Meses após a falência do extinto plano Di Thiene, em São Caetano, ex-clientes não são aceitos por operadoras
Clientes do extinto plano de saúde Di Thiene, na Grande São Paulo, ficaram desamparados apesar de a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ter determinado que operadoras recebessem os usuários sem novas carências (período de restrição de atendimento).
A opção para a crise, chamada "portabilidade especial", foi decidida depois que a controladora do plano faliu e o único hospital do convênio, o São Caetano, fechou repentinamente, obrigando o Sistema Único de Saúde da cidade a acolher os que estavam internados - uma situação jamais vista no setor de planos, nas palavras do presidente da ANS, Maurício Ceschin.
Das 24 demandas de ex-beneficiários recebidas pela agência, oito foram solucionadas e 16 ainda estão em apuração.
Preços muito altos para a troca de plano, negativa de entrada de usuários do Di Thiene em outras empresas e falta de orientação deixaram clientes perdidos. O convênio tinha 8 mil usuários, a maior parte idosos.
"Chegamos para a primeira sessão de quimioterapia da minha irmã e disseram que não iam mais atender ninguém", relata a professora Maria Luiza Lenzarini, cuja irmã, Mariúza, tratava um agressivo câncer de ovário.
Somente duas semanas após a negativa, com a intervenção da Secretaria da Saúde de São Caetano, Mariúza foi enviada para a Santa Casa de São Paulo onde passou a se submeter à quimioterapia pelo SUS. A paciente, no entanto, morreu. "O plano estava pago. Trataram minha irmã com descaso".
"É muito complicado, não há a quem recorrer", afirma a gerente de marketing Eliane de Martini, de 49 anos, que preparava-se para fazer uma cirurgia contra a sinusite crônica e encontrou o hospital fechado. "A ANS não sabe orientar. Não consegui a portabilidade. Até hoje não pude fazer a cirurgia", diz a ex-usuária.
Segundo o Procon de São Caetano, pelo menos 678 clientes do plano foram ao órgão por causa de problemas com o Di Thiene. O órgão intermediou a passagem de clientes para outras empresas e afirma ter conseguido sucesso na maior parte, aponta. Negativas de acolhimento sem novas carências foram encaminhadas à ANS. "No caso do grupo Amil, enquanto a Medial (empresa da Amil) aceitou a maioria dos casos, a Amil rejeitou quatro de cinco", diz o diretor Alexandro Guirão.
A professora Márcia Marques relata que a mãe, Judith, de 82 anos, só foi aceita pela Amil via ordem judicial. Ambas estiveram pelo menos duas vezes na operadora para negociar a entrada no plano, mas não deu certo. A Amil já recorreu da decisão. "Não estamos seguras", afirma.
Segundo o Procon, o prazo para que os usuários exercessem a portabilidade especial foi muito pequeno - 30 dias.
Dificuldades. O advogado João Galvez Reis, presidente do conselho que gere a Sociedade São Caetano, controladora do plano Di Thiene, afirma que as dificuldades financeiras já vinham de longa data e reconheceu que não tinha profissionais experientes para administrar a carteira de clientes, formada principalmente por idosos.
O problema da controladora se agravou em 2008,com a crise financeira e a falta de crédito. Outro agravante foi o fato de a São Caetano ter perdido o certificado de filantropia, o que a fez não ter mais isenções fiscais.
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