Como medida para enfrentar a crise energética, o governo da Venezuela passará a proibir a importação de eletrodomésticos que não possuam sistema de redução de consumo de energia e prometeu multar as grandes empresas que não respeitem o sistema de racionamento que será imposto pelo Executivo.
O novo regulamento para o uso do sistema elétrico foi anunciado nesta quarta-feira pelo ministro de Energia Elétrica, Angel Rodríguez, cuja pasta foi criada esta semana, e pelo ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez.
O ministério de Energia Elétrica poderá pedir às empresas que geram sua própria energia que transfiram o excedente elétrico para o sistema de geração nacional de eletricidade. Caso contrário, o governo poderá intervir nas empresas para controlar a produção energética.
"Se alguém insiste em dar as costas para as necessidades do país, o governo está na obrigação de tomar o controle e cobrir as necessidades do nosso povo", afirmou Rafael Ramírez, em entrevista coletiva na sede do governo.
O governo prometeu aplicar medidas de incentivo para a "autogeração" de eletricidade nas empresas, podendo exonerar seus proprietários do pagamento "parcial ou total" do combustível que for destinado para o funcionamento dos geradores.
Nos próximos dias, deve ser anunciado um programa de racionamento de eletricidade para todo e país, regulando a quantidade máxima de consumo para residências e comércios. As empresas que não acatarem as regras poderão ser multadas.
Economia
Com essas medidas, o governo pretende obter uma economia de 20% de energia, para amenizar a crise do sistema elétrico, “que entrou em colapso”, na opinião do Executivo, pelo incremento de entre 6% e 8% da demanda.
Outro argumento utilizado pelo governo é a escassez de chuvas provocada pelo fenômeno climático El Niño, que teria reduzido a capacidade de geração das usinas hidrelétricas. De acordo com o serviço meteorológico venezuelano, o nível de chuvas no país é o mais baixo desde a década de 40.
Para a oposição, porém, a crise é consequência de falta de investimentos no setor, que foi nacionalizado em 2007.
A falta de água nos reservatórios, levou também à implementação de um sistema de racionamento, iniciado na segunda-feira em Caracas e que poderá se estender a outros Estados do país.
O ministro de Energia e Petróleo também atribuiu ao "desperdício de energia" os problemas elétricos registrados no país nos últimos meses. Nos últimos dois anos, a Venezuela sofreu pelo menos quatro apagões em todo o território e outras falhas na eletricidade localizadas.
Em uma tentativa de amenizar a crise, Chávez aprovou, na terça-feira, 413 milhões de bolívares (US$192 milhões) para projetos do setor elétrico que devem ser aplicados até o final do ano.
Lanterninha no banheiro
Depois de pedir que a população tomasse banho em "três minutos" para evitar o desperdício e economizar água, Chávez sugeriu o uso da lanterna, no lugar de acender a luz, como alternativa para quem levantar à noite para ir ao banheiro.
"Se você levanta às três da madrugada para ir ao banheiro, compadre, por que gastar toda essa luz? Deixe a lanterna ali, na mesa de cabeceira", disse o presidente na noite da terça-feira.
Chávez também orientou a aplicação de um programa de redução do consumo de eletricidade nas instituições públicas.
A partir de agora, os funcionários deverão desligar o sistema de ar-condicionado na hora do almoço e uma hora antes do final do expediente, com temperatura não inferior a 24 graus. Computadores, impressoras, copiadoras e similares deverão ser desligados se não estiverem em uso. As lâmpadas incandescentes terão de ser substituídas por lâmpadas econômicas.
Na segunda-feira, o organismo de documentação de estrangeiros (SAIME), que recebe milhares de pessoas diariamente, já estava em completa penumbra. "Entramos no racionamento, o jeito é economizar", contou um vigilante.
Desde a semana passada, depois que Chávez prometeu cortar em 50% o consumo de eletricidade da sede do governo, ao anoitecer, os arredores do Palácio de Miraflores, permanece em absoluta escuridão.