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Em uma semana, 124 presos, 148 detidos, 37 mortos em confronto, 215 armas e 178 artefatos explosivos apreendidos e 103 veículos incendiados, além de quatro policiais baleados. Este foi o saldo das operações das forças de segurança no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, entre os dias 22 e 30 de novembro, de acordo com a Polícia Militar.
O único número que não foi divulgado até o momento é o de desaparecidos na região que era considerada o Quartel General (QG) da facção criminosa Comando Vermelho (CV) – possuindo acessos pelos bairros Penha, Bonsucesso, Ramos, Olaria e Inhaúma e composta pelos morros do Alemão, da Baiana, do Adeus e dos Mineiros e pelas favelas Vila Cruzeiro, Alvorada, Matinha, Nova Brasília, Pedra do Sapo, Palmeiras, Fazendinha, Grota, Chatuba, Areal e Chuveirinho.
Moradores do Complexo do Alemão afirmam que alguns corpos foram retirados do local dentro de veículos blindados, mas denunciam que ainda há vários – principalmente na localidade conhecida como Vacaria, que fica entre as favelas Vila Cruzeiro e Chatuba.
O PAUTA DO DIA conseguiu entrevistar, com exclusividade, um jovem que integrava a quadrilha responsável pela venda de drogas na região. Aos 18 anos de idade, ele era um dos soldados do tráfico e recebia R$ 500 por semana para impedir invasões de facções rivais e retardar a aproximação de viaturas para que os chefões conseguissem fugir, no caso de incursões policiais.
Como, além de não ter antecedentes, não fazia parte da liderança e nem ocupava função importante na quadrilha – que, segundo ele, tinha centenas de integrantes – não foi identificado pela Polícia e não possui mandado de prisão.
“Quase morri. Tive a maior sorte. Larguei as peças (armas) e consegui chegar em casa”, relembrou.
“Perdi minha parada toda. Geral perdeu tudo e nem todo mundo conseguiu escapar com vida. Dei sorte de passar batido e conseguir chegar em casa vivo”, disse.
Ele confirmou a denúncia de moradores de que muitos traficantes saíram do conjunto de favelas em viaturas policiais – tanto da Polícia Civil como da Militar, inclusive no blindado.
“Quem tinha dinheiro pra perder saiu vivo”, afirmou.
Um dos criminosos que teria conseguido ajuda policial para fugir do Complexo do Alemão é o traficante Alexandre Mendes da Silva, o Polegar ou Paraibinha, 35 anos. A informação foi repassada, através de telefonema anônimo, ao Ministério Público. Na ligação, o denunciante informou que o bandido havia sido levado para a Região dos Lagos e deu, inclusive, a placa do automóvel – um Gol preto. Após levantamento, descobriu-se que a placa era de uma viatura descaracterizada da 126ª DP (Cabo Frio).
“Demos prioridade à essa denúncia, pois ela trouxe elementos robustos. A informação do destino bate com a origem dessa viatura”, ressaltou o ouvidor-geral do MP, promotor Gianfilippo Pianezzola, que recebeu a denúncia e a encaminhou à 1ª Central de Inquérito do órgão, setor que assumiu as investigações sobre o caso.
A fuga de Polegar teria ocorrido no dia 26 de novembro. Dois dias depois, o blindado do 16º BPM (Olaria) também teria sido usado como táxi por criminosos. A Corregedoria da PM investiga viagens realizadas pelo veículo, sem autorização, do Complexo do Alemão até o Morro do Chapadão, na Pavuna, também na Zona Norte. O trajeto foi percorrido várias vezes, do início da noite do dia 28 até às 5h do dia seguinte.
Caso seja comprovado que os PMs de plantão naquele horário auxiliaram na fuga de bandidos, como os dois traficantes mais procurados atualmente no Estado do Rio – Fabiano Atanásio da Silva, o FB, 33 anos, e Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, 31 – todos podem ser expulsos da corporação.
Os corpos dos muitos que não conseguiram escapar com vida ou não puderam pagar para fugir também estariam espalhados pela Serra da Misericórdia – que liga a Favela da Vila Cruzeiro ao Morro do Alemão e por onde a tentativa de fuga de centenas de traficantes foi flagrada por imagens aéreas de emissoras de televisão.
“Tem muita gente desaparecida. Ficamos sabendo que os policiais vão esperar passar alguns meses e depois vão falar que encontraram um cemitério clandestino. Só que esses mortos foram eles que deixaram”, revelou o soldado do tráfico.
“Os policiais interditaram uma parte do Areal. Ninguém pode passar por lá. Não dá pra ver, mas o cheiro está forte. Na Vacaria, os porcos já comeram muitos corpos. Mais de 100 irmãos foram mortos”, garantiu.
Além das mortes, que representam perda para a quadrilha que antes era conhecida como “Bonde do Trem Bala”, o prejuízo financeiro com a apreensão de armas e drogas provocou racha entre os líderes da facção.
“Deu o maior caô. O FB queria matar o Faustão e o Branquinho e chegou a sair no tapa com o Mica”, disse, referindo-se ao chefe do tráfico na Vila Cruzeiro – FB – e aos traficantes Ricardo Severo, o Faustão, 31, e Tássio Fernandes Faustinho, o Branquinho, 26, que seriam os números 2 e 3 na hierarquia da quadrilha na localidade.
Os dois foram presos na madrugada do dia 27 de novembro ao tentar furar um bloqueio na Rua Canitá. Enquanto Branquinho foi baleado na coxa, Faustão foi atingido na barriga. Os dois receberam atendimento médico no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e foram liberados horas depois, sendo transferidos para a Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná.
“Eles preferiram se entregar para não acabarem mortos”, ressaltou o soldado do CV.
Já o traficante Paulo Roberto de Souza Paz, o Mica ou MK, 32 – amigo de infância do jogador Adriano, que teria comprado uma moto no valor de R$ 35 mil e registrado em nome da mãe do criminoso – ficou famoso após condenar quatro comparsas que atearam fogo em um ônibus matando cinco pessoas, em novembro de 2005. A idéia do ataque foi de Anderson Gonçalves dos Santos, o Lorde, em represália à morte de um comparsa, no Morro da Fé, na Penha.
O quarteto que participou do crime foi executado por Mica e os corpos foram deixados próximo à extinta Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), no Grajaú, também na Zona Norte do Rio. Preso meses depois, Lorde foi condenado a 444 anos de prisão.
“Estão falando que o FB não tem mais vez aqui. Os cara do Jacaré estão boladão porque deixaram prender o Lambari (Marcos Vinícius da Silva) e a Sandra Sapatão (Sandra Helena Ferreira Gabriel). Tem uns mano na Nova Holanda que vão mandar umas paradas pra cá pra ver se dá pra abrir a boca só de noite”, revelou.
“Acho que nunca mais a Penha e o Alemão vão voltar a ser o que era. Foi perda total”, finalizou.
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