seus últimos três meses adoidado.

Nem precisa dizer que, quando volta de viagem, é informado de que o diagnóstico estava errado e que ele terá muitos anos de vida pela frente para pagar as dívidas que acumulou.

Sei que alguns leitores vão me rogar milhares de pragas por desdenhar do sacerdócio da medicina.

Mas, como cantou Almir Guineto, se o santo deles é forte, meu anjo da guarda é Superman.

Falando sério, nenhum médico conhece melhor o meu corpo e a minha cabeça do que eu. Três meses antes de morrer de infarto, o humorista Bussunda tinha feito um check up completo, numa clínica caríssima, e o médico disse que ele estava... ótimo.

Erros médicos nunca são punidos porque a sociedade reconhece nesses profissionais o direito sobre suas vidas.

Como o leão que não conhece sua força e se curva ao adestrador. Como o índio que acha que a tempestade de raios é a fúria dos deuses.

Não me leve a mal, sei que vou morrer um dia, nenhum de nós pode evitar isso.

Mas a parte do hospital, eu vou pular.





LAST






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