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domingo, 25 de outubro de 2009

Igor Ferreira da Silva :"Agora acabou tudo"

Em oito anos e meio de fuga, o ex-promotor Igor Ferreira da Silva, condenado pela morte da mulher grávida, chegou a morar em condomínio de luxo e agora foi preso sem dinheiro no bolso

Solange Azevedo e Luiza Villaméa

fotos: JOS E PATRICIO/AE; hei tor hui/ae ; ar te:
CÁRCERE Igor, ao ser preso, em São Paulo: em 2012, ele poderá pedir o semiaberto

"Parece que é filme, não parece real. Agora acabou tudo, não é verdade?" O desabafo foi feito pelo ex-promotor de Justiça Igor Ferreira da Silva, 42 anos, a uma investigadora numa ampla sala da 5ª Seccional, na zona leste da capital paulista. A policial teve vontade de responder que a tarde daquela segunda-feira 19 não era o fim. Era, na verdade, o início do acerto de contas dele com a Justiça.

Mas se manteve calada. Em 2001, Igor foi condenado à perda do cargo de promotor e a 16 anos e quatro meses de prisão pelo assassinato da mulher, Patrícia Aggio Longo, em 1998, e pelo aborto do bebê que ela carregava no ventre. Passou oito anos e meio foragido, na maior parte do tempo, usando óculos escuros e boné para esconder a calvície. Circulou pelo interior de São Paulo e pelo Sul do País. Policiais acreditam que ele também tenha passado pela Argentina e pelo Chile.

A imagem daquele homem com dentes estragados, atordoado e franzino - 50 quilos distribuídos em 1,68m -, sentado diante de um delegado, sepultou o que Igor fora no passado. Durante uma década, ele trabalhou para botar bandidos atrás das grades. Primeiro como delegado, depois como promotor. No Ministério Público, se especializou justamente em acusar homicidas. Igor permaneceu cerca de duas horas na 5ª Seccional, sempre cordato e falando baixo. Assustou-se quando a cadeira de rodinhas em que estava se reclinou demais. Aceitou um copo d'água, dispensou o café. Contou que não suportava mais a vida de fugitivo. "Ele disse que aquilo era um carma", afirma o delegado Nelson Guimarães. "E que tinha esperança de provar sua inocência. Mas que, se isso não acontecesse, cumpriria a pena se fosse a vontade de Deus."

fotos: JOS E PATRICIO/AE; hei tor hui/ae ; ar te:

A prisão de Igor causou mal-estar na Secretaria da Segurança Pública. Na versão da polícia, o ex-promotor foi capturado graças a uma denúncia anônima. "Ele não foi preso, se apresentou. Quem telefonou para a polícia e avisou o local onde ele estaria foi um dos irmãos", diz o advogado Henrique Ferreira da Silva Filho, pai de Igor. Silva Filho afirma que o aconselhava a se entregar havia muito tempo. "Em menos de três anos, ele terá direito de pedir o semiaberto (regime em que os presos dormem na cadeia, mas saem durante o dia para trabalhar). Se ele tivesse feito isso antes, já poderia estar reconstruindo a vida. A questão da culpa, questionaríamos depois." Nessa temporada de fuga, o crime de aborto não consentido prescreveu. A pena de 14 anos pela morte de Patrícia seria somada apenas aos três anos da condenação por porte ilegal de armas.

A defesa de Igor insiste que ele é inocente e que a polícia, por motivos não revelados, ignorou outras possíveis linhas de investigação.

fotos: JOS E PATRICIO/AE; hei tor hui/ae ; ar te:

"O processo tem uma coleção de provas extremamente contundentes", afirma a procuradora de Justiça Valderez Abbud, que atuou no caso. Segundo ela, da lista de provas consta que a família de Igor teria tentado pagar para que um presidiário assumisse o assassinato de Patrícia.





O paletó entregue para a verificação de supostos resíduos de pólvora não foi o que Igor usou no dia do crime. "O exame de balística mostrou que os tiros que mataram Patrícia partiram da mesma arma que disparou 43 cápsulas apreendidas pela polícia na casa de Igor." O ex-promotor costumava recarregar cápsulas usadas para a prática de tiro ao alvo.

fotos: JOS E PATRICIO/AE; hei tor hui/ae ; ar te:
"O meu filho não teve direito a ampla defesa. Vou pedir a nulidade do julgamento
Henrique Ferreira da Silva Filho, pai de Igor

O pai de Igor afirma que o filho não teve direito a ampla defesa. Por ter foro privilegiado, foi julgado por um grupo de desembargadores - e não por cidadãos comuns, no Tribunal do Júri. "Antes de definir se o meu filho era culpado, os desembargadores já discutiam a pena", diz Silva Filho. "Eles fizeram pré-julgamento. Não foram imparciais." Apesar de atender num escritório modesto na zona norte de São Paulo, Silva Filho é um advogado experiente e requisitado. Um de seus clientes, o colombiano Jorge Enrique Rincón Ordoñez, encarcerado no interior do Estado, é considerado um dos maiores traficantes de cocaína do mundo. Ordoñez foi preso no Brasil, no início deste ano, quando comprava dois jatos avaliados em US$ 1 milhão cada um. Os aviões seriam usados para transportar toneladas de drogas ao Exterior.

A defesa de Igor estuda pedir a nulidade do julgamento. E se apoia em testes de DNA para lançar dúvidas sobre as provas colhidas durante as investigações. Meses depois do homicídio, o então advogado de Igor - o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos - pediu a exumação dos corpos de Patrícia e do bebê. A intenção era ratificar que Igor não teria motivos para matar a mulher e o próprio filho e desmentir rumores de que uma suposta traição teria motivado o crime. De acordo com o exame, conduzido por um perito indicado pela Justiça, Igor não seria o pai da criança. "Isso pegou todo mundo de surpresa", afirma a procuradora Valderez. "Até porque seria estranho alguém saber que não é o pai e pedir um exame. Mas há tantos filhos que matam pais e pais que matam filhos que isso não teria importância naquele momento."

Apesar de o teste que excluiu a paternidade não ter sido usado contra Igor no julgamento, tanto a defesa dele quanto a família de Patrícia têm sido contundentes nas críticas ao laudo judicial. Citam resultados de três laboratórios particulares, contratados pela defesa. "O nome da minha irmã foi jogado na lama. Não estou aqui para contestar as provas do processo, porque esse papel é dos advogados do Igor. O que quero é defender a Patrícia", diz o empresário Eduardo Aggio Longo, 33 anos. "Acredito que não foi o Igor que puxou o gatilho da arma que a matou porque não tinha motivos para isso, mas a minha irmã morreu por causa dele. Não sei em que Igor está metido." O pai de Igor afirma que o filho tinha inimigos na polícia e no Ministério Público. Segundo Eduardo, o então cunhado relatara já ter sido ameaçado por homicidas que ajudara a condenar. Mas que nunca havia levado essas ameaças a sério.

A pedido de ISTOÉ, dois geneticistas avaliaram o laudo produzido pelo perito indicado pela Justiça e pelos três laboratórios contratados pela defesa de Igor. "Embora o laudo do perito oficial esteja fora dos padrões atuais e existam inconsistências, provavelmente, se o exame fosse repetido hoje, a exclusão da paternidade seria confirmada", afirma Martin Whittle, médico geneticista pela Universidade de Londres. "Faltou rigor científico-acadêmico ao perito oficial. Não é possível garantir que o resultado apontado por ele está certo nem que está errado. Para termos certeza, é necessário repetir o exame", diz Rodrigo Soares de Moura Neto, professor de genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Patrícia era a mais velha de três filhos. Eduardo conta que a irmã, então com 27 anos, andava feliz com o casamento e a chegada do primeiro bebê. Patrícia e Igor se conheceram na universidade. Ela era aluna de direito, ele professor. Entre namoro e casamento, o casal conviveu durante três anos. Depois do crime, Igor continuou frequentando a casa dos Aggio Longo. Costumava visitá-los às quartas-feiras, depois das reuniões da maçonaria, como fazia enquanto esteve casado com Patrícia. Como fez na noite da quarta-feira fria em que Patrícia e o filho perderam a vida.

FUGA DE ALTO PADRÃO

Quando recebeu voz de prisão, o ex-promotor Igor Ferreira da Silva estava com uma aparência deplorável, sem documentos e sem dinheiro. Essa, no entanto, não foi a realidade do período em que esteve foragido. Pelo menos os primeiros tempos Igor passou na casa número 14 de um condomínio de alto padrão, próximo da Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC). A casa havia sido alugada por um de seus irmãos, o advogado Iudi Ferreira da Silva, de um professor da Universidade Federal de Santa Catarina que viajara para a França. "Esse irmão, aparentemente, estava na cobertura", diz o delegado Renato Hendges, da Divisão Anti-Sequestro da polícia catarinense

Em Florianópolis, Igor andava sempre de boné e óculos escuros. À época, exibia um cavanhaque, mas não vivia escondido. Voava de asa-delta e chegou até a comparecer a uma festa de aniversário na casa de uma família que conhecera ainda na cidade de Atibaia (SP), durante a prática do esporte. Tanto a família quanto o presidente de um clube de asa-delta confirmaram a informação na polícia, que obteve autorização judicial para interceptar duas linhas de telefone usadas por Iudi. Delas, partiram muitas ligações para São Paulo, Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e para o Chile. De um café em frente ao condomínio, o delegado paulista Aldo Galeano Junior, que desembarcou em Florianópolis atrás de Igor, acompanhou o movimento da casa.

"Durante quatro dias, observamos o condomínio e seguimos o irmão do Igor", conta Galeano Junior. "Ele namorava uma moça que trabalhava numa loja de grife do Shopping Beira-Mar." O trabalho, porém, não resultou em prisão. "Quando fizemos a investigação, o Igor já havia decolado", lembra Hendges. Os policiais tampouco conseguiram confirmar que, após sofrer um pequeno acidente de asa-delta, ele teria passado por uma cirurgia no pé no Rio, usando a carteira de convênio do irmão. Assim como ocorreu em Florianópolis e no Rio, em diferentes ocasiões policiais tentaram localizar Igor em outras cidades. "Quando a polícia chegava, ele já havia partido", lembra Marco Antônio Desgualdo, então delegado-geral de São Paulo, o primeiro a receber a informação de que Igor fora visto em Florianópolis. "Ele tinha uma rede de apoio que dificultou sua localização."





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