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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mônica Bergamo : Olha, sou tudo, menos serrista.


Revista Imprensa » Edição 230 (Dez/2007)



Mônica Bergamo: "Já me chamaram de tucana e de petista"

Por Pedro Venceslau. Fotos: Adolfo vargas e Guilherme Perez

A jornalista Mônica Bergamo fala como pensa e trabalha: rápido e muito. Para manter vibrante a sua coluna na "Ilustrada", da Folha de S.Paulo, onde é titular desde 2000, quando substituiu Joyce Pascowitch, ela nunca fica fora do ar. Antes do colunismo, Mônica foi repórter da Folha, Veja, PlayBoy e diretora da Band em Brasília. A entrevista completa está na edição de dezembro da revista IMPRENSA. Aqui você confere um aperitivo da conversa.



IMPRENSA- Você é festeira?
Mônica Bergamo- Sou, mas só gosto de festa com jornalista. Nas outras a que eu vou, pego a nota e volto. No jantar da rainha Sílvia, da Suécia, que foi uma super, hiper, megafesta, sentei ao lado do Fernando Arruda Botelho [acionista do Grupo Camargo Corrêa] e perguntei: "Como está essa coisa dos espanhóis?". Ele falou: "Os espanhóis vão arrebentar os empresários brasileiros". Deu primeira página. No outro dia, fui a um jantar onde estava o vice-presidente da GM. Eu não sabia direito o que perguntar, então pensei: "Bom, os empresários, com o Brasil a mil, estão buscando financiamento". Então cheguei nele e perguntei: "Qual seu pleito no BNDES?". Ele respondeu: "R$ 650 milhões". Estou sempre procurando arrancar.

Na sua coluna, você costuma contar alguns diálogos ou detalhes dos bastidores que, às vezes, são hilários, mas revelam coisas que a fonte nem sempre gostaria que fossem publicadas...
O quê, por exemplo?

A Juliana Paes pediu para não contar que a unha dela é postiça porque é garota-propaganda de uma marca de esmalte, a Colorama...
O jornalista é como padre. Se a pessoa pede off, eu respeito. Agora, se você vê que a Mônica é uma colunista que se veste mal, por que não colocaria isso na matéria? Não tem sentido que eu peça para você escrever que eu me visto bem.

A Heloísa Helena pegou pesado quando chamou você de desqualificada?
Na sabatina da Folha, o jornalista Valdo Cruz perguntou se era verdade que ela tinha votado contra a cassação do Luiz Estevão. Ela respondeu: "Disseram até que eu dormi com o cabra... Não durmo com homem rico e ordinário. Eu vomito em cima". No dia seguinte, o jornal me mandou ouvir o Luiz Estevão. Ele disse: "Se ela teve alguma ânsia de vômito comigo, ela engoliu". A Heloísa Helena não está blindada à resposta de outra pessoa. Foi ela que trouxe esse assunto a público em uma sabatina da Folha de S.Paulo.

Vive muitos dilemas éticos na coluna?
A Folha é muito bem-resolvida nesse aspecto. Sabemos que os leitores se interessam por notícias sobre a vida pessoal das pessoas públicas. Os casos extremos de separação e doença publicamos com o consentimento da fonte. Uma vez, quando o Arnaldo Antunes se separou, uma pessoa muito ligada a ele, em off, confirmou a história. Mas foi ele ou o melhor amigo que se separou? Então não demos. E se ele ainda não tivesse avisado à mãe e aos filhos?

Você publicaria a foto de uma personalidade casada na praia com uma amante? Ou o furo de uma briga conjugal?
Não. Vou dar um exemplo. Eu sempre soube que Caetano Veloso e Paula Lavigne estavam brigando e se separando, mas não falei nada na coluna. É uma regra daFolha. No dia em que se separaram de vez, ele me mandou um e-mail contando. Foi um puta furo. Agora, veja bem, isso não significa que eu não adoreee publicar esse tipo de nota... (risos).


Em 1994, quando você trabalhava na Veja, foi escalada para ir a Portugal entrevistar a jornalista Miriam Dutra, da Globo, que teria um filho com o Fernando Henrique. Por que essa matéria não saiu? Por que, na sua opinião, o filho dele fora do casamento nunca foi notícia?
Existe uma tremenda falsa polêmica nessa história. Como você sabe que ele tem [um filho fora do casamento]? Quem te falou isso?

A revista Caros Amigos...
E quem falou para a Caros Amigos?

Ninguém desmentiu.
Ninguém desmentir é uma coisa. Outra coisa é afirmar. Nunca ela falou publicamente que o filho é dele. O FHC também nunca falou sobre isso. Quando eu trabalhava na Veja, a revista fez o oposto do que pensam e mobilizou seus repórteres para esclarecer a história. Fui enviada a Portugal, onde ela morava. Sentei na frente da Miriam, liguei um gravador e fiz perguntas que, atualmente, talvez eu não fizesse: "Ele é o pai do seu filho? Quem é o pai do seu filho?". Hoje, com 40 anos e uma filha, eu não faria da mesma forma. Fui pitbull. Ela falava: "Eu não vou dizer. Nem o pai do meu filho pode dizer isso. Nunca vou dizer". Não é que a imprensa protegeu e não foi investigar. A Vejafoi... eu fui checar a história. Investigamos documentos, fomos atrás da família dela. E nada autorizava a publicação da matéria. Isso me faz lembrar de outro caso como se fosse hoje... Quando disseram que o Maluf tinha uma filha, fui à casa da menina. Achei que ela era a cara dele. Todo mundo achava. No final das contas, não era.

Mas a Lurian, filha do Lula, rendeu várias matérias em 1989...
Espera aí... A Lurian foi registrada desde o dia que nasceu como filha do Lula. Ela e a mãe falaram com o repórter que fez a matéria. Depois virou uma baixaria de campanha, mas não é certo dizer que a imprensa publicou a filha de um, mas não a de outro.

A Caros Amigos errou ao publicar essa história?
Eles têm todo o direito de chegar às conclusões a que chegaram. Mas o que fizeram foi entrevistar os jornalistas sobre uma fofoca que existia e a própria Miriam, que disse que não responderia. Se a Mônica [Veloso], mãe da filha do Renan, não tivesse falado nada de sua vida pessoal, garanto que a Folha não teria publicado.

Então você não colocaria na coluna a notícia sobre um político ter uma amante ou uma filha fora do casamento, mesmo que esse político fosse o presidente?
Jamais... Não há interesse público nisso. Meu pai casou cinco vezes. Alguns desses casamentos foram concomitantes. Eu sei o que é isso. Esse assunto só interessa ao núcleo familiar. A Mônica Veloso decidiu resolver dessa forma.

Você já foi chamada de petista?
Já me chamaram de tucana e de petista. Em época de campanha as coisas ficam muito burras. Ou você é petista ou é tucana.

Foi mais chamada de petista ou de tucana?
Colocamos [na coluna] muita foto de tucano. Por quê? Porque eles freqüentam mais as festas em São Paulo. Olha, sou tudo, menos serrista. No entanto, o governador vai muito a festas. Fazer o quê? Quando a Marta era prefeita, também saía muito e, conseqüentemente, aparecia mais na coluna. O Kassab está em todas, não perde uma festa. Já Lula, Palocci e Zé Dirceu não costumam sair muito. Os jantares dos petistas são menores, mais reservados. Eles não são de aparecer em lançamento de livro e shows, por exemplo.



Mônica Bergamo

Mônica Bergamo

@monicabergamo São Paulo
jornalista

16/10/2010

às 7:31

Campanha suja chega ao fundo do poço - Mônica Bergamo resolveu ser o Collor da Mirian Cordeiro da hora

O debate que interessa — e que foi primordialmente feito pelos cristãos — nunca satanizou as mulheres que fizeram aborto. A questão é de natureza legal. A candidata Dilma Rousseff, do PT, defende a descriminação da prática e integrou um governo que atuou fortemente nessa direção. Ninguém saiu por aí tentando saber se A ou B fizeram aborto.

Há alguns dias, Elio Gaspari escreveu que estavam ressuscitando Mirian Cordeiro — ex-namorada de Lula e mãe de Lurian —, que deu um depoimento no horário eleitoral de Fernando Collor em 1989 afirmando que o petista a havia pressionado a abortar. Muitos atribuem a isso a derrota do petista, o que é bobagem. Mas o episódio ficou conhecido como símbolo da baixaria em campanha. Em 2010, a questão é bem outra: o governo Lula, especialmente o Ministério da Saúde e a Secretaria das Mulheres, é pró-aborto. A candidata oficial assim havia se posicionado. O debate é legítimo. Se ele beneficiou ou não Serra, aí são outros quinhentos. A pesquisa Datafolha diz que é beira a irrelevância.

Há dias circula na Internet petista a afirmação de uma ex-aluna de Monica Serra, Sheila Canevacci Ribeiro, segundo quem Mônica Serra teria confessado ter feito um aborto quando no exílio, nos EUA. Mônica Bergamo, colunista da Folha, acreditem!, decidiu fazer disso uma “reportagem”, publicada no jornal de hoje. A campanha suja, que teve início com a formação daquele bunker em Brasília para produzir um dossiê contra José Serra, chega ao fundo do poço.

Sheila votou no PSOL e optaria por Dilma no segundo turno — não vai votar porque em viagem. Para caracterizar a Mirian Cordeiro da hora como alguém de credibilidade, até um tanto atucanada, escreve Bergamo: “Sheila é filha da socióloga Majô Ribeiro, que foi aluna de mestrado na USP de Eva Blay, suplente de Fernando Henrique Cardoso no Senado em 1993. Majô foi pesquisadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP, fundado pela primeira-dama Ruth Cardoso (1930-2008). Militante feminista, Majô foi candidata derrotada a vereadora e a vice-prefeita em Osasco pelo PSDB.”

O truque consiste em caracterizar Sheila, eleitora do PSOL e de Dilma, como alguém do, digamos, campo da vítima, que passa, assim, a ser um tanto culpada pelo mal que a atinge. Bergamo diz que a assessoria de Mônica Serra não se manifestou. Estranho. A questão me parece grave o bastante para ser assim. Vamos aguardar as próximas horas.

É o fundo do poço!
Elio Gaspari, que andava em busca da Mirian Cordeiro da hora, já a encontrou. Chama-se Sheila. E quem lhe dá voz é uma colega sua, do jornal. Nunca se soube se Lula pediu àquela senhora que fizesse ou não o aborto. O fato é que Lurian estava vivinha da Silva, e absurdo era o seu depoimento. Como absurda é a “denúncia” da tal Sheila — afinal, ainda que fosse verdade, tratar-se-ia do rompimento de uma relação de confiança, em assunto privado.

Reitero: ainda que fosse verdade, e duvido que seja, qual é a diferença entre a execrada Mírian Cordeiro e a tal Sheila? Nenhuma! Há uma diferença nesse caso: em 1989, Collor não contou com o “jornalismo” para ajudá-lo. Desta feita, os adversários de Serra contaram com Mônica Bergamo.

É uma norma nova?
Estamos agora diante uma norma? Tudo o que “A” disser sobre a vida de “B,” desde que “B ” seja uma pessoa pública, deve ir para os jornais, e “B” que se encarregue de dizer que é mentira? A coisa é tão absurda que ficamos assim: se Mônica Serra desmentir, será a palavra da dona do útero contra a da não-dona. Em quem acreditar? Pergunto: se Mônica Bergamo tivesse conseguido falar com Mônica Serra e se esta tivesse negado ter feito o aborto, a matéria não teria sido publicada? Vocês sabem a resposta. Teria, sim!

O poder destruidor da vítima
Acima, escrevi um texto sobre o poder destruidor que têm as supostas vítimas e o vitimismo. Em que ele consiste? Fulano inventa que está sendo alvo de uma grande conspiração, que está sendo severamente agredido por este e aquele e, então, consegue a licença (a)moral para praticar as coisas mais sórdidas.

Parte da imprensa considera que o debate sobre o aborto ilegítimo — debate que, insisto, começou a ser travado na sociedade, especialmente nas igrejas. Dilma Rousseff colocou-se como “vítima”. Nessa condição, pôde, então, iniciar a série de ataques aos tucanos, especialmente com as mentiras sobre as privatizações. Essa mesma parcela da imprensa é solidária a ela; acredita que, se Dilma pode ser cobrada sobre a defesa que fez da descriminação do aborto, então tudo é permitido. Na suposição de que o outro delinqüiu primeiro, então se parte para a delinqüência.

O golpe é baixo. É o fundo do poço. O fato de Serra ter encostado em Dilma nas pesquisas deflagrou, agora sim, a verdadeira guerra suja: aquela travada em certa imprensa. Ela não conhece limites. E algo me diz que ainda não vimos tudo.

A questão merece uma resposta política e legal. Com efeito, não via nada assim desde Mirian Cordeiro. Mas ela, ao menos, estava no horário político do PRN.

Por Reinaldo Azevedo

LAST

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