General chegou a pôr o cargo à disposição do presidente
Foi mantido pelo chefe, mas ficou em situação incômoda
José Cruz/ABr
Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o general Jorge Félix recebeu uma missão espinhosa de Lula.
Superior hierárquico da Abin, caberá a Félix escolher quais os integrantes da cúpula da agência de inteligência que serão afastados por conta do “grampogate”.
Ao anunciar a decisão do presidente de mandar ao freezer todo o alto comando da Abin, o Planalto esquivou-se de enunciar os nomes de todos os afastados.
Informou-se apenas que a providencia alcança o diretor-geral Paulo Lacerda e o adjuto dele, José Milton Campana, também egresso da Polícia Federal.
Félix terá de dizer se fica nisso ou se cai mais gente. A missão é embaraçosa porque o general não parece covencido de que o caminho adotado por Lula foi o mais adequado.
Nas reuniões de que participou, no Planalto, Jorge Félix esforçou-se para por de pé hipóteses que isentam Lacerda e a equipe dele de culpa no caso das escutas ilegais.
O general levou à mesa três cenários distintos. São as seguintes:
1. Encomenda privada: para o general, a escuta clandestina pode ser obra de Daniel Dantas, o mandachuva do Opportunity.
Uma maneira de tumultuar a cena, desmoralizando a ação da Abin e da PF na Operação Satiagraha e desviando o foco das acusações que pesam contra Dantas;
2. Briga interna: Félix não exclui a hipótese de que o grampo seja obra de gente da Abin. Nada, porém, com o assentimento de Paulo Lacerda.
Longe disso. Segundo essa tese, a coisa teria partido de servidores da agência interessados em minar o trabalho de “modernização” conduzido por Lacerda;
3. A opção Senado: para Félix, a conversa entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) pode não ter sido grampeada no tribunal.
A escuta bem pode ter partido, segundo o general, do quadro de linhas telefônicas do próprio Senado.
Ao ser informado de que Lula optara pela medida extrema do afastamento, a despeito das hipóteses que levantara, Félix pôs o próprio cargo à disposição de presidente.
Lula deu de ombros. O general ficou. Mas, em privado, não esconde o desconforto.
Incomoda-o também o inconveniente de ter a sua Abin esquadrinhada por uma investigação da Polícia Federal, providência também determinada por Lula.
Os movimentos do presidente contrariam a sua índole acomodatícia. Lula não é de afastar ninguém de chofre.
Nas primeiras horas de uma segunda-feira elétrica, o próprio Paulo Lacerda, que este no Planalto, mandara dizer a Lula que desejava sair.
O presidente respondera que ele deveria manter a calma. Parecia decidido a preservar o pescoço do diretor-geral da Abin.
À noite, sua posição evoluira dramaticamente. Premido pelo STF e pelo Congresso, achou que deveria antecipar-se aos fatos.
“Gramper o presidente do Supremo é grave demais”, disse Lula, a portas fechadas.
Antes, ainda pela manhã, reunira-se com três ministros do STF –Gilmar Mendes, Cezar Peluso e Ayres Britto.
Deixara claro que compartilhava da “indignação” dos visitantes. Mas não transmitiu a eles nem uma pálida idéia do que faria mais tarde.
No inicio da noite, em encontro com os senadores Garibaldi Alves, Demóstenes Torres e Tião Viana, Lula já falava em diapasão mais alto.
Disse que não levaria sua mão ao fogo por ninguém. E deu a entender que agiria pronta e rapidamente.
Na seqüência, apressou-se em ordenar ao chefe de gabinete, Gilbero Carvalho, que comunicasse a Gilmar Mendes os afastamentos que acabara de determinar.
No meio da tarde, os ministros que foram a Lula se reuniram com os colegas de Supremo. Encontro resrvado, longe dos olhares da imprensa.
Nessa reunião, as togas do Supremo decidiram que era importante deixar claro que aguardavam “providências” de Lula.
Algo que foi feito por meio da assessoria de imprensa do tribunal. As “providências” não tardaram. Vieram, na opinião dos ministros do Supremo, na medida certa.
Esperam, contudo, que haja desdobramentos. Além das cabeças já levadas à bandeja, contam com a realização de uma investigação genuína.
Embora estejam com o pé atrás em relação à PF, acreditam que a decisão do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza de jogar o Ministério Público no caso é segurança de que a apuração será real.
Escrito por Josias de Souza às 03h29
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