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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Entrevista de Gabrielli irrita até base aliada


Ameaças veladas ao Senado podem inviabilizar acordo para barrar CPI

Vannildo Mendes e Eugênia Lopes, BRASÍLIA


A entrevista do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, publicada ontem pelo Estado, deixou a bancada do governo em situação embaraçosa e prejudicou o esforço do Palácio do Planalto em evitar - ou adiar - a instalação da CPI, criada pelo Senado, para investigar irregularidades na estatal. Senadores do governo e da oposição ouvidos ontem concordaram que Gabrielli foi inábil e mostrou uma arrogância que prejudica a estratégia de negociação dos governistas na hora mais crucial.

No trecho mais forte da entrevista, o presidente da Petrobrás disse que, na falta de fatos determinados para investigar, senadores estariam apelando para "fatos artificiais" armados em combinação com a imprensa, ou a "coscuvilhices" (mexericos). A seguir fez uma ameaça velada: "Estamos preparados para um vale-tudo". E acrescentou: "O ataque também faz parte da defesa".

A reação veio rápida. "Essa arrogância do Gabrielli esconde medo", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

Líder do PTB e vice-líder do governo no Senado, Gim Argello (DF), um dos articuladores do movimento para barrar a CPI, ficou desconsolado com a entrevista. "Não vejo necessidade em bater no Congresso. Não vejo parlamentares com intenção de detonar a Petrobrás", observou. Para o senador, está provado que bater no Congresso "não é o melhor caminho para evitar uma CPI".

Argello deixou claro, todavia, que não vê necessidade de instalação da CPI porque ela, a seu ver, não trará qualquer benefício ao País ou à empresa, que é um orgulho nacional e nesse momento de crise mundial dá significativa contribuição à estabilidade econômica. "A Petrobrás vem dando lucro, puxa para cima o PIB e os investimentos", disse.

A sensação geral, porém, é de que o presidente da Petrobrás vem desde o início atropelando a estratégia do próprio governo. O primeiro erro apontado foi a perambulação de Gabrielli nos gabinetes do Senado, há duas semanas, na presunção de que iria dobrar a oposição. "Agora ele repete o erro com ameaças veladas", criticou o senador Renato Casagrande (PSB-ES), da base aliada.

Para Casagrande, essa não é uma boa estratégia. "O governo tem de administrar a CPI e não partir para a guerra fratricida", disse ele. "A impressão que fica é que há muita denúncia inexplicável e, para se livrar delas, a Petrobrás joga tudo no embate", observou.

"É autoritária a postura de quem combate CPI", atacou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de convocação da CPI. Para ele, há muitos "fatos nebulosos" na estatal para serem investigados.

"A entrevista (de Gabrielli) usa a tática da mistificação e tenta amedrontar o Parlamento com a ameaça do vale-tudo." Para Dias, a tática da ameaça pode ter efeito contrário.

As denúncias elencadas na CPI incluem irregularidades em contratos milionários da estatal até manobras contábeis para sonegação de R$ 4 bilhões em impostos. Estão ainda incluídas acusações de beneficiamento a prefeituras e projetos de políticos petistas na destinação de recursos da Petrobrás e fraudes na distribuição de royalties.

A CPI deve requisitar também o relatório de recente sindicância interna mantida sob sigilo pela empresa, além de explicações sobre o empréstimo de R$ 20 bilhões tomados junto à Caixa Econômica Federal, entre outras operações suspeitas.

Para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), a Petrobrás não deve se preocupar porque a CPI vai se ater a fatos concretos. "Em vez do vale-tudo, nós queremos o vale a verdade, com os fatos nebulosos passados a limpo", disse. "A base do presidente Lula tem que concordar com a instalação da CPI esta semana para não passar a impressão de que está escondendo a verdade", enfatizou.


FRASES

Arthur Virgílio (AM)

Líder do PSDB

"Essa arrogância do Gabrielli esconde medo"

Gim Argello (DF)
Líder do PTB

"Não vejo necessidade em bater no Congresso. Não vejo parlamentares com intenção de detonar a Petrobrás"


Álvaro Dias
Senador PSDB-PR

"É autoritária a postura de quem combate CPI"

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