Os cafetões ideológicos dos desgraçados. Ou: Haddad dá início a guerrilha eleitoral explorando tragédia social
Um
grupo de bacanas e descolados, ligados a ONGs e a movimentos sociais,
decidiu organizar um churrasco em protesto contra a ação da Prefeitura e
da Polícia Militar na cracolândia. Segundo a PM, o evento reuniu ontem
umas 200 pessoas entre viciados e deslumbrados. Os primeiros são
suicidas; os outros são homicidas. Já chego lá. O leitor Allan Pinho, de
São João do Meriti, no Rio, envia uma indagação interessante. leiam:
“Reinaldo,
aqui no Rio, no combate à cracolândia da favela do Jacarezinho,
inclusive com a internação compulsória, houve grande apoio da população,
da grande maioria da imprensa, do Poder Judiciário, inclusive do MP
[Ministério Público] e da DP [Defensoria Pública]. Por que em São Paulo não está tendo esse apoio? Qual a diferença entre Rio e São Paulo nessa situação?”
Boa questão,
Allan! Essas mesmas correntes de opinião e entes apoiaram, de modo
inequívoco, a instalação das UPPs e a retomada de alguns morros. Qual a
diferença? No Rio, o PT é situação, e Sérgio Cabral é considerado um
aliado estratégico pelo Palácio do Planalto. Não há ninguém, em
Brasília, sabotando as ações do governo estadual, nem no Ministério
Público, na Defensoria, nas ONGs ou nos movimentos sociais. Em São
Paulo, o PT é oposição a Geraldo Alckmin (PSDB) e está tentando entender
qual é a de Gilberto Kassab (opôs-se à sua gestão ao menos até a
criação do PSD).
O PT é mesmo
assim: pode apoiar ou sabotar uma determinada medida a depender de quem
a implemente. Assiste-se, em São Paulo, a um movimento de caráter
político, com apelo eleitoral. Amplos setores da imprensa já se alinham
com a candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura. Vai ver estão
encantados com a competência demonstrada pelo rapaz no Ministério da
Educação, em especial no Enem… Na Folha de hoje, o ainda ministro
aparece classficando a ação em São Paulo de “desastrada”. Bem, ao menos
as coisas ficam mais claras agora.
Eis a
diferença, meu caro Allan! Como os petistas dominam boa parte das ONGs,
dos movimentos sociais e têm forte presença nas redações, consegue
emplacar a sua pauta. É o caso da tal “Churrascada da Gente Diferenciada
- Cracolândia”. Estará hoje em todos os jornais, foi amplamente
noticiada nos sites e portais e ganha, assim, uma visibilidade
muitíssimas vezes superior à sua importância. Só para você ter uma
idéia, o Estadão informa que foram comprados 18 quilos de carne e alguns
frangos, assados em quatro grelhas. O Globo Online não economizou:
alguém contou à reportagem que foram consumidos nada menos de QUINHENTOS
QUILOS. Imaginem que estrutura não seria necessária para assar meia
tonelada!
Ainda no
Globo, lê-se a declaração de Patricia Cornils, de uma certa
“Transparência Hacker”, segundo quem a idéia do churrasco foi de um
morador de rua. É mentira! A história começou num site que defende a
legalização das drogas chamado “Desentorpecendo a Razão”. Parece piada
macabra, mas não é. Viciados em crack, que já não têm mais nada de seu a
não ser o vício - vivem em função da pedra -, estão servindo ao
proselitismo de um grupo que fala em “desentorpecer a razão”. Não havia
mais do que 200 pessoas lá, incluindo dependentes que perambulam pelo
local. Boa parte não gostou do movimento e preferiu se afastar. Alguns
pobres desgraçados só queriam um pouco de pão e carne - quem poderá
condená-los por isso? Animados mesmo estavam os Remelentos & as
Mafaldinhas de classe média, muitos deles certamente consumidores
“recreativos” de drogas, que depois voltariam para o conforto dos seus
lares, rumariam para as suas baladas, retomariam a sua rotina
“burguesa”, deixando para trás os andrajos humanos que só pensam na
próxima pedra…
Os viciados
em crack praticam o suicídio lento - na verdade, nem tão lento assim.
Esses deslumbrados que foram lá fazer política são, queiram ou não,
homicidas cordiais. Sob o pretexto de defender os direitos dos viciados,
fazem, na prática, a apologia do vício. A maioria dos paulistas, dos
paulistanos em particular, estou certo, apóia as medidas da Prefeitura e
do governo. Mas essa turma não faz churrasco, não ocupa as ruas, não
pertence a “coletivo” nenhum! E a minoria, então, acaba dando o tom da
cobertura.
Uma das
estrelas do evento de ontem foi ninguém menos do que o padre Júlio
Lancelotti, aquele que não conseguiu dar uma explicação razoável para o
fato de ter comprado um carro de luxo para um ex-interno da Febem que o
chantageava. Ele é o chefão de uma tal “Pastoral do Povo de Rua” - boa
parte dessas pessoas, todos sabem, é viciada em crack. Há anos este, vá
lá, “religioso”, histórico militante ligado ao PT, organiza a
resistência a toda e qualquer tentativa do Poder Público de intervir na
área. Não por acaso, quando prefeita, Marta Suplicy (PT) ignorou o
problema. Foi em sua gestão que a cracolândia passou definitivamente
para o controle dos viciados, dos traficantes e das ONGs que diziam
fazer por ali um trabalho de “redução de danos”. Um desses trabalhos,
acreditem!, era distribuir cachimbos novos aos viciados sob o pretexto
de que era mais higiênico e impedia a transmissão de doenças.
A
cracolândia se transformou num enorme mercado de almas para a caridade à
moda Lancelotti. Ao Globo, ele deu uma declaração assustadora. Já que é
um padre da Igreja Católica (fazer o quê? Há dessas coisas…), ouso
dizer que suas palavras são inspiradas, sim, mas pelo antípoda de Deus.
Leiam:
“Uma manifestação como essa é tudo que ninguém esperava: o povo que vive na cracolândia comendo com pessoas de outros segmentos sociais. Isso é um sinal de que a sociedade muda se todo mundo puder comer junto, se a comida for suficiente para todos, se eu olhar para o outro como meu irmão. Se houver partilha, se todos tiverem direito ao pão, a cidade vai ser nova e diferente”.
“Uma manifestação como essa é tudo que ninguém esperava: o povo que vive na cracolândia comendo com pessoas de outros segmentos sociais. Isso é um sinal de que a sociedade muda se todo mundo puder comer junto, se a comida for suficiente para todos, se eu olhar para o outro como meu irmão. Se houver partilha, se todos tiverem direito ao pão, a cidade vai ser nova e diferente”.
É para
estômagos fortes. O que é que “mudou” exatamente? Nada! A fala de
Lancelotti traz o desastre moral que já está embutido no nome de sua
pastoral: “Povo de Rua”. Não existe um “povo de rua” como categoria
sociológica, política, antropológica ou religiosa. Aquele que está na
rua vive um drama pessoal e familiar que pede uma solução. Na fala desse
padre, os viciados da cracolândia se transformam num segmento social
dotado de direitos específicos. Errado! São cidadãos, sim, submetidos às
mesmas leis que regulam a vida das demais pessoas. Se estão doentes,
têm de buscar ajuda. Mas não dispõem de licença especial, como
privatizar o espaço público, por exemplo.
Noto em
setores da imprensa paulistana um viés delirante, estúpido. Aqui e ali,
percebe-se um esforço para transformar os viciados da cracolândia numa
comunidade com valores próprios, como se houvesse por lá uma variante
antropológica. Não há dúvida de que um sociólogo ou antropólogo
conseguiria fazer fascinantes trabalhos descritivos sobre aquela
“subcultura”, encontrando todos os mecanismos de poder e de organização
que estruturam a sociedade dos não-viciados. Não há dúvida, e os
jornalistas babam embevecidos quando diante de uma historieta, que se
multiplicam por lá manifestações de solidariedade e companheirismo. Não
há dúvida de que os viciados têm sonhos, anseios, ambições, pequenas
vaidades.
Pulsa, sim,
senhores, a vida humana em meio àqueles escombros e andrajos físicos,
morais, éticos… Por isso mesmo, cumpre ao Poder Público tomar uma medida
drástica. E a primeira consiste em recuperar o território para dar
combate ao tráfico, oferecendo, como está sendo feito, a oportunidade de
tratamento aos viciados e prendendo os bandidos.
“E se os
viciados não quiserem?” Bem, enquanto não há uma legislação que dê
amparo à internação forçada, são livres para rejeitar ajuda, MAS,
ATENÇÃO!, NÃO SÃO LIVRES PARA ESPALHAR A DESORDEM! Uma das faixas
pregadas pelos organizadores do churrasco sustentava: “Nem criminoso,
nem doente: usuário de drogas é cidadão”. Já o viciado Paulo Henrique
Bispo, de 38 anos, pensa um pouco diferente: “A gente está doente e
precisa de tratamento, não brutalidade”. Perceberam? Os proxenetas dos
viciados, seus cafetões ideológicos, querem lhes emprestar uma voz
política. Ocorre que muitos deles, no entanto, sabem-se doentes. O
curioso é que tanto o discurso “sociologizado” como o “medicalizado”
partem do princípio de que o dependente pode impor a sua vontade ao
conjunto da sociedade. E não pode!
“A contrário
do que dizem por aí, a operação não tem prazo para acabar. A polícia
vai permanecer enquanto tiver necessidade. Vamos apoiar as próximas
fases da operação, apoiar os agentes de saúde e de assistência social”. A
fala é do secretário de Segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto.
Assim seja!
A região
hoje conhecida por cracolândia precisa voltar a abrigar a churrascada da
gente que não se diferencia: o homem comum, que não se droga, trabalha,
estuda e luta para ter uma vida digna.
15/01/2012 - 23h26
Fotógrafos são assaltados ao fazer ensaio na cracolândia
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DE SÃO PAULO
Um grupo de usuários de crack agrediu na noite deste domingo três repórteres-fotográficos, incluindo um repórter da Folha, que faziam uma reportagem na região da cracolândia.
Veja imagens do 'churrascão' na cracolândia
'Churrascão' protesta contra ação da polícia na cracolândia
Viciado da cracolândia é lanterna entre os excluídos
Tráfico de varejo é o alvo na ação anticrack em SP
Eduardo Anizelli, Daniel Kfouri e Maurício Lima faziam um ensaio fotográfico quando foram cercados por cerca de sete pessoas na rua dos Gusmões, próximo à rua Conselheiro Nébias, por volta das 19h.
Os repórteres foram ameaçados com facas e agredido com chutes e socos. Dois deles tiveram o equipamento de trabalho (câmera e lentes) e celulares levados pelos usuários.
O grupo só se dispersou depois que um morador da região, que chegava de carro no local, começou a buzinar.
Procurados pelos repórteres, policiais que estavam em duas viaturas paradas na região da avenida Duque de Caxias disseram inicialmente que não poderiam sair do local.
Tempo depois, eles aceitaram acompanhar a reportagem na tentativa de recuperar os equipamentos, mas o grupo já havia dispersado.
A PM realiza uma megaoperação na cracolândia desde o dia 3, com efetivo de mais de uma centena de policiais. De acordo com o último balanço, divulgado às 17h, 107 pessoas já foram presas, 43 foragidos foram recapturados e 2,3 kg de crack foram apreendidos.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
11/01/2012 - 07h29
Centro para viciados em crack será aberto sem atendimento de saúde
DIÓGENES MUNIZ
EDITOR-ADJUNTO DA TV FOLHA
A vice-prefeita e secretária de Assistência Social de São Paulo, Alda Marco Antônio (PSD), afirmou ontem à Folha que o novo centro para acolhimento de usuários de drogas, no Bom Retiro, será lançado mesmo incompleto.
EDITOR-ADJUNTO DA TV FOLHA
"A plena carga, só no final de fevereiro, comecinho de março", disse.
O "Complexo Prates", como está sendo chamado, é divulgado pela prefeitura como um "centro especial" por conjungar tanto a assistência social --com área de convivência e albergue-- quanto o atendimento de saúde --com AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e Caps-AD (Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas).
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Em visita ao local, na rua Prates, a reportagem verificou que a área reservada ao atendimento de saúde nem sequer foi erguida.
A gestão Kassab decidiu lançar o complexo no início do próximo mês mesmo assim.
A prefeitura informa em seu site que "as obras do Complexo Prates receberam R$ 8 milhões em investimentos e estão previstas para serem entregues no começo de fevereiro".
"É uma pena, pois inaugurar tudo junto seria um ganho", admitiu a vice-prefeita ontem, no local.
Conforme publicou a Folha na última sexta-feira, Gilberto Kassab (PSD) e Geraldo Alckmin (PSDB) adiantaram a operação na cracolândia por temer uma ação do governo federal, o que os deixaria em desvantagem política diante do PT.
AÇÃO DESCOORDENADA
A vice-prefeita nega, no entanto, que o complexo de atendimento a viciados e moradores de rua esteja ligado à intervenção recente na cracolândia. Ela diz ainda que soube da deflagração da operação às 10h da mesma data em que ocorreu (último dia 3).
Enquanto o atendimento de saúde do complexo não fica pronto, a prefeitura vai oferecer no local a possibilidade de os dependentes químicos tomarem banho, dirigirem-se ao albergue para alimentação e descanso e, nas palavras da vice-prefeita, "se distraírem".
"São várias armas [para tirar os viciados das ruas]. A bola [de futebol] é uma mágica. A bola funciona com quase todos. Temos todos os joguinhos que existem nos bares de São Paulo. Pebolim é muito querido. Tênis de mesa, menos, mas também [é querido]. E temos jogos de tabuleiro", descreve a vice-prefeita.
O centro deve abrigar 1.200 pessoas. O local fica a pouco mais de um quilômetro do epicentro do crack. Segundo a Secretaria Assistência Social de São Paulo, não haverá revista dos frequentadores.
"[O visitante] tem que gostar daqui. Ele tem que se sentir seguro. Tem que se sentir não-patrulhado", diz.
Colaborou: ANDRÉ FELIPE
Diários da cracolândia: a operação no centro de SP sob três pontos de vista
A pedido do 'Estado', um PM, um viciado e um pesquisador contaram suas rotinas na última semana
16 de janeiro de 2012 | 23h 37
O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - O Estado pediu para três pessoas darem seus relatos de uma semana da operação na cracolândia, no centro de São Paulo. Juntamos aqui o ponto de vista de um PM que atua na ação, um usuário que mora na região e um pesquisador que trabalha com usuários.
Abaixo você lê os três relatos de uma semana na cracolândia:
'Sou o último que sobrou em 16 anos aqui', diz viciado em crack
'Demora para esquecer esse tipo de situação', diz policial em ação
'Trabalhar com os usuários ficou difícil', diz pesquisador
16.janeiro.2012 21:34:12
Maria Moura, a cozinheira que sobrevive no meio do caos da Cracolândia
Maria Moura, como gosta de ser identificada, tem 46 anos, mora na região há 11 e convive com a droga na porta de casa há pelo menos dois anos. Nos últimos dias, ela acompanha bem de perto a operação de combate ao consumo de crack na área.
Conhecida da vizinhança pela fala fácil e o tempero da marmita, a cozinheira fornece comida caseira, serviço que lhe garante o sustento de 7 crianças, 3 filhos e quatro netos, na pequena casa, quase na esquina mais agitada do bairro. Ela atende a todos com discurso envolvendo de comerciante. “Aqui em casa eu tenho mesa e quatro cadeiras para servir o almoço”, afirmou. “Vai comendo e vai saindo, dando lugar a outro”, resumiu Maria Moura, explicando o negócio.
No almoço da última sexta-feira, após a correria da manhã dos viciados na pedra, espantados da Helvétia pela polícia para desobstrução da via, o “restaurante caseiro” de Maria Moura servia peixe frito, peito de frango e costela (de vaca) ao molho, com arroz, feijão e salada. “Prato feito é R$ 5, comercial (bandeja) é R$ 7”, dizia ela. E acrescentava “a Tubaína é R$ 2 e o copo de suco, R$ 1”.
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