Amigo e segurança do ex-presidente Lula, Freud Godoy, recebeu recursos.
Revista Época detalha o esquema do mensalão, que possui 38 réus.
O relatório final da Polícia Federal sobre o escândado do mensalão, publicado pela revista Época neste fim de semana, revela que o dinheiro usado para abastecer o chamado "valerioduto", operado pelo publicitário Marcos Valério, teve origem em recursos públicos.
Segundo a revista, a investigação também revela novos beneficiados no escândalo. Um deles é amigo e segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Freud Godoy. Ele confessou à Polícia Federal que recebeu R$ 98 mil de Marcos Valério em janeiro de 2003 como pagamento por serviços de segurança prestados à campanha de Lula no ano anterior.
A Época mostra que a investigação chega perto do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. A polícia descobriu que Rodrigo Fernandes, tesoureiro da campanha de Pimentel à prefeitura de Belo Horizonte em 2004, recebeu R$ 247 mil.
Uma das empresas de Marcos Valério, a DNA, pagou R$ 650 mil, em 2003, à empresa Alfândega Participações, de Álvaro Jucá, irmão do líder do governo no Senado Federal, Romero Jucá. O relatório da polícia diz que a empresa não comprovou como o dinheiro foi gasto.
O que foi o "valerioduto"?
O chamado "valerioduto" distribuía dinheiro a políticos do PT e de partidos da base aliada. O escândalo provocou a maior crise política do governo Lula. O então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, apontado como chefe da "quadrilha", perdeu o cargo e teve o mandato de deputado cassado. O delator do esquema, Roberto Jefferson, também perdeu o mandato. Outros deputados renunciaram para não perder os direitos políticos.
Segundo a polícia, as empresas de Marcos Valério faziam contratos de publicidade com o governo federal. Os contratos eram superfaturados e nem todos os serviços eram prestados. Esse dinheiro era usado para pagar o mensalão. Marcos Valério também conseguia recursos junto ao Banco Rural e à Brasil Telecom, na época comandada pelo banqueiro Daniel Dantas.
Marcos Valério fazia empréstimos de fachada para justificar a origem do dinheiro e burlar a fiscalização. Os recursos circulavam por várias contas até serem distribuídos às pessoas indicadas pelo comando do PT. Segundo a polícia, 100 pessoas teriam recebido dinheiro de Marcos Valério, em um total de R$ 55 milhões. O dinheiro era destinado a campanhas eleitorais, ou ao uso pessoal.
Processo
O relatório da Polícia Federal foi entregue há um mês ao ministro Joaquim Barbosa, relator do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). As novas revelações se somam à ação penal que já corre no Supremo. Até o momento, o caso tem 38 réus. Ainda não há data marcada para o julgamento do mensalão. O documento foi anexado ao processo e encaminhado ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que terá, agora, de apresentar seu parecer.
Outro lado
O advogado de Marcos Valério negou o uso de dinheiro público. "Nós fizemos defesa em curso do processo e requeremos a realização de perícias, que foram feitas e que demonstram que não houve desvio de dinheiro público", disse Marcelo Leonardo, advogado do publicitário.
O advogado de Daniel Dantas negou a participação do banqueiro no esquema criminoso. "Ele é inocente de todos os crimes e estamos nos defendendo dentro da regras do estado de direito", disse Andrei Zenkner Schmidt, advogado de Daniel Dantas.
O senador Romero Jucá disse que, tanto ele quanto o irmão, Álvaro, estão indignados e consideram as acusações um "absurdo". O senador afirmou também que, nem ele, nem o irmão, conhecem Marcos Valério.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou que a prestação de contas de sua campanha à prefeitura de Belo Horizonte, em 2004, foi aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral, e que seu nome jamais foi incluído em qualquer processo do mensalão.
A assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que ele não teve acesso ao relatório da Polícia Federal. Por isso, não se manifestaria sobre o assunto.
O advogado de Freud Godoy, Augusto de Arruda Botelho, afirmou que nada tem a acrescentar aos depoimentos dados à Polícia Federal.
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