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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Beira-Mar e Abadía formaram quadrilha contra juízes, acusa PF


Presos na mesma cadeia, traficantes passaram a compartilhar laranjas; oito pessoas foram presas

Vannildo Mendes - O Estado de S.Paulo


BRASÍLIA - A convivência dos reis do narcotráfico do Brasil, Fernandinho Beira-Mar, e da Colômbia, Juan Carlos Ramirez Abadía, compartilhando advogados, carcereiros e visitas sob o mesmo teto no presídio federal de Campo Grande, onde estão presos, acabou produzindo resultados nefastos. Os dois se uniram em um plano para aterrorizar juízes que atuam nos seus processos e autoridades que têm o poder de atrapalhar seus negócios milionários fora da prisão, segundo a Polícia Federal.

Os dois traficantes usaram os advogados e familiares de grupos criminosos diversos, cujos chefes estão no mesmo presídio, para ameaçar essas autoridades. O plano foi descoberto pela inteligência da PF, que desencadeou nesta segunda-feira, 4, a Operação X e prendeu oito pessoas. Uma delas é o advogado Vladimir Búlgaro, defensor de José Reinaldo Girotti, um dos maiores financiadores de grupos criminosos do País, entre os quais o Primeiro Comando da Capital (PCC), que também está preso em Campo Grande.

O juiz corregedor do Presídio Federal de Campo Grande, Odilon de Oliveira, lembrou que Beira-Mar sempre ordenou vários crimes, entre eles seqüestros e o narcotráfico, de dentro do presídio. "São as visitas que recebe, o meio de contato do Beira-Mar com as quadrilhas que comanda no Brasil e no Paraguai", afirmou nesta segunda.

Oliveira disse ainda que a quadrilha desmantelada nesta segunda era formada por Beira-Mar e Abadía, "tão ou perigoso quanto Beira-Mar", e ainda os dois assaltantes do Banco Central de Fortaleza. Os quatro passarão a ser mantidos sob regime especial no presídio de Campo Grande. Beira-Mar já está cumprindo pena nessa condição especial.

Laranjas

O outro detento que cedeu laranjas para os dois megatraficantes é João Paulo Barbosa, especializado em assalto a bancos e também ligado ao PCC. Na operação, foram presos Leonice de Oliveira e Leandro dos Santos, familiares de Barbosa, como cúmplices do esquema. Ivana Pereira de Sá foi presa quando visitava o ex-marido, Beira-Mar, no presídio.

Beira-Mar e Abadía, porém, tiveram a idéia criativa de compartilhar advogados e familiares de outros presos. Contaram, para isso, com a assessoria de Girotti, também conhecido como Alemão, e do advogado Búlgaro. Alemão havia sido preso em 2006, em Londrina (PR) e transferido para Campo Grande no final do ano passado. Foragido da Justiça há mais de cinco anos, era ela o primeiro da lista de procurados pela PF.

Segundo a inteligência da PF, Alemão é exímio planejador de assaltos a bancos e sua lista criminal inclui 30 processos criminais, 25 inquéritos policiais e 15 mandados de prisão. Ele é suspeito de arquitetar os principais assaltos a bancos ocorridos no país nos últimos anos, inclusive o do Banco Central de Fortaleza, de onde foram levados R$ 164,7 milhões em 2005.

Dependendo da ação, conforme a PF, Alemão formava um grupo e recrutava os "soldados do crime". Uma das marcas de suas ações consistia em seqüestrar familiares de gerentes de bancos e empresas de segurança bancária antes dos roubos. A Operação X foi comandada pelo delegado Elzio Vicente da Silva. Os nomes das autoridades ameaçadas e dados do esquema foram mantidos em sigilo por ordem judicial, por razões de segurança.

Prisão

Os oito foram levados para a carceragem da PF em Campo Grande e a justiça decidirá onde cada um ficará. Beira-Mar, Abadía e os dois assaltantes do BC de Fortaleza vão ficar em cela especial, terão apenas duas visitas semanais de parentes ou advogados, acompanhados por servidores do presídio e nos banhos de sol, não poderão ficar junto com presos foram do regime diferenciado.

Com capacidade para 208 presos, em celas individuais de segurança máxima, a Penitenciária Federal de Campo Grande é considerada uma fortaleza imune a rebeliões, fugas e ações criminosas comandadas de dentro de suas instalações. É dotada de infra-estrutura e equipamentos de segurança de última geração, como aparelhos de raio-X, de coleta de impressão digital e detectores de metais de alta sensibilidade, aos quais até os advogados são submetidos. Os banhos de sol são individuais e praticamente não há contato físico entre detentos.

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