Algumas
casas — 12 delas — entregues pela CDHU em Ribeirão Preto apresentam
problemas, como vazamento na pia, fissuras e portas e janelas que não
fecham. Milton Vieira de Souza, já um ex-dirigente regional da empresa
do estado a esta altura, ouvido pela Folha, falou besteira. Atribuiu os
defeitos ao mau uso do imóvel em razão do “nível de educação” do
“pessoal que veio da favela”. Ele acha que é preciso fazer um “trabalho
social” para que os ex-favelados passem a morar em casas. Então tá!
Alckmin convidou souza a se demitir — e fez muito bem! Não que o
“pessoal que veio da favela” não deva mesmo passar por um treinamento
para morar em casas, numa espécie de condomínio, com a delimitação clara
dos limites de propriedade de cada um e o respeito à coletividade. Como
sabe Raquel Rolnik, aquela petista que não é a ONU,
uma das características da favela é ser, vamos dizer, um ajuntamento de
individualidades. Cada um, do ponto de vista urbanístico, é criativo à
sua maneira. Isso a que os poetas da pobreza chamam “comunidade” é, de
fato, muito pouco… comunitário! Basta passar em frente a boa parte de
conjuntos habitacionais populares para notar um ajuntamentos de
“vontades”: cada morador se sente livre para impor o seu padrão — o que
resulta na degradação do espaço coletivo. Porque era desse modo que se
fazia na favela, originalmente uma invasão desconectada do Poder
Público.Muito bem! Mas o que isso tem a ver com a torneira que vaza ou com a porta que não fecha? Pode haver mau uso do imóvel? Pode, sim! Mas não necessariamente porque “o pessoal veio da favela” — vejam o caso do desabamento dos três prédios no Rio. As afirmações do já ex-dirigente expõem um viés que nada tem a ver com a política da CDHU e com o esforço que fazem os paulistas para minorar os problemas de moradia.
São palavras preconceituosas? Muito provavelmente, sim! E o preconceito merece ser combatido? Sim! Até com demissão? Sim! O mais relevante, no entanto, nem é esse julgamento, no fundo, moral. Caso se fique só aí, deixa-se de reconhecer um problema real: os moradores de favelas que passam a morar em conjuntos habitacionais precisam mesmo passar por um treinamento. Os bobinhos judiciosos de classe média que acham isso um despropósito não conhecem a pobreza — só a poesia ruim que as esquerdas fazem. “E você, Reinaldo Azevedo, conhece?” Conheço! E muito bem!
O tal
dirigente tinha de ser demitido, antes de mais nada, porque, com aquela
abordagem, ele torna a empresa menos eficiente e menos pronta para
resolver os problemas e responder a desafios. O importante, pra mim, é
que ele deu uma resposta errada para dois problemas reais: a) as 12 casas estão com defeito; b)
existe, sim, a necessidade de uma educação para a vida comunitária —
coisa que a favela, à diferença dos que pensam alguns tontinhos de
classe média, não é!
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