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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Lula: ‘Dilma agora vai jogar com as próprias pernas’




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Antônio Cruz/ABr

Presidenciável fabricada por Lula a frio, Dilma Rousseff inicia neste sábado (20) uma nova fase. Será formalmente aclamada como candidata do PT.

A proclamação marcará o encerramento do 4º Congresso do PT, que começa nesta quinta (18). O que muda? Vencida a fase dos testes de laboratório, Dilma será agora testada em condições normais de uso.

Há dois dias, em conversa privada com um amigo do PT, Lula disse o que pensa sobre os novos desafios de sua criatura. Recorreu a imagens futebolísticas, bem ao seu gosto.

Disse que escalou Dilma para sucedê-lo. Treinou-a. Forneceu-lhe o uniforme e a bola. Ensinou à pupila as manhas do jogo. Agora, disse Lula, chegou a hora de “entrar em campo”.

No papel de “técnico”, Lula diz que vai permanecer no “banco”, repassando orientações e incitando a arquibancada. Porém, Dilma agora “vai ter que jogar com as próprias pernas”, diz o criador.

A criatura pisa o gramado com cara de jogadora competitiva. Nesta quinta (17), vieram à luz os números de mais uma pesquisa. Foi feita pelo Ibope, por encomenda da Associação Comercial de São Paulo.

A sondagem ratifica a tendência já captada em levantamentos anteriores: Dilma tomou o elevador, achegando-se ao tucano José Serra, seu principal rival.

Num cenário que manteve na disputa Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV), Dilma foi de 17% para 25%. Serra oscilou de 38% para 36% -ainda dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais.

Numa hipotética final de campeonato entre Serra e Dilma, a candidato tucano bica 47% das intenções de voto. Dilma, 33%. Nada mal para alguém que, nos primeiros testes feitos fora do laboratório, obtivera escassos 3%.

O nome de Dilma desceu à proveta em 2007. Nas pegadas de sua reeleição, Lula intuiu que teria de fabricar uma alternativa sucessória. Os nomões tidos como naturais haviam sido moídos pelos escândalos.

José Dirceu, candidato de si mesmo, esfacelara-se nos desvãos do mensalão. Antonio Palocci, em quem o próprio Lula enxergara potencial eleitoral, esfacelara-se nas dobras do extrato vazado do caseiro.

Receoso de que o o petismo se perdesse numa guerra fratricida pelo espólio de seu governo, Lula cuidou de cavar no front partidário a sua própria trincheira. Plantou dentro dela o nome de Dilma.

Com isso, interditou o paiol. Petistas que cultivavam o sonho presidencial –Tarso Genro, por exemplo—foram cuidar da vida. Numa antecipação de calendário nunca antes vista na história das eleições desse país, Lula pôs-se a treinar sua candidata.

Vestiu nela o uniforme de gerente. Repassou-lhe a bola dos grandes programas de seu governo. Cercou-a com um cinturão suprapartidário de apoio.

De resto, levou-a aos pa©lanques, num curso intensivo de campanha que irritou a oposição e informou à platéia que havia uma alternativa oficial na praça.

Lula venceu o nariz torcido do PT. Rebarbou o ceticismo dos adversários. Deu de ombros para a conspiração do linfoma. E produziu a candidata a frio a partir da mistura de doses cavalares de sua popularidade e porções calculadas de pragmatismo político.

Em privado, Lula soa otimista. Onde a oposição enxerga desvantagens, não vê senão oportunidades. Acha que leva a campo uma experiência diferente de tudo o que se conhecia em matéria de candidato à presidência.

“Mulher”, “boa gestora”, “dinâmica”, “biografia limpa”, isenta de máculas morais, “passado de luta” contra a ditadura.

Autoritária? Lula prefere outro vocábulo: firme. Noviça em urnas? Para Lula, uma novidade livre dos vícios normalmente atribuídos aos políticos tradicionais.

Dilma será solta no gramado no sábado. Movendo-se com as próprias pernas e guiando-se pelas orientações do técnico, terá atrás de si uma estrutura que já inclui fonoaudióloga, maquiadora e até consultora moda.

Inclui também um comitê de campanha, por ora informal. Integram-no: Franklin Martins, Antonio Palocci, Gilberto Carvalho e o amigo Fernando Pimentel. Pairando sobre todos, o marqueteiro João Santana, o mesmo que cuidou da campanha reeleitoral do Lula-2006.

No encerramento do Congresso do PT, Dilma discursará para 1.350 partidários. Falará defronte de um megapainel que mistura sua imagem à de Lula. Criador e criatura.

Exercitará as “próprias pernas”. Mas pronunciará discurso dez mãos. No texto, além das digitais da candidata, as de Santana, as de Franklin e as de Luiz Dulci e as de Marco Aurélio Garcia.

Tomada pelo último Ibope, Dilma entra em campo medindo potenciais 33% —o percentual que o instituto atribui a ela no segundo turno.

Em meados do ano passado, o grão-tucano FHC estimara que Dilma cruzaria o Ano Novo rumo aos 30%. É o percentual histórico do PT, ele dissera. Antevira, porém, que desse patamar, não passaria.

Lula faz aposta diversa. Joga para ganhar, não para competir. No sábado, soará o apito. E Dilma começará a expor a musculatura das “próprias pernas”.

Serra, ainda no vestiário, verá crescer o barulho que já soa à sua volta. Ficará mais difícil para o não-candidato tucano manter a tática do esconde-esconde.

- Em tempo: Pressionando aqui, você chega à íntegra do último Ibope. Aqui, vai a um blog do Congresso do PT.

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