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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

#lula #dilma : Réu, chamado de “chefe de quadrilha”, pede controle da mídia. Faz sentido!


A Central única dos Trabalhadores promoveu ontem um evento chamado “Democracia e Liberdade Sempre”. Conferiu prêmios a alguns batutas que, a seu juízo, foram expressões nessa área. Entre eles, estava José Dirceu! O encontro também serviu como um desagravo a Dilma Rousseff porque a Central considera que a sua opção, no passado, pela luta armada foi criminalizada. Ué! Achei que ela só tocasse piano e lesse poesia na VAR-Palmares… Não vão me dizer agora que ela pegou em armas e até participou do planejamento de assalto a bancos! Estou chocado! Pois bem: se a patuscada era para celebrar “democracia” e “liberdade”, nada como descer o porrete na “mídia”, certo? Foi o que fez o deputado cassado por corrupção José Dirceu, réu que a Procuradoria Geral da República chama “chefe de quadrilha”.

Pois bem: ele disse que a “mídia” precisa, sim, de regulação, “como existe nos EUA, na França e na Inglaterra”. Mas, ressalvou o agora “consultor de empresas privadas”, há de ser uma regulação adaptada à nossa realidade. Ocorre que a regulação “adaptada à nossa realidade” já existe. Pode até ser aperfeiçoada, mas é uma farsa grotesca essa história de que o setor existe num vácuo legal. A quem interessa essa mentira? Àqueles que, sob o pretexto de nos propor uma “técnica”, querem nos impor uma “política”.

O Zé sempre sempre foi dono de teses um tanto exóticas e tem o seu jeito de trabalhar, não é?, que lhe rendeu a perda dos direitos políticos e lhe conferiu a alcunha de “chefe de quadrilha”. O aspecto mais deletério do que se conhece da proposta do governo é mesmo o “controle de conteúdo”, uma forma oblíqua de instituir a censura no país. O chefão do PT acha tudo isso bobagem e afirmou que as empresas não querem regulação porque temem a concorrência: “Não é uma batalha simples. Vai ter muitas nuances, muitas formas. O que eles [as empresas de comunicação] não querem é concorrência. É o que eles temem. Não é imprensa alternativa, de esquerda ou sindical. É a própria concorrência capitalista”.

Huuummm… Devo entender, então, que Dirceu está empenhado em “manter a concorrência capitalista” no setor. À sua maneira, o governo Lula já faz isso, usando o nosso dinheiro, aquela fatia reservada à publicidade oficial e de estatais. Todos os veículos amigos são generosamente aquinhoados. Há até um galinheiro no fundo do quintal moral do Palácio para sustentar — seja com financiamento direto, seja com triangulações — a guerra suja na Internet. Petistas hoje já se orgulham de “ter” três redes de televisão, duas revistas semanais e dois portais da Internet. Esses são os que a turma tem literalmente no bolso, onde não há risco ser publicada uma informação independente.

O problema é que falta público. No fim das contas, o jornalismo que interessa não se vende, mas vende, e o que se vende não vende: custa caro e não interessa. O leitor, o ouvinte, o telespectador e o Internauta realmente relevantes sabem onde buscar informações e análises — e não costuma ser nos veículos da turma do nariz marrom. E isso os deixa furiosos; inflama aqueles velhos corações leninistas, embora seja hoje um leninismo perfeitamente adaptado ao mercado — não o mercado com regras, mas o selvagem. Em matéria de capitalismo, os petistas também são primitivos.

A abordagem de Dirceu é curiosa porque, até onde se sabe, não há nenhuma proposta para alterar, por exemplo, a presença de capital estrangeiro nas empresas de comunicação, hoje limitado a 30%. Um debate que ainda promete render é que essa limitação não vale para empresas de telefonia, por exemplo, que atuam na Internet, muitas delas prestando serviços jornalísticos, mas sem as limitações impostas às empresas de comunicação propriamente.

E o que José Dirceu tem com isso? Muito mais do que se imagina!

Ele é apontado no mercado como “o” homem, no Brasil, do grupo português Ongoing, que já é dono dos jornais “Brasil Econômico”, do qual o réu e “chefe de quadrilha” (segundo a PGR) é colunista, “O Dia”, “Meia Hora” e “Marca”. Quer agora investir em televisão: a Rede TV e a Bandeirantes estão na mira. Qual é o truque? A Ejesa (Empresa Jornalística Econômico S.A.), que edita esses jornais, tem 70,1% de seu capital em nome de Maria Alexandra de Almeida Vasconcellos, brasileira, mas casada com Nuno Vasconcellos, presidente do Ongoing, que detém 29,9% da Ejesa. Em Portugal, dá-se como certo que é o grupo que comanda esses veículos por aqui. No meio político, o “Brasil Econômico” é chamado “aquele jornal do Dirceu”. Evanise Santos, namorada do réu, é diretora de marketing institucional da Ejesa. O Ministério Público Federal de São Paulo abriu investigação para apurar a atuação do grupo português no Brasil.

O governo quer a “regulação da mídia? Quer, sim! Mas sabe que ela dificilmente sairá como ele deseja. Hoje, o empenho do PT é outro: reforçar a “grande mídia alternativa”, isso que Dirceu chama de “concorrência capitalista” e que não passa de arranjo de cartório.

AS ARMAS
No evento da CUT, Dirceu afirmou que a eleição de Dilma representa a chegada da Geração de 68 ao poder e fez sua leitura sobre o passado. Lamentou que tenha sido a “centro-direita” a fazer a transição democrática: “Uma hegemonia que prevaleceu até a vitória do Lula. E que ainda tem presença nos nossos governos pelas condições e características do nosso processo político.” Também fez sua releitura da luta armada: “Quem pegou em armas foi a ditadura. As armas que a nação entregou às Forças Armadas para defender a Constituição e a democracia, elas usurparam para impor ao País uma ditadura. E foi contra ela que nós nos levantamos e resistimos.”

Há vários problemas aí. Dirceu não teve o papel “heróico” que atribui a si mesmo. Nunca ninguém o viu de arma na mão lutando contra a ditadura. Não que devesse. Mas cumpre não lhe atribuir uma coragem, ainda que doidivanas, que não teve. A centro-direita que fez a transição lhe foi bastante útil. Enquanto ela cuidava da democracia, ele vivia na clandestinidade no Paraná, sob identidade falsa, enganando a própria mulher, Clara Becker, fazendo-a acreditar que ele era Carlos Henrique Gouveia de Melo. Veio a anistia, ele pegou um velho retrato e revelou: “Eu não sou eu; sou outro, este aqui da foto”. E pôs fim ao casamento. Eu me vejo tentado a indagar se ele teria revelado a sua real identidade e desfeito a união sem a anistia. Acho que não! Sua mulher era uma peça involuntária de sua necessidade política da época. No mundo de Dirceu, quem casou com Clara foi o Carlos, não ele…

Não há dúvida de que se implantou uma ditadura no país. Mas é preciso um mínimo de rigor. Não é que Zé e seus amigos não gostassem de um regime de força; eles gostavam, mas queriam outro, não aquele. Não por acaso, quem deu uma nova cara ao rapaz foram cirurgiões cubanos.

Mas de uma coisa ele pode se orgulhar: nunca ninguém conseguiu lhe mudar o caráter.

Por Reinaldo Azevedo



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