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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alckmin faz a coisa certa e decide demitir dirigente regional da CDHU por declarações infelizes


Algumas casas — 12 delas — entregues pela CDHU em Ribeirão Preto apresentam problemas, como vazamento na pia, fissuras e portas e janelas que não fecham. Milton Vieira de Souza, já um ex-dirigente regional da empresa do estado a esta altura, ouvido pela Folha, falou besteira. Atribuiu os defeitos ao mau uso do imóvel em razão do “nível de educação” do “pessoal que veio da favela”. Ele acha que é preciso fazer um “trabalho social” para que os ex-favelados passem a morar em casas. Então tá!
Alckmin convidou souza a se demitir — e fez muito bem! Não que o “pessoal que veio da favela” não deva mesmo passar por um treinamento para morar em casas, numa espécie de condomínio, com a delimitação clara dos limites de propriedade de cada um e o respeito à coletividade. Como sabe Raquel Rolnik, aquela petista que não é a ONU, uma das características da favela é ser, vamos dizer, um ajuntamento de individualidades. Cada um, do ponto de vista urbanístico, é criativo à sua maneira. Isso a que os poetas da pobreza chamam “comunidade” é, de fato, muito pouco… comunitário! Basta passar em frente a boa parte de conjuntos habitacionais populares para notar um ajuntamentos de “vontades”: cada morador se sente livre para impor o seu padrão — o que resulta na degradação do espaço coletivo. Porque era desse modo que se fazia na favela, originalmente uma invasão desconectada do Poder Público.
Muito bem! Mas o que isso tem a ver com a torneira que vaza ou com a porta que não fecha? Pode haver mau uso do imóvel? Pode, sim! Mas não necessariamente porque “o pessoal veio da favela” — vejam o caso do desabamento dos três prédios no Rio. As afirmações do já ex-dirigente expõem um viés que nada tem a ver com a política da CDHU e com o esforço que fazem os paulistas para minorar os problemas de moradia.
São palavras preconceituosas? Muito provavelmente, sim! E o preconceito merece ser combatido? Sim! Até com demissão? Sim! O mais relevante, no entanto, nem é esse julgamento, no fundo, moral. Caso se fique só aí, deixa-se de reconhecer um problema real: os moradores de favelas que passam a morar em conjuntos habitacionais precisam mesmo passar por um treinamento. Os bobinhos judiciosos de classe média que acham isso um despropósito não conhecem a pobreza — só a poesia ruim que as esquerdas fazem. “E você, Reinaldo Azevedo, conhece?” Conheço! E muito bem!
O tal dirigente tinha de ser demitido, antes de mais nada, porque, com aquela abordagem, ele torna a empresa menos eficiente e menos pronta para resolver os problemas e responder a desafios. O importante, pra mim, é que ele deu uma resposta errada para dois problemas reais: a) as 12 casas estão com defeito; b) existe, sim, a necessidade de uma educação para a vida comunitária — coisa que a favela, à diferença dos que pensam alguns tontinhos de classe média, não é!
Por Reinaldo Azevedo







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