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domingo, 24 de julho de 2011

''Atual posição brasileira é perturbadora''


O Estado de S. Paulo - 24/07/2011

Para o nº 2 do governo israelense, Brasil apoiará inciativa palestina na ONU porque não entende a natureza do conflito

Antes de entrar na política, Moshe Yaalon foi diretor da inteligência militar e chefe do Estado-Maior - mais alto cargo na hierarquia das Forças Armadas - de Israel. Em 2008, filiou-se ao partido de direita Likud. Além de vice do premiê Binyamin Netanyahu, Yaalon é ministro de Assuntos Estratégicos.

O Brasil reconheceu o Estado palestino e apoiará Ramallah na ONU. Como o sr. vê isso?

A posição brasileira é perturbadora e reflete uma série de equívocos sobre a essência do conflito. Há aqueles que acreditam que a disputa só é territorial e iniciou-se no ano de 1967. Ela seria resolvida, portanto, com base nas fronteiras daquela época. Mas o conflito não começou em 1967. A rejeição árabe ao Estado judeu é anterior. E eles ainda não estão prontos a reconhecer nosso direito de existência. É essa a essência do conflito.

Isso se aplicaria também à Autoridade Palestina de hoje?

Claro. Os árabes rejeitaram todas as propostas de divisão: em 1937, em 1947 e em 2000, quando o premiê Ehud Barak apresentou um plano de paz completo e Yasser Arafat, novamente, disse "não". Em resposta ao último discurso de Netanyahu nos EUA, Abu Mazen (presidente Mahmoud Abbas) discursou à Liga Árabe dizendo "nós nunca reconheceremos Israel como Estado judeu". Que fique claro: não aceitaremos o retorno dos refugiados palestinos de 1948.

Mas esses dois temas, a natureza judaica de Israel e o direito de retorno palestino, não podem ser objeto de uma negociação?

De uma negociação franca, certamente. Refugiados podem ser assentados nos EUA, na entidade palestina, ou em outro lugar. Mas a questão é que, até hoje, eles se recusam a nos reconhecer. Essa má compreensão domina o discurso internacional, incluindo o do Brasil.

O sr. acredita que a iniciativa palestina na ONU, em setembro, mudará a situação aqui?

Isso é um instrumento para nos ameaçar, não uma verdadeira opção política. Essa posição unilateral é apoiada por certos países - incluindo o Brasil - para arrancar concessões de Israel.

O Sr. chama de "unilateral" uma iniciativa que deverá ser apoiada por cerca de 130 países na ONU? Não é estranho?

Infelizmente, há uma maioria automática na ONU em relação a qualquer resolução contra Israel. Somos um Estado judeu diante de 22 países árabes e 50 islâmicos. É imoral e, se de fato ocorrer, muito perigoso, mas muitos países, por interesses políticos, votarão a favor. Se Abbas um dia conseguir um Estado sem negociar com Israel, ele terá de enfrentar sozinho o Hamas. Sabemos como isso terminou em Gaza. Pergunto: será que isso é do interesse de algum país, incluindo o Brasil? Abbas deve vir à mesa de diálogo, não há atalhos para a paz.

Mas o Sr. aceita uma proposta de paz com base em dois Estados nas fronteiras pré-1967, discutindo-se o tema dos refugiados e de Jerusalém?

Apoiei o acordo de Oslo. Acreditei que seria possível chegar a um pacto e, então, viveríamos em paz. Mas, ao entender que Arafat, naquela época, e Abbas, hoje, não estão prontos para reconhecer nenhum tipo de Estado judeu, mudei minha percepção. A autoridade Palestina aceita a idéia de dois Estados, mas não de dois povos. No símbolo da OLP, a bandeira palestina está sobre todo o território de Israel. Por quê? Não assinamos um acordo em Oslo?

E se os palestinos reconhecerem Israel como Estado Judeu, o atual governo israelense aceitaria um acordo?

Claro. Não queremos governá-los e desejamos contar com um vizinho confiável. Mas essa não é a realidade hoje. Temos esse “Hamastão” (Gaza), de onde civis israelenses têm sido repetidamente atacados. Agora, esse grupo (o Hamas) fará parte do governo palestino. Reconhecer o “Hamastão” vai ao encontro dos interesses de países como o Brasil? De jeito nenhum.







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