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terça-feira, 19 de abril de 2011

David Goldman - A vitória do pai biologico



29/12/2009 - 17:28 - Atualizado em 30/12/2009 - 14:56

Com Sean de volta aos EUA, termina a batalha e recomeçam duas vidas

sexta-feira, 25 de março de 2011

15:01 \ Brasil

Condições impostas

O advogado da família brasileira de Sean Goldman, Sergio Tostes, vai divulgar uma nota oficial ainda hoje acusando o pai de impedir o contato do menino com os seus avós. Abaixo os principais trechos da carta, que lista uma série de condições impostas pela advogada americana para autorizar o encontro.:

“Goldman e seus advogados sempre estabeleceram como primeira condição para que os avós tivessem qualquer contato com Sean que eles desistissem de todas as ações judiciais em andamento no Brasil. Os avós concordaram (…) e a advogada Patricia Apy estabeleceu 8 novas condições, dentre outras:

*Os avós deveriam pagar oito preparatórias com o psicólogo, que os instruiria sobre como se comportarem com Sean. Se, depois dessas sessões, o psicólogo achasse que a visita não representaria nenhum “perigo” para Sean, a seu exclusivo critério,

*As visitas seriam autorizadas; os encontros com Sean, se e quando houvessem, seriam na presença do psicólogo e somente poderiam falar em inglês.

*Um tradutor estaria presente para a eventualidade de alguma palavra ser dita em português;

*Os avós jamais falariam sobre situações que recordasse Sean de sua vida no Brasil; nenhuma outra pessoa, além dos avós, nem mesmo sua irmã Chiara, poderia visitar Sean;

*A seu exclusivo critério, Goldman poderia interromper a visitação, a qualquer momento;
Nenhum presente poderia ser dado a Sean, sem a antecedente aprovação de Goldman;

*Os passaportes dos avós maternos deveriam ficar retidos pela autoridade judicial durante toda a sua permanência nos Estados Unidos;

*O pagamento antecipado e imediato de U$S 204.890,62 (duzentos e quatro mil, oitocentos e noventa dólares e sessenta e dois centavos) a advogada Patricia Apy e ao próprio David Goldman.”

Por Lauro Jardim
Michel Filho
PONTO FINAL
Goldman, acima, e com o filho Sean, no avião que os levou aos EUA na noite de Natal
Eram quase 9 da manhã de 25 de dezembro quando o avião fretado pela rede de televisão americana NBC aterrissou em Orlando, na Flórida. Às 11h45 do dia anterior, Sean Bianchi Goldman, de 9 anos, havia embarcado no Rio de Janeiro com o pai, David Goldman. Era o desfecho de uma batalha judicial de cinco anos e meio, iniciada quando ele foi trazido pela mãe, Bruna, aos 4 anos, para o Brasil. Pai e filho passaram a sexta-feira de Natal e o fim de semana visitando os parques da Disney. Depois rumaram para uma casa, ainda no Estado da Flórida, mas em local desconhecido. Lá, o menino estaria convivendo com avós, tios e primos da família paterna.

Segundo informações de amigos de David Goldman aos jornais americanos, Sean tem jogado bola e se divertido com os presentes natalinos, sendo o principal um moderno carro de controle remoto. Uma única entrevista foi dada por Goldman, ao canal NBC, na segunda-feira dia 28. Ele contou que Sean o tem surpreendido pela rápida fluência do inglês e que o filho perguntou se era verdade que seu quarto na casa de Tinton Falls, Nova Jersey, onde morou com os pais quando pequeno, não tinha sido modificado. O americano, ex-modelo, respondeu que sim e que, juntos, poderiam redecorá-lo. Sean tem demonstrado curiosidade com a nova vida, disse Goldman na entrevista. E revelou também que o garoto ainda não o chamou de pai. “Na verdade, ele ainda não me chamou de nada. Está lutando um pouco contra isso. Mas vamos curar as cicatrizes juntos”, afirmou à NBC.

Depois desses dias de descanso, pai e filho deverão voltar para casa, que já está sendo enfeitada pela vizinhança. As surpresas de boas-vindas incluem fotografias do menino ainda pequeno espalhadas por todos os cômodos. Tinton Falls é bem diferente do caos urbano do Rio de Janeiro onde Sean foi criado. É como uma casa no campo, longe do comércio e do burburinho. Goldman já contratou uma psicóloga e um professor de inglês para o garoto e está escolhendo entre algumas escolas da região. Ele ganha a vida alugando barcos turísticos na costa de Nova Jersey – embora, no último ano, sua vida tenha sido apenas brigar pela guarda do filho. Arrecadou dinheiro por meio de um site, ganhou notoriedade e apoio do Senado americano e da secretária de Estado, Hillary Clinton – além de toda a opinião pública de seu país. Depois de ser acompanhada por brasileiros e americanos como novela, a briga pela posse do menino chegou à instância máxima da Justiça brasileira.

No dia 23 à tarde, o Supremo Tribunal Federal determinou que Sean fosse entregue ao pai na véspera de Natal, às 9 horas, no consulado americano. Cinco dias antes, a avó de Sean havia conseguido uma liminar no Supremo, garantindo a permanência do menino no Brasil. Faltava julgar o mérito. Com o recesso da Justiça, a decisão foi apenas do presidente Gilmar Mendes, que derrubou a liminar, encerrando a questão na esfera jurídica nacional. Questões legais à parte, não houve quem não se comovesse com a figura de Sean, vestindo a camisa da Seleção Brasileira, chegando assustado ao local, no meio do empurra-empurra de imprensa e curiosos.

‘‘Quando está no meio de uma disputa, a criança tem medo de escolher um lado e perder o outro’’
ANNE LISE SCAPPATICCI, psicanalista

“O pai tinha direito à guarda, mas o desfecho não precisava ser tão brusco”, diz a psicóloga Eliana Riberti. Pioneira na mediação de conflitos nas varas de família de São Paulo, ela diz que “sobrou jurídico e faltou psicológico” no momento final do caso. Eliana acredita que não será fácil para Sean e David Goldman a reconstrução dos laços afetivos. A convivência nestes mais de cinco anos foi muito pequena. “Minha percepção é que, quanto mais generoso o pai for, mais o filho vai se entregar ao amor paterno. Goldman não pode exigir que Sean apague seu passado. É lá que estão suas referências afetivas”, diz. Ela afirma que as duas famílias devem descobrir uma forma de convívio periódico, pelo bem de Sean.

André Arruda
DERROTA
João Paulo Lins e Silva, padrasto, e Silvana Bianchi, a avó. Eles lutaram na Justiça até o último dia para impedir que Sean partisse

Psicanalista infantil e de família, Anne Lise Scappaticci ressalta, neste momento, a necessidade de um período de exclusividade para pai e filho – mesmo que isso doa na família brasileira. “Qualquer criança vive o que chamamos de conflito de fidelidade: quando está no meio de uma disputa, fica com medo de demonstrar afeto por um dos lados e perder o amor do outro. Ela fica dividida e sofre com isso”, diz. Por isso, para Anne Lise, é hora de uma “atitude salomônica” por parte da família materna, para que Sean possa reconstruir sua vida e voltar a ser feliz. Conta a lenda bíblica que o sábio Rei Salomão recebeu duas mulheres que brigavam, dizendo ser mãe de um mesmo bebê. Vendo que as duas não chegavam a conclusão alguma, chamou um guarda e ordenou: “Corte a criança ao meio e dê um pedaço para cada uma”. Uma das mulheres desesperou-se e pediu que, se fosse assim, era melhor entregá-la à outra. Salomão reconheceu-a como a verdadeira mãe e lhe deu o bebê. Desde que saiu do Brasil, o único contato de Sean com a avó foi uma mensagem no celular. “Nonna, tô muito feliz. Um beijo, tchau.” Neste momento, acreditar no recado do menino e aceitá-lo pode ser uma grande prova de sabedoria – e de amor.

Goldman conheceu a mãe de Sean, estudante de moda, em Milão, onde ele desfilava. Em 1999 se mudaram para Nova Jersey, onde nasceu o filho, em maio do ano seguinte. Em 2004, Bruna embarcou com o menino para uma visita de duas semanas aos pais, no Rio, e não voltou mais. Ligou para o marido pedindo o divórcio e requisitando a guarda definitiva de Sean. O americano revoltou-se, mas só passou a brigar mesmo pelo filho depois da morte de Bruna, em agosto de 2008. Ela havia se casado de novo, com o advogado João Paulo Lins e Silva – da tradicional família de advogados cariocas – e morreu de complicações no parto. Com a ausência da mãe, o direito de Goldman sobre o filho tornou-se mais claro, mas a avó materna, Silvana, e o padrasto, que ajudaram a criar Sean por cinco anos e meio, requisitaram a guarda do menino. Foi aí que o cabo de guerra privado se transformou numa disputa pública, envolvendo a diplomacia do Brasil e dos Estados Unidos. Batalha que, aparentemente, chegou ao fim.

Bruna Bianchi era sócia de Renata Simão numa grife de moda infantojuvenil, a Bisi. Ela cursou Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e fez mestrado em desenho de moda na prestigiada Domus Academy, de Milão, na Itália.

Como vive Sean Bianchi Goldman




ÉPOCA visitou o menino pivô de uma disputa judicial entre Brasil e Estados Unidos, que pode envolver até Lula e Barack Obama
REDAÇÃO ÉPOCA
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 7/março/2009.

Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página.

Álbum de família
BRASILEIRO
Sean posa com uma réplica da taça da Copa do Mundo, com o padrasto e a mãe, em foto da época do mundial de futebol de 2006

Sean Bianchi é um menino bonito, esperto e amoroso, com quase nove anos de idade e dupla nacionalidade: brasileira e americana. Nasceu em Nova Jersey, EUA, mas vive desde os quatro anos no Rio de Janeiro. Não desgruda da nonna (avó, em italiano), anda enganchado nela. Ambos são bronzeados, de cabelos e olhos castanhos. Orgulha-se de ser craque no basquete e "bamba" em Matemática e redação. Não gosta de estudar História. Quando consegue ficar parado, tem mania de mexer nas medalhinhas de seu cordão: uma tem a imagem de Iemanjá; outra, a inscrição Agnus Dei ("cordeiro de Deus" em latim); a terceira, um trevo de quatro folhas; e a maior, fina e delicada, o rosto da mãe.

Sean perdeu a mãe tragicamente, em agosto do ano passado: Bruna, estilista carioca, morreu aos 33 anos, ao dar à luz Chiara. Desde então, Sean consulta uma psicóloga uma vez por semana. Vive em um apartamento de 250 metros quadrados em um condomínio de luxo no Jardim Botânico, junto à Lagoa, no Rio de Janeiro, com varandão, plantas, obras de arte e tapetes antigos. Mora com uma grande família: os avós maternos, Silvana e Raimundo, um tio que é quase um irmão mais velho, Luca Bianchi – ator, surfista e peso-pena faixa-preta de jiu-jitsu. Divide o quarto com o padrasto, a quem chama de pai, João Paulo Lins e Silva. Na verdade, Sean começa seu sono toda noite na cama de casal da avó, e depois João Paulo o encaminha, quase sonâmbulo, para o quarto colorido, com painéis de elefantes e outros bichos na parede. Não dá mais para carregá-lo nos braços, como antes. Jogos medievais no computador e vários esportes, conjugados com o surfe de fim de semana na Praia Rasa em Búzios, compõem a vida de Sean. Além das broncas que leva quando deixa roupas no chão do quarto, Sean é acompanhado nos deveres de casa por uma família que diz querer, acima de tudo, seu bem-estar. Tem sorte. É evidente, para quem passa o dia na casa, que ele se sente amparado mas não mimado, e que preferiria continuar anônimo. Até a mãe morrer, ele era apenas "Shan", "Sam", "Shon", um garoto popular entre os amigos, mas com nome esquisito.

Se tivesse de superar apenas a perda prematura da mãe, Sean Richard Bianchi Carneiro Ribeiro Goldman (seu nome completo) seria um menino privilegiado. Mas ele está no centro de uma disputa judicial rancorosa entre duas famílias – e entre dois países, o Brasil e os Estados Unidos. Uma briga que transcendeu as paredes do lar e se tornou um imbróglio diplomático, um circo internacional, com o rosto de Sean e imagens de seu passado estampados na internet pelo pai biológico, o ex-modelo David Goldman, hoje sócio de uma empresa náutica que organiza passeios.

A família de Sean no Rio só abriu a casa com exclusividade para a ÉPOCA depois de muito relutar, porque o caso adquiriu dimensões políticas e de mídia lá fora. E porque, segundo a versão do padrasto, dos avós e do tio de Sean, o pai biológico, David Goldman, se empenhou, desde a morte de Bruna, numa "campanha de calúnias" contra a família brasileira.

À reportagem de ÉPOCA, a família disse que Bruna não premeditou a vinda definitiva dela para o Brasil. Em férias, no Rio de Janeiro, com o filho, em 2004, ela teria se dado conta de que era tão infeliz no casamento que não adiantava voltar para Nova Jersey. O casamento teria desmoronado, segundo Bruna, por um conjunto de razões: o sexo tinha praticamente acabado, era ela quem sustentava a casa, trabalhava demais, não tinha como crescer profissionalmente, se sentia sozinha. E também porque as brigas eram constantes com o marido - de acordo com o relato de Bruna aos parentes, ele às vezes esmurrava móveis e paredes. Por tudo isso, Bruna teria telefonado pedindo o divórcio. Ela teria pedido também a Goldman que viesse ao Brasil para que discutissem e chegassem a um acordo amigável sobre Sean.

Depois da separação do casal, Goldman abriu um processo contra a ex-mulher e os ex-sogros por sequestro e violação da Convenção de Haia – que dispõe sobre as crianças levadas de um país para outro. Durante quatro anos, o pai biológico abriu mão de ver o filho para sustentar suas acusações. A família brasileira afirma que se ofereceu para pagar a vinda de Goldman ao Brasil para visitar o filho. Segundo a família, essa nunca foi uma opção para Goldman. O pai seguiu a orientação de seus advogados de nunca visitar ou ver o filho, porque sua denúncia de sequestro seria enfraquecida e poderia ser contestada juridicamente. E assim foi por mais de quatro anos. Apenas depois da morte da mãe de Sean, no ano passado, Goldman decidiu ver Sean. E teria aparecido na porta do condomínio onde o filho vive, em companhia de agentes da Polícia Federal brasileira, funcionários do consulado americano e uma equipe da rede de televisão americana NBC. Os policiais revistaram o apartamento mas o menino não foi encontrado. Passava o feriado em Angra dos Reis com o padrasto e amigos. Mas no mês passado, Goldman e Sean se encontraram por dois dias seguidos, com o consentimento do padrasto e dos avós maternos.

Segundo a versão da família brasileira, o pai biológico de Sean teria pedido US$ 500 mil (R$ 1,2 milhão) – o que Goldman nega – para tirar o nome dos avós como "co-autores" do sequestro do menino. O acordo acabou sendo fechado em US$ 150 mil (R$ 360 mil).

O que diz o pai, David Goldman
| 1 | O casamento ia bem, o sexo era regular e ele mantinha o trabalho de modelo
| 2 | O pai até hoje não entende a razão de Bruna ter deixado os Estados Unidos com seu filho
| 3 | A família brasileira impede que o pai veja o filho
| 4 | Bruna e Sean – nascido nos Estados Unidos – viviam bem e ele queria que voltassem ao país
| 5 | Os US$ 150 mil que recebeu fazem parte de acordo judicial para retirar o nome dos ex-sogros do processo

O que diz a família da mãe, Bruna
| 1 | O relacionamento ruiu quando Sean nasceu, o sexo minguou e ela sustentava a casa
| 2 | Bruna não premeditou ficar no Brasil e somente conheceu João Paulo seis meses depois da separação
| 3 | A mãe e os avós maternos de Sean nunca receberam nenhum pedido de David para visitar a criança
| 4 | A vida de Bruna e Sean – com dupla nacionalidade – seria melhor no Rio de Janeiro
| 5 | Goldman explora a imagem da criança e teria pedido US$ 500 mil da família para retirar os avós do processo

A família brasileira afirma que David Goldman falsificou a assinatura de Bruna em alguns cheques que ela deixou nos Estados Unidos. Nas imagens, à esquerda, a letra da brasileira segundo a família; à direita, a supostamente falsa.

 Reprodução

Momentos Sean com o pai, com a meia-irmã, Chiara, e o padrasto e a mãe

Cartas ao Sean
Edição 217 - Abr/09

Uma o chama de filho e está com medo de perdê-lo. A outra não o vê há quase cinco anos e sente saudades. As avós de Sean Bianchi Goldman são a parte feminina do caso desse menino que se tornou alvo de uma disputa jurídica internacional complicada e com contornos trágicos. A convite de Marie Claire, Silvana Bianchi, a avó brasileira, e Elleanor Goldman, a americana, escreveram cartas comoventes ao neto, que completa 9 anos no próximo mês

Faz oito meses que a vida de Silvana Bianchi virou de ponta-cabeça. Desde agosto, quando sua filha, Bruna Bianchi, morreu em decorrência de complicações de um parto. De repente, Silvana se viu responsável por duas crianças: Sean, seu primeiro neto, o filho mais velho de Bruna, e a recém-nascida Chiara. Faz quase cinco anos que a vida de Elleanor Goldman também mudou. Ela, que costumava levar Sean à escola e empurrá-lo no balanço do quintal da casa em Nova Jersey, onde o menino morava, se ressente de ver apenas em fotografias como o neto cresceu. Silvana e Elleanor - ou Ellie, como ela prefere - são as avós de Sean Bianchi Goldman, o menino que vem sendo disputado pelas famílias brasileira e americana.

A história de Sean se tornou conhecida dos brasileiros há alguns meses, quando o pai do menino, o americano David Goldman, intensificou sua luta para ficar com o filho. Sean deixou os Estados Unidos em 2004 e, a partir de então, passou a viver no Rio de Janeiro com a mãe. Mas, desde a morte dela, ele mora com os avós maternos, Silvana e Raimundo Carneiro, em um apartamento no bairro do Jardim Botânico, zona sul carioca. Também moram com ele o tio, Luca Bianchi, o padrasto João Paulo Lins e Silva e a meia-irmã, Chiara - filha de Bruna com o advogado que agora detém a guarda do menino.

A avó brasileira disse que Sean assumiu João Paulo como pai, que foi uma "coisa eleita", do coração do neto. A avó paterna, a americana Ellie, sente saudades e torce pelo término "das complicações" para abraçar o neto novamente. A seguir, as cartas escritas pelas avós.

Momentos Sean com o pai, com a meia-irmã, Chiara, e o padrasto e a mãe
No Brasil Com a avó Silvana, preparando-se
para mais um dia de aula na escola

Meu filho querido,
Tenho um orgulho imenso de ser a sua avó. Sei que está assustado e com medo de ser arrancado daqui. Você é o meu primeiro neto, eu o vi nascer. Temos uma ligação forte, você é minha continuação, é a continuação de sua mãe. Sei que, se for por sua vontade, não corro o risco de perdê-lo. Só que também tenho medo. Depois que sua mãe morreu, que era uma coisa tão impossível e distante, tudo pode acontecer com a gente. Do fundo do meu coração, quero o melhor para você. E, para mim, o melhor é você ficar comigo. Sei que está feliz, que sabe que é o meu filho agora.

São muitas as lembranças, Sean. Quando sua mãe engravidou de você, ela estava apaixonada. A notícia me pegou de surpresa, confesso, mas me deixou feliz. Eu ia ter um neto e chegou você, um bebê forte, comprido, comilão. Durante os quatro anos em que viveu nos Estados Unidos, nós nos víamos a cada dois meses. Largava tudo aqui no Rio para matar a saudade que sentia de você e da Bruna. E, cada vez que eu chegava lá, era uma surpresa. Lembro como se fosse hoje o dia em que você me chamou de nonna [avó, em italiano]. A gente também se falava todos os dias pelo telefone, mesmo quando você era só um bebê. Eu não queria que se esquecesse de mim, da minha voz.

Depois, vocês vieram para minha casa... Sean, não houve sequestro. Você veio para o Brasil com a autorização do David. A acusação que fazem é mentirosa. Quando Bruna decidiu ficar aqui, era um passo sério, mas a nonna não podia ir contra o desejo de sua mãe tentar ser feliz. O casamento dela não ia bem, Bruna vivia com um homem com quem ela não tinha mais afinidades, entende? Ela era jovem, queria refazer a vida aqui no Rio. Eu fiz o que qualquer mãe faria. Apoiei a decisão dela e acolhi vocês dois.

No início, você perguntava por David e seus familiares americanos. Eles também telefonavam, mandavam e-mails, caixas de presentinhos. Mas seu pai nunca veio procurá-lo por uma estratégia dos advogados dele e, aos poucos, criou-se uma lacuna enorme entre vocês dois. O laço foi se desfazendo. Sua mãe tinha adoração por você. Era uma relação de alegria, felicidade. E, evidentemente, ela não largaria você de forma alguma. Bruna conseguiu, em todas as instâncias da lei, a sua guarda. Você conhece bem essa história, Sean.

O tempo passou, e Bruna vivia um período feliz. Tinha encontrado o marido que queria, um sujeito afetuoso, um homem amoroso. João Paulo [o advogado João Paulo Lins e Silva] é uma pessoa com moral, que adorava sua mãe e assumiu você como se fosse filho dele desde o início. E você, Sean, o assumiu como seu pai. Foi uma coisa eleita, uma coisa do coração, da sua alma.

"Temos uma ligação forte, você
é a minha continuação"

Rio de Janeiro, 12 de março de 2009

A nonna estava feliz com vocês por perto, vendo você crescer, andando pela casa, fofo, falante, sorridente. Gostaria de me lembrar só disso, mas agora não dá. Estamos vivendo um pesadelo desde o dia em que sua mãe morreu. Você ainda a viu na maternidade, com Chiara nos braços... Mas ela passou mal, era uma ruptura de útero que não foi diagnosticada a tempo. Sofreu hemorragias enormes e não resistiu. Foi a nonna que contou essa tragédia para você e foi o pior momento de toda a minha vida. Além da dor, minha maior preocupação era que você não se sentisse abandonado, rejeitado. E você não está. Você tem a mim, ao seu avô, à sua irmã, Chiara, e ao seu pai, João Paulo.

Sei que é uma tragédia. Não bastasse isso, agora você virou um troféu. David apareceu depois da morte de sua mãe, depois de cinco anos sem ter contato físico com você. Ele apareceu para dizer que vai levá-lo embora, que tem o mesmo sangue que você. Nunca imaginei viver essa situação. Estou chocada, Sean, porque você é uma criança que tem alma e uma ligação com o Brasil. Rezo para que não exista gente desumana que vá analisar o caso dessa forma, como se você fosse um troféu.

Eu sinto muito falta da Bruna e fico triste quando você chora ao pensar nela. É horrível porque, dessa vez, não posso remediar a situação. Também foi uma perda enorme para mim. O que me dá forças é ver você e sua irmã, Chiara, juntos. Você a adora, eu sei! Quando está na escola, ela olha as suas fotografias que estão no porta-retrato da sala. Outro dia, chorei quando ouvi de você: "Nonna, se me separarem de vocês e da Chiara, acho que vou ficar maluco". Sean, eu sou uma avó italiana, sou a nonna. Nunca vou abandonar você e sua irmã. Termino minha carta aqui, filho, desejando que você possa ter paz e tranquilidade para se tornar um homem bom. Jamais esqueça que a nonna o adora. É simples e é essa toda a sinceridade que tenho por você.

Da sua nonna, Silvana

Nos EUA Foto do último encontro de Sean com Ellie,
dias antes de vir para o Brasil

Querido Sean,
É a vovó Ellie que manda lembranças. Faz muito tempo que falei com você. Tenho enviado cartões para dizer o quanto sinto sua falta e também alguns cartões de Valentine's Day [Dia de São Valentim, celebrado em fevereiro nos Estados Unidos, para comemorar as relações de afeto]. Daqui a pouco, vou mandar cartões de aniversário para comemorar os seus 9 anos. Outro dia vi uma foto sua ao lado de seu pai, David. Você está tão alto, já na altura do ombro dele. Deve estar do meu tamanho! Seu pai me disse que o visitou duas vezes e que vocês conversaram e brincaram juntos. Ele gostou muito do tempo que passou com você. Disse que você joga basquete muito bem. Espero que ele tenha mandado um grande beijo meu.

Sean, sinto falta dos nossos abraços, dos beijos e de brincarmos juntos. Gostava de empurrar você no balanço da árvore em frente à "Casa Sean", como você chamava a sua casa aqui em Nova Jersey. Eu me lembro de quando estávamos no carro e passávamos pela sua rua, em frente à sua casa, e você sempre se empolgava ao ver a "Casa Sean". Depois dizia: "There it is, Casa Sean!" ["Olha lá, a Casa Sean!"]. Você gostava tanto de se balançar naquele balanço que, às vezes, ficava cansada de tanto o empurrar... Você não queria parar nunca!

Recebi outro dia uma ligação da sra. Bobbi, a diretora da sua escola. Ela queria saber como você está e falou que os seus professores esperam por notícias suas. Eles mandam todo o carinho deles para você. A sra. Bobbi se lembrou dos dias em que eu o levava para a escola... Quando ela abria a porta, você se escondia atrás de mim e depois corria, dando uma volta, para tentar assustá-la. Ela me disse que você sempre a assustava! Os professores falaram que você era um bom menino e tinha muitos amigos. Eles também disseram que você era muito bom nos projetos de arte.

Outra brincadeira da qual sinto falta de fazer com você é construir túneis e cavernas com aqueles blocos coloridos que se parecem com grandes Legos. A gente costumava fazer essas construções no chão da sala de sua casa, Sean. Fazíamos para você brincar com seus carros e animais de brinquedo. Às vezes, eu fazia uma torre bem alta, que você derrubava para, logo em seguida, cair na gargalhada porque as peças iam parar em tudo que era lugar.

"Sinto saudades de nossos
abraços e de brincarmos juntos"

Nova Jersey, 12 de março de 2009

Sinto falta de quando fazíamos churrascos em sua casa. Quando isso acontecia, a vovó chamava a sua casa de churrascaria. A gente se divertia muito, e eu fazia o seu prato de massa favorito e levava também milho cozido, de que você gostava bastante. Adorava quando ia me encontrar com você, seu pai e sua mãe para tomarmos café da manhã em algum lugar fora de casa. Amava a sua mãe, ela era a mulher do seu pai, minha nora. Fiquei muito triste com tudo o que aconteceu. Eu me lembro dela falando com você sobre sua nonna, a vovó Silvana. Ela dizia que quando sua nonna fosse para o céu, ela se tornaria uma estrela. Eu agora, então, penso que sua mãe é a estrela mais brilhante que você encontra no céu.

Os seus primos Coltrane e Adison também sentem sua falta. Eles não se esquecem das festas de aniversário e falam até hoje de uma em que você se vestiu de pirata. Falam também de uma outra em que você apareceu como um dos personagens do desenho Os incríveis. Eles ainda não se esquecem de como você gostava de brincar na piscina.

Estive no Brasil, no Rio, uma vez para tentar ver você, mas as coisas ficaram difíceis e complicadas. Então, não consegui. Espero do fundo do meu coração vê-lo em breve quando todas as complicações terminarem para, então, lhe dar muitos abraços. Você era tão pequeninho, mas agora está enorme. Está alto e forte e se parece bastante com o David quando menino.

Beijos e abraços, amo você,Vovó Ellie

Fotos: Arquivo Pessoal (David Goldman)/álbum de família
Foto: André Arruda (Revista Época)
Fotos: Arquivo Pessoal (Eleanodr Goldman)




LAST

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