- 25 de junho de 2011 |
- 23h30 |
Categoria: Comportamento, Geral
MARICI CAPITELLI
Fugindo da miséria e de um país devastado por um terremoto de 7 graus na escala Richter em janeiro de 2010, haitianos estão entrando em massa no Brasil e pedindo refúgio. A porta de entrada desses estrangeiros tem sido o Amazonas e o Acre. Parte deles está chegando em São Paulo e vivendo em instituições de caridade.
A tendência desses imigrantes é acabar na clandestinidade tanto na capital paulista como em outras cidades, avaliam entidades que estão acolhendo essa comunidade. Isso porque inexistem políticas públicas de atendimento para essa população e eles não terão direito ao status de refugiados como garante o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).
Em São Paulo, segundo a Cáritas Arquidiocesana, cerca de 70 haitianos passaram pela entidade este ano. Mas esse pode não ser o número real, já que nem todos procuram a instituição.
Atualmente, 11 estão morando na Casa do Migrante e outros 14 no albergue Arsenal da Esperança. Mas, há cerca de 20 dias, uma viatura da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social (Smads), que recolhe pessoas em situação de rua, chegou à instituição com outros dez.
“Não tivemos como acolhê-los por falta de vagas. Não sei para onde foram levados”, afirma a assistente social Carla Aparecida Silva Aguillar, gerente da Casa do Migrante. A secretaria foi procurada para informar o destino do grupo, mas não respondeu.
Do ano passado para cá, passaram pela Casa, que tem 105 vagas, 52 haitianos. “É um número alto levando-se em conta que estamos falando de uma única nacionalidade.”
Pelos dados da Pastoral do Migrante em Manaus, estão na cidade mais de 1,1 mil haitianos. No Acre, estimativas apontam a entrada de cerca de 500 imigrantes do Haiti, sendo que 120 estão vivendo no ginásio de esportes da cidade de Epitaciolândia. Um grupo saiu com destino a São Paulo.
Para chegar a esses Estados precisam desembolsar R$ 5 mil e fazem a travessia com ajuda de ‘coiotes’ – pessoas contratadas para guiar clandestinos pela fronteira.
Só que essa massa humana não para de crescer. Em Tabatinga, no Amazonas, a Polícia Federal tem recebido em média 40 novos imigrantes por semana. Já foram emitidos 1.307 protocolos de pedidos de refúgio e outros 250 estão na cidade esperando atendimento, porque o efetivo da polícia não tem condições de atender prontamente a todos que chegam.
Como não existe nenhuma política governamental para recebê-los, todo o acolhimento está sendo feito pela Pastoral do Migrante de Manaus. Eles estão alojados em igrejas, salões paroquiais, quitinetes e até casas particulares cedidas pela comunidade local. “Estamos pedindo doações nas missas e nas rádios”, diz o padre Valdecir Mayer Molinari, da Pastoral do Migrante.
Segundo ele, 650 haitianos já estão trabalhando, mas o que ganham não é suficiente para conseguir se manter, pois mandam dinheiro para as famílias.
O padre diz que tem aconselhado esses imigrantes a não viajarem para São Paulo justamente por conta da dimensão da cidade e das dificuldades que enfrentariam aqui. “Em São Paulo, vai ser tudo mais difícil para eles.”
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que esteve com os haitianos nas duas fronteiras, disse que o objetivo final deles é chegar a São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. No Acre, o parlamentar viu inclusive um mapa do Brasil com as cidades marcadas com alfinetes para as quais eles pretendem seguir.
“São Paulo está entre elas.” Para o deputado, os órgãos brasileiros ainda não se atentaram para a gravidade da situação. “A imigração começou em uma escala pequena, mas está crescendo em uma progressão geométrica e ninguém tem ideia de quantos ainda virão”.
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