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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Traficantes matam quem joga contra eles no Twitter mexicano





Os cartéis de drogas mexicanos têm forçado jornais e emissoras de televisão a censurar sua cobertura sobre a batalha sangrenta entre quadrilhas rivais em diferentes partes do País. Agora parece que estão mirando um novo fronte: as redes sociais e os blogs.
Recentemente, na cidade fronteiriça de Nuevo Laredo, um teclado, um mouse de computador, fones de ouvido e pequenos auto-falantes foram deixados ao lado da cabeça decepada da blogueira de um site sobre informações do narcotráfico que se auto-intitulava "NenaDLaredo" ou "Garota de Laredo".
Uma mensagem deixada na cena do crime liga o assassinato de Maria Elizabeth Macias a suas atividades na internet no Estado de Tamaulipas e adverte outros usuários de redes sociais que eles podem ser as próximas vítimas. A mensagem era assinalada com a letra Z, símbolo do cartel de drogas Zetas.
Reuters
Policiais ao lado do corpo de um homem depois de um tiroteio nos arredores de Guadalajara, em setembro.
O assassinato parece ser o primeiro caso documentado de um jornalista morto no México por suas publicações na mídia social, de acordo com o Comitê de Proteção a Jornalistas, organização sem fins lucrativos baseada em Nova York e conhecida pela sigla em inglês CJP.
Apenas algumas semanas antes, dois corpos pendurados em uma ponte de Nuevo Laredo também tinham mensagem citando os nomes de três websites. Mas não há indicação até agora de que as vítimas eram blogueiros ou jornalistas.
Um blogueiro no Norte do México levou a sério as ameaças a ponto de desativar seu blog, no qual informava sua identidade. Ele criou outro, agora usando um pseudônimo, de acordo com amigos e colegas também blogueiros.
O México é considerado um dos países mais perigosos do mundo para a imprensa, de acordo com o CPJ. Antes do assassinato da blogueira Macias, seis jornalistas foram mortos somente este ano, sendo pelo menos um dos casos uma represália direta ao trabalho jornalístico, segundo o comitê.
Não é sempre claro, porém, por que alguns jornalistas são assassinados no México. Em alguns casos, eles têm sido mortos porque estão na folha de pagamento de uma quadrilha e então um grupo rival os mata por vingança. Mas, em outros, jornalistas de boa-fé têm sido o alvo.
Independentemente da causa, o efeito tem sido o mesmo: em Estados como Tamaulipas, jornais tradicionais desistiram de cobrir a violência dos cartéis de drogas. Para a comunidade, sites de relacionamento como o Twitter e o Facebbok são frequentemente o único meio de encontrar informações sobre tiroteios nas ruas.
Há "hashtags" — aqueles termos usados no Twitter para definir assuntos — como #AcaFollow, para informações sobre crimes em Acapulco, ou #MtyFollow, para as atividades dos cartéis na cidade de Monterrey. Os colaboradores vão de jornalistas profissionais a donas-de-casa que se tornaram especialistas nas táticas dos cartéis.
À medida que os cidadãos tentam substituir o vácuo deixado pela mídia tradicional, eles estão sendo pressionados também pelo governo. No Estado de Veracruz, no leste do México, uma professora e um jornalista free-lancer foram presos por um curto período no mês passado por publicarem mensagens no Twitter e no Facebook sobre ataques de um cartel que depois se verificou serem falsos. As autoridades alegaram que as mensagens fizeram com que pais em pânico fossem às pressas para a escola, provocando uma série de acidentes de trânsito.
Depois de se verem diante da possibilidade de serem presos por 30 anos, sob a acusação de terrorismo e de terem provocado pânico, a jornalista free-lancer Maria de Jesus Bravo e o professor Gilberto Martinez foram libertados e as acusações contra eles, retiradas. Paralelamente, o Estado de Veracruz aprovou uma lei contra a desestabilização da ordem pública, com pena máxima de quatro anos de prisão e/ou multa.
Macias, a blogueira assassinada, contribuía regularmente e moderava um fórum na internet chamado "Nuevo Laredo en Vivo". O site promovia discussões ao vivo sobre a guerra das drogas, fornecendo informações em tempo real sobre os confrontos entre quadrilhas da cidade. Ele incentivava as pessoas a enviar qualquer dica sobre os cartéis para o Exército e a Marinha do México.
A última mensagem publicada por Macias pedia a seus seguidores para enviarem informações sobre o cartel de Zetas. "Caçando ratozzz, se vocês virem um, os denunciem." O uso da letra z no lugar do s no México é uma forma comum para se referir à quadrilha dos Zetas.
Apesar de seu assassinato, o site de Macias continua operando desafiadoramente e criou um hashtag para Garota de Laredo, para que as pessoas continuem escrevendo sobre as atividades dos cartéis em seu nome. Na sexta-feira, o site estava cheio de informações sobre tiroteios, assim como mensagens pedindo para que as pessoas não tivessem medo de denunciar as quadrilhas de traficantes. "Há mais cidadãos honestos do que bandidos, então não vamos desistir", dizia uma mensagem anônima.
O assassinato de Macias ampliou o crescente debate no México sobre o papel da internet na guerra das drogas. Blogs e redes sociais como o Twitter têm sido elogiados por servirem como uma fonte alternativa de informação para os mexicanos. E a natureza de tempo real dos sites pode ajudar as autoridades a chegar aos tiroteios entre as gangues rivais enquanto eles ainda estão ocorrendo.
Mas a internet também tem sido uma ferramenta útil para as quadrilhas de traficantes, que frequentemente publicam vídeos horríveis de decapitações e outros crimes apavorantes para ameaçar rivais e amedrontar autoridades. Em algumas cidades mexicanas, as autoridades acreditam que as quadrilhas começam rumores sobre ataques prestes a acontecer e os espalham pelas redes sociais para assustar a população.
"Esses sites podem ser usados para disseminar informações, mas também podem ser usados pelas quadrilhas de tráfico para espalhar medo ou coletar informações sobre o que a sociedade pensa, monitorando os comentários. Se um site ou outro está sendo usado por um ou outro grupo, isso pode ser um risco", diz Guadalupe Correa, professora da universidade Texas-Brownsville, que estudou as redes sociais em Tamaulipas.











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