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quinta-feira, 11 de março de 2010

Na contramão do mundo

Coluna do

Augusto Nunes


11 de março de 2010

“Eu quero que pobre tenha carro também, então nós, prefeitos e governadores temos que construir mais ruas”, começou o presidente que de vez em quanto desce do palanque e aparece no local de trabalho para tratar de manobras eleitorais. Como se só faltasse um automóvel para que sejam instalados no paraíso os indigentes que Lula recebeu embrulhados na herança maldita de FHC mas hoje desfrutam de três refeições por dia.

“Nós temos que fazer metrô, temos que fazer o trem, mas temos que parar com essa ilusão de que fazendo metrô vai tirar o apetite de um pobre ter um carro”, continuou o chefe de governo que deixou de ser pobre há mais de 40 anos, não sabe o que é trabalho duro há mais de 30, não usa metrô, ônibus ou trens comuns há mais de 20, circula precedido por batedores há quase 10 e não enfrenta um congestionamento há pelo menos oito.

“Aqueles que pensam isso têm o seu próprio carro, eles querem que os pobres deixem a rua livre para eles”, concluiu o falastrão sem remédio que, na contramão do mundo, acha que esvaziar os pátios das montadoras é muito mais relevante que investir em transporte coletivo. ”O modelo de transporte individual em veículo de quatro rodas com motor de explosão está condenado”, ensina o médico Paulo Saldiva, especialista em poluição atmosférica. “A solução é o investimento em transporte coletivo”. Lula não sabe disso.

Lula não sabe de nada ─ e Dilma Rousseff anda avisando que vai fazer tudo o que lhe ordenar o mestre que de nada sabe. Ambos ignoram, por exemplo, que quem se move de bicicleta, como Saldiva, chega antes que a turma curvada no banco do piloto. ”O carro é a forma menos eficaz de se locomover na cidade”, informa o médico. “Enquanto nossos antepassados atingiam 16 quilômetros por hora sobre seus cavalos, o carro em São Paulo atinge apenas oito”.

Pobres ou milionários, todos os brasileiros sensatos querem transporte rápido, bom e barato. Deslumbrados em geral, sobretudo novos ricos como os integrantes da família presidencial, esses querem carro, de preferência do ano. Coerentemente, o mais jeca de todos os governantes sonha com um Programa Automóvel para Todos.

Como se não houvesse miseráveis em todos os cruzamentos movimentados de todas as metrópoles brasileiras. Como se não existissem 12 milhões de analfabetos. Como se não faltassem quase 10 milhões de moradias para que todos os brasileiros tenham um teto. Como se a rede de saneamento básico não alcançasse apenas metade da população.

Como se existisse de fato a potência de araque que Lula inventou




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