Obeso espera até uma década por bariátrica
- 19 de novembro de 2011 |
- 23h09 |
Categoria: Saúde
MARIANA LENHAROCom artrite, artrose, pressão alta, esporão e depressão, Maria Oliveira, de 48 anos, espera há nove anos pela cirurgia de redução do estômago, ou bariátrica, na fila para o procedimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Com 120 quilos e 1,65 metro de altura, ela tem dificuldade até mesmo para subir as escadas de casa. E não está sozinha em sua espera por tratamento, que deverá ser iniciado apenas em outubro de 2012, quando ela passará por uma triagem.
Na capital, os obesos costumam aguardar entre três e oito anos pelo procedimento na rede pública – frequentemente, dizem os médicos, morrem antes de conseguir uma vaga. Mesmo quem tem convênio médico enfrenta problemas: a liberação do procedimento, muitas vezes, só vem após intervenção judicial.
O problema já bateu à porta do Ministério da Saúde, que se comprometeu a rever a portaria que regulamenta o oferecimento da bariátrica pelo SUS, segundo apurou o Jornal da Tarde. Uma reunião entre o ministério e as sociedades médicas já está prevista com o objetivo de estabelecer as novas diretrizes. “A nova portaria deve entrar em vigor ainda no próximo ano”, conta o cirurgião Irineu Rasera, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCB).
Para ele, seria importante que fossem adotados critérios mais flexíveis para o credenciamento de centros dispostos a fazer a cirurgia pelo SUS. “O número de leitos para cirurgia bariátrica é pequeno e o procedimento não é atraente em termos de remuneração. É preciso rever a política de credenciamento e remuneração.”
Mais de dez anos após a regulamentação da cirurgia bariátrica pelo SUS, a fila de espera para o procedimento ultrapassa os sete anos na Santa Casa de São Paulo. A situação é a mesma no Conjunto Hospitalar do Mandaqui. Já no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC), a espera varia entre três e quatro anos. O problema, dizem os médicos, é que o paciente obeso nem sempre pode aguardar: no HC, a taxa de óbito na fila de espera pela bariátrica é quase sete vezes maior que o índice de mortes provocadas pelo próprio procedimento.
Com o passar do tempo, doenças associadas ao excesso de peso tendem a se intensificar. A avaliação é do médico Alfredo Halpern, da Associação Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). De acordo com um levantamento feito por ele no Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas, 2,7% dos pacientes morrem à espera da cirurgia – enquanto isso, a média dos que morrem por causa do procedimento é de 0,4%.
Assim como no HC, a mortalidade na fila da Santa Casa também é alta, segundo a percepção dos médicos, embora não exista levantamento oficial sobre o problema. Cirurgião na instituição, Carlos Alberto Malheiros conta que é comum ligar para pacientes que estão na espera há sete anos e descobrir que “eles morreram de enfarte ou de outra comorbidade”. Recentemente, o hospital convocou os mais de mil pacientes da fila de espera para fazer uma avaliação de seu estado de saúde e classificá-los entre graves e não graves. A ideia é, segundo o médico, formar duas filas para que os pacientes graves não tenham de aguardar tanto.
Para Malheiros, o aumento de demanda pela cirurgia nos últimos anos, motivado pelo avanço da obesidade entre a população brasileira, é um dos fatores responsáveis pelas longas esperas. Entre 2006 e 2010, por exemplo, o número de cirurgias bariátricas feitas no País mais que dobrou, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), passando de 29.500 para 60 mil.
Outro motivo que ajuda a explicar a lentidão das filas é o fato de a cirurgia bariátrica exigir uma estrutura pré e pós-operatória muito grande. Além da preparação do paciente por uma equipe multidisciplinar, com endocrinologista, nutricionista, psiquiatra, psicólogo e cirurgião, quem passa pela cirurgia deve receber acompanhamento para o resto da vida.
“O grande funil é este. Não temos um corpo clínico com 20 psicólogas e 15 nutricionistas para acompanhar os pacientes para toda a vida. Fazemos a cirurgia desde 1998, imagine a quantidade de doentes que temos de acompanhar”, diz Malheiros. “É por isso que não se pode fazer um mutirão de cirurgia bariátrica, por exemplo, sem que se tenha estrutura para tratar esses pacientes no pós-operatório.”
Especialistas confirmam a importância do tratamento pré e pós-operatório para os obesos mórbidos. “Todos têm de passar por um preparo endocrinológico, nutricional, psicológico e pneumológico. Tudo isso demanda tempo e equipe”, avalia o cirurgião Almino Cardoso Ramos, diretor de uma clínica particular especializada em cirurgia bariátrica.
Planos dificultam acesso à cirurgia
- 19 de novembro de 2011 |
- 23h59 |
Categoria: Saúde
MARIANA LENHAROAções judiciais contra planos de saúde para exigir o direito de passar pela cirurgia bariátrica se tornaram frequentes, de acordo com a Associação dos Usuários de Plano de Saúde do Estado de São Paulo (Aussesp). Para o advogado especializado em saúde Julius Conforti, os planos costumam impor certas condições que limitam o perfil do paciente candidato à cirurgia.
Uma dessas condições é que o paciente tenha dois anos de tratamento clínico frustrado para emagrecer e estabilização do peso. “É um contrassenso: ninguém ganha peso do dia para noite. Se a pessoa nunca conseguiu ter estabilidade de peso, depois que se torna obeso mórbido, também não vai atingir essa estabilidade.”
Tiane Brites, de 32 anos, conta que a luta para emagrecer foi tão penosa quanto a batalha contra seu plano de saúde. Quando tinha 15 anos, chegou a pesar 145 kg. Mas o convênio da garota alegava que a obesidade mórbida era uma condição pré-existente, estratégia comum, segundo advogados.
“Quando contratei o plano estava obesa, mas não obesa mórbida. Reuni provas, mostrei fotos e o juiz entendeu”, conta Tiane. Operada em 2007, ela exibe hoje um corpo esguio de 60 kg. “Minha saúde hoje é outra. Participo de um grupo de corrida, minha autoestima aumentou e tenho um convívio social totalmente diferente”, garante.
Outra queixa frequente dos pacientes em relação aos planos é o fato de dificultarem o acesso à cirurgia por videolaparoscopia, método menos invasivo. “Os médicos são submetidos a pressão para que não falem sobre a possibilidade desse método”, garante o diretor da Aussesp, Flávio de Ávila.
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