Eu diria que a Dilma não tem um projeto. Advogo que a gente tem que discutir projetos. Uma mera luta pelo poder, sem nenhum conteúdo, fará muito mal ao Brasil. Trata-se de quê? De voltar à hegemonia do PSDB-PFL ou garantir a presença do PT a qualquer preço, a qualquer circunstância? É isso que o País precisa que se ponha em discussão.
Ciro Gomes: ‘Eu diria que a Dilma não tem projeto’
‘Não posso andar mentindo; sou candidato [à presidência]’
‘ É perfeitamente possível [derrotar José Serra em 2010]’
‘A popularidade política de Lula vai cair consistentemente’
‘O que preside essas alianças [com o PMDB] é a fisiologia]’
Wilson Dias/ABr
Passado o efeito do chá de sumiço que tomara –“Tive paralisia facial que me deixou no estaleiro”—Ciro Gomes está de volta à vitrine.
“Não posso andar mentindo, como certos candidatos notórios que dizem que não são candidatos. Eu sou”, disse, em entrevista ao repórter Hugo Marques.
Mordeu Dilma Rousseff: Ela “não tem projeto”. Mas também soprou a predileta de Lula: “É uma administradora sem par”.
Sobre as pesquisas, relativizou a segunda colocação que lhe atribuem: “Isso tudo é ilusão de ótica. Na hora certa, vamos ver o que interessa”.
Desdenhou do favoritismo do desafeto José Serra. Acha “perfeitamente possível” derrotar o candidato tucano em 2010.
Também acha que Dilma, “se for apontada pelo Lula”, vai tomar o elevador, para o alto:
“O cruzamento da influência dele com a preferência relativa que o PT tem dá a ela um patamar de 25% fácil”.
Vão a seguir algumas das declarações feitas pelo presidenciável do PSB:
- Sumiço: Tive alguns problemas. Tive uma paralisia facial causada por um vírus, que me deixou no estaleiro 40 dias. Na sequência, minha sogra internou- se, minha mulher gravando uma novela, sem poder dar assistência, achei que era meu dever dar apoio a ela. Minha sogra morreu. Foram basicamente dois ou três meses que eu não podia estar na luta.
- Candidatura: Já fui candidato a presidente da República duas vezes, portanto não posso andar mentindo, como certos candidatos notórios que dizem que não são candidatos. Eu sou. Mas já tenho experiência suficiente para saber que ninguém consolida uma candidatura a tal distância do processo.
- Mordendo Dilma: Eu diria que a Dilma não tem um projeto. Advogo que a gente tem que discutir projetos. Uma mera luta pelo poder, sem nenhum conteúdo, fará muito mal ao Brasil. Trata-se de quê? De voltar à hegemonia do PSDB-PFL ou garantir a presença do PT a qualquer preço, a qualquer circunstância? É isso que o País precisa que se ponha em discussão.
- Soprando Dilma: Minha relação com ela é de muita amizade, de muita fraternidade. A Dilma é uma administradora sem par. Talvez a única lacuna na vida pública dela seja a falta de vivência política. Mas isso não é nada que não possa suprir com esforço.
- O segundo lugar nas pesquisas: Isso tudo é ilusão de ótica. Na hora certa, vamos ver o que interessa.
- Dilma sobe? Com certeza, se ela for a candidata apontada pelo Lula. O cruzamento da influência dele com a preferência relativa que o PT tem dá a ela um patamar de 25% fácil.
- Lula e a sucessão: O Lula é um gênio político. O que o Lula está fazendo? Ele conhece o PT mais que ninguém. Ele sabe que se não botasse a mão, ainda que oficiosamente, no ombro de uma pessoa, numa hora dessas as diversas correntes do PT estariam se engalfinhando. Ele bota a mão, aparentemente, na Dilma, e trava o debate. Está prevenindo a desgraceira de uma brigalhada das diversas correntes do PT pela sucessão dele.
- A popularidade de Lula: Vai cair. Nada trágico, mas vai cair consistentemente.
- O favorismo de Serra: É perfeitamente possível [derrotar o governador de São Paulo em 2010]. Sempre achei que a oposição ao governo Lula, ao nosso governo, saía do processo com certo favoritismo. Isso não quer dizer vitória de véspera.
- Minas, Aécio, FHC e Itmar: O governador de Minas tem a obrigação de expor sua posição no debate político nacional. Boa parte do que está sofrendo o Brasil deve-se ao desmantelamento da presença equilibradora de Minas Gerais na política. Tenho para mim, conhecendo bem o gênio político do Fernando Henrique, que isso foi deliberado. Fernando Henrique sabia que para reinar, ou seja, para a reeleição e para a perpetuação desse grupo plutocrata que ele lidera a partir da avenida Paulista, precisava enfraquecer Minas. Ele cuidou disso muito bem, dizimou a política mineira, destruiu a memória do Itamar Franco, espalhou a cizânia.
- 2010 passa pelo PMDB? A questão é quais são os princípios morais e intelectuais que presidem esta ou aquela aliança. Já censurei essa tática, quando o Fernando Henrique fez essa aliança com o PMDB, porque o que preside essas alianças é o ajuntamento, é a fisiologia, é o clientelismo, é a concessão à safadeza, à ladroeira, e isso não leva o país a lugar nenhum, isso é uma ilusão de alianças.
- A fisiologia sob Lula: O Brasil precisa de administração profissional e meritocrática. A administração pública brasileira não vai bem. O desempenho do PAC é sinal disso. É muito curioso, se não fosse trágico: hoje tem muito mais dinheiro que capacidade de fazer.
- O PAC: [O governo] não consegue [gastar o dinheiro do PAC] por gap gerencial, por falta de estrutura de prestação profissional. Há uma legislação estúpida na área de ambiente, estúpida na área de licitação, estúpida na área de controle de contas.
- A volta de Delúbio: No Brasil, o que é compreensível, como temos uma democracia muito verdinha, há um justiçamento por parte da imprensa. Ela não percebe que faz justiçamentos. Há direitos e garantias universais. Presunção de inocência até o julgamento final, o contraditório, o ônus da prova de quem acusa. Não vejo o Delúbio como um marginal, um perigoso gângster como vi desenhado na imprensa. Cassar direitos políticos de uma pessoa cujo julgamento está pendente é estranho.
- O BC e os juros: O [Henrique] Meirelles ajudou o Brasil de forma substantiva no primeiro mandato do presidente Lula. Mas o modelo está errado. O Banco Central cometeu um desatino quando a crise já estava instalada e tinha proporções que sabíamos terríveis. Eles fizeram essa política maluca de aumentar os juros nacionais olhando uma inflação de demanda estúpida, que não existia. Acrescentou um dado nacional desnecessário, estúpido, àquilo que seria grave. O problema é o modelo, não é o Meirelles.
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