Primeiras análises do IML afastam possibilidade de fogo ou explosão; suspeita é de mortes por politraumatismo
Bruno Tavares
A perícia inicial permite ainda afastar, pelo menos por ora, a possibilidade de fogo ou explosão na aeronave, uma vez que não foram detectadas queimaduras em nenhum dos corpos. O resultado das necropsias deve ajudar o Escritório de Investigações e Análises para a Aviação Civil da França (BEA) a traçar a provável dinâmica do acidente, sobretudo se as caixas-pretas não forem encontradas.
Embora os corpos tenham sido resgatados relativamente íntegros, quase todos apresentavam múltiplas fraturas - nos membros superiores, inferiores e na região do quadril. Os exames que servirão para atestar a "causa mortis" começaram a ser feitos na manhã de ontem pelo Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife. Mas, diante das evidências, tudo indica que tenha ocorrido politraumatismo ocasionado pelo choque com a água em alta velocidade. A possibilidade de afogamento, o que indicaria uma morte posterior à queda do avião, não havia sido verificada até a tarde de ontem. Nos cadáveres, não havia água nos pulmões - o que caracterizaria o afogamento.
Além do estado geral dos cadáveres, a tese de desintegração da aeronave é confirmada por outros dados do acidente. De acordo com mapas produzidos pela Força Aérea Brasileira (FAB), as equipes de resgate encontraram duas linhas de corpos, distantes 85 quilômetros uma da outra, próximas do ponto virtual de navegação aérea chamado de Tasil. Se o avião tivesse chegado inteiro ao mar, dizem investigadores ouvidos pelo Estado, os corpos deveriam estar próximos, mesmo depois de mais de dez dias à deriva. Até agora, a única peça grande retirada do mar foi o estabilizador vertical, onde está fixado o leme, um dos apêndices direcionais do avião. O restante do material recolhido estava disperso em um "mar de destroços", como afirmou nesta semana a Marinha.
O trabalho de identificação está dividido em duas fases. Depois de retirados do mar pelos navios da Marinha, os corpos seguem de helicóptero até Fernando de Noronha, onde é coletado material para a identificação - como impressões digitais, tecidos do corpo e fios de cabelo, fundamentais caso seja necessário fazer exames de DNA. Roupas e pertences também estão sendo fotografados e catalogados e, nos próximos dias, serão apresentadas às famílias das vítimas para eventual reconhecimento.
Os peritos do Recife estão encarregados apenas do exame necroscópico. Uma das dificuldades encontradas por eles tem sido diferenciar as lesões produzidas pelo acidente das provocadas pela fauna do Oceano Atlântico.
IML
Outros 25 corpos que foram desembarcados ontem em Fernando de Noronha só devem ser levados ao Recife neste fim de semana. De acordo com o brigadeiro Ramon Borges, diretor-geral do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), eles serão separados em dois grupos para acelerar os trabalhos do IML do Recife. "Estamos estimando que a perícia inicial, feita em Fernando de Noronha, dure cerca de três horas para cada corpo. Dessa forma, no sábado pela manhã deveremos enviar 12 ou 13 corpos e na tarde do domingo todo o restante. Como talvez não tenhamos condições meteorológicas para levantar voo no domingo, essa parte da operação pode ainda ser transferida para a segunda-feira." Ontem, mais três corpos foram resgatados - são 44 no total.
Como aconteceu com os 16 corpos que foram desembarcados anteontem, esses novos grupos serão levados de Fernando de Noronha em um avião C-130 Hércules até a Base Aérea do Recife, de onde seguem, em carros apropriados, até o IML, que fica na região central da capital pernambucana. Ontem, a Aeronáutica também começou a trabalhar no desembarque dos primeiros destroços recolhidos. No domingo, esses devem chegar ao Recife, onde ficarão à disposição do BEA, que se encarregará das investigações.
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