Da cadeia, Liu Xiaobao dedica prêmio às ‘almas perdidas’ no massacre da Praça da Paz Celestial, de 1989; sob pressão da China, 16 países não vão ao evento, que pela primeira vez em 75 anos se realiza sem o agraciado ou um representante dele
O dissidente chinês Liu Xiaobo foi premiado ontem com o Nobel da Paz em uma cerimônia realizada em Oslo, na Noruega. Mas uma cadeira vazia marcou sua ausência. De sua cela de prisão, na China, ele dedicou o prêmio às "almas perdidas" no massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989. Irritada com a indicação de Liu, Pequim qualificou o prêmio de "farsa política".
Pela primeira vez em 75 anos, nenhum representante do vencedor compareceu para receber a medalha, um diploma e o cheque de US$ 1,5 milhão. A última vez que isso ocorreu foi em 1935, quando Adolf Hitler impediu que o conde Carl von Ossietzky, preso em um campo de concentração, comparecesse à cerimônia. Destacando a ausência, Thorbjorn Jagland, presidente do Comitê do Nobel, foi ovacionado ao dizer que o fato mostrava o quanto o prêmio era apropriado: "A China precisa estar preparada para receber críticas."
Representantes das mais de 60 missões diplomáticas credenciadas em Oslo comparecem normalmente à cerimônia. Este ano, porém, 17 embaixadores, incluindo os de China, Rússia, Venezuela e Cuba, não foram. Sem ninguém para receber o Nobel, Jagland colocou a medalha e o diploma sobre uma cadeira vazia, onde havia uma foto de Liu sorridente.
O presidente dos EUA, Barack Obama, que recebeu o prêmio em 2009, emitiu uma declaração dizendo que Liu era muito mais "merecedor" do prêmio do que ele foi. "Liu nos lembra que a dignidade humana depende também do avanço de democracia", disse Obama, que pediu a libertação imediata de Liu, preso no ano passado após ser sentenciado a 11 anos por subversão.
Mas Pequim demonstrou irritação desde o momento em que Liu foi indicado, chamou os membros do comitê do Nobel de "palhaços" e suspendeu por tempo indeterminado as negociações comerciais com a Noruega - os dois países não se falam oficialmente desde outubro, quando Liu foi anunciado como escolhido para receber o prêmio.
Esta semana, em Pequim, tapumes foram colocados diante do prédio de Liu para bloquear a visão dos cinegrafistas estrangeiros que ali se aglomeram. A mulher do dissidente, Liu Xia, tem sido mantida incomunicável desde o anúncio do prêmio.
Membros da família e cerca de 300 amigos e conhecidos estão sob estrita vigilância. A censura atingiu também a CNN e a BBC, que tiveram suas transmissões bloqueadas. A vigilância na Praça da Paz Celestial foi reforçada. O esquema de segurança está sendo comparado ao da Olimpíada, em 2008, e ao da cerimônia dos 60 anos da Revolução Chinesa, no ano passado.
Esta não foi a primeira vez que um dissidente famoso recebeu o prêmio. O físico soviético Andrei Sakharov, o líder sindical polonês Lech Walesa e a ativista birmanesa Aung San Suu Kyi também foram laureados e representados na cerimônia por parentes próximos.
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