ALEXANDRE RODRIGUES - Agencia Estado
Em discurso no seminário estadual da corrente petista Construindo um Novo Brasil (CNB), realizado em um clube da zona norte do Rio, Dirceu defendeu a união interna do partido com o nome de Carvalho e apelo para que o presidente Lula libere o auxiliar para que ele concorra na chapa da CNB, o antigo Campo Majoritário. "Insisto para que o presidente Lula libere Gilberto Carvalho para ser o presidente do PT", defendeu Dirceu.
Aplaudido de pé pelos militantes antes de iniciar seu discurso, Dirceu defendeu a necessidade de fortalecer a união do partido em torno da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, à presidência em 2010. No entanto, ele ressaltou que a pré-candidata tem que "pactuar" com o partido e o programa de governo. Dirceu afirmou que o ponto de partida deve ser um balanço do governo Lula para chegar a um projeto do PT no poder "para a próxima década".
Dirceu comparou Lula a líderes como os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas - "que só surgem a cada 50 anos" (!!!! ????) - e, referindo-se aos altos índices de popularidade de Lula, afirmou que o segundo turno em 2006 fez com que o partido saísse mais forte e chegar a 2010 "numa outra condição".
(tem gente que nasce e morre surtado, o problema é surtar e levar o país junto, num sonho poder absoluto, para uma ditadura petista!!!)
O HOMEM FORTE DE LULA | ||
Nos bastidores, o teólogo e filósofo Gilberto Carvalho é o assessor mais próximo e o mais ouvido pelo presidente | ||
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TRIAGEM Na ante-sala presidencial, ele decide quem entra ou não |
Nada nem ninguém, objeto ou pessoa, chega à sala do presidente da República, no terceiro andar do Palácio do Planalto, em Brasília, sem passar pelo paranaense Gilberto Carvalho. Na arquitetura do poder, o chefe de gabinete pessoal (eis o seu título na hierarquia do governo) é o homem da ante-sala de quem manda no País. Gilberto despacha a cinco passos de Lula. Seu escritório tem uma porta lateral que dá acesso a um pequeno corredor. Basta atravessá-lo para entrar no gabinete presidencial. À direita há um toalete. Bem ao lado fica o elevador privativo de Lula. Aos 52 anos, teólogo e filósofo formado pela Universidade do Paraná, Gilberto é a eminência parda do presidente. Objetos? Pousam em sua mesa, mensalmente, 10 mil cartas – desde documentos oficiais de prefeituras a recados de gente do povo e uma avalanche de pequenos presentes. Ele os tria e cataloga com a ajuda de uma equipe de 50 auxiliares. Pessoas? É ele também quem recebe, em rápidas audiências, deputados, prefeitos, empresários, líderes sindicais e comunitários. Por telefone, conversa com governadores e autoridades internacionais. Todos querem fazer com que seus pleitos cheguem até o chefe. “É sempre bom ter o Gilbertinho por perto”, costuma dizer o presidente. “Ele resolve tudo.” O assessor é mais modesto. “Minha função é elaborar a agenda do presidente”, afirma. Em tom religioso, herança dos tempos de seminário, na juventude, ele sacramenta: “Estamos num momento iluminado por Deus”, resume.
O plural majestático, expressão comum no português cadenciado e corretíssimo usado por Gilberto, é um exagero. Ele tem poder, no singular, sim, e muito. Faz parte do chamado “Núcleo de Coordenação do Governo”, coração do PT na Presidência. Seus pares são José Dirceu (ministro-chefe da Casa Civil), Luís Dulci (ministro-chefe da Secretaria Geral) e Luís Gushiken (comandante da Secretaria de Comunicação). Com freqüência, Gilberto é forçado a desmarcar compromissos previamente agendados para “apagar incêndios”, como definem os companheiros de Brasília. E lá vai, extintor em mãos, quando o clima esquenta. É sempre o primeiro a conversar com Lula quando ele chega das viagens. O recebe no aeroporto e, ainda no saguão, passa a limpo problemas e soluções. Em outros termos: Lula não abre a boca antes de ouvir Gilberto.
Algumas vezes, é verdade, a conversa é mais longa do que o esperado. Na quarta-feira 4, depois do contundente discurso no congresso da CUT, em São Paulo, entre vaias e aplausos dos sindicalistas, um batalhão de ministros e secretários, em Brasília, aguardava para falar com Lula. Mas Gilberto foi firme e definiu a ordem dos despachos. Em outros momentos, quando as chamas se alastram, a missão é mais árdua – e Gilberto prova, no relacionamento com o presidente, que é muito mais que um chefe de gabinete. É homem afeito a compreender os movimentos e os interesses de Lula. O influencia como poucos, e os breves atritos os aproximam ainda mais.
No domingo, 25 de maio, por uma falha de comunicação, o chefe de gabinete pessoal só foi informado a respeito de um protesto de 200 perueiros em frente ao Alvorada quando já estava a caminho do aeroporto, no ritual de recepção. Muito pouco poderia ser feito naquele cenário. Havia uma única solução: mudar a rota de chegada. Gilberto acabou levando uma bronca. “Como vocês não fazem nada, vou até lá, sim”, esbravejou Lula. E foi. Mas nem sempre é dele a última palavra. Às vezes, Gilberto vence. “O presidente Lula bate o pé nas suas opiniões, mas depois repensa”, diz. Foi num desses impasses com o amigo do Paraná que o fundador do PT aceitou participar das prévias do partido para o lançamento da candidatura presidencial. O ex-metalúrgico recusava-se a disputar a vaga com o senador Eduardo Suplicy. “Você vai e não se discute mais”, cravou Gilberto, então secretário de comunicação do PT. Deu no que deu.
O cotidiano impõe disciplina e alguns rituais. Às oito da manhã, ele começa a trabalhar. Às 8h55, pontualmente, entra no gabinete presidencial e senta para aguardar a chegada de Lula. “Sinto-me honrado e tranqüilo em ser seu interlocutor, mas o peso da responsabilidade é uma constante”, diz.
Lula, Gilberto e Dirceu no gabinete: influência |
Mudo. Na história brasileira, a afinidade de Gilberto com Lula remete, de algum modo, à parceria
do general Ernesto Geisel com seu secretário particular, Heitor de
Aquino Ferreira, homem que tudo
via e tudo anotava. O companheiro de Lula não chega a esse requinte, tem um comportamento discreto, quase oculto, mas certamente já é detentor de boa parcela da biografia do operário que se
tornou chefe de Estado. Para muitos, a rigor, seu estilo
lembra o de Juscelino Kubitschek, quando ele ainda era chefe
de gabinete do então interventor federal no governo de Minas, Benedito Valadares, em 1933.
A confiança mútua de Lula e Gilberto foi construída ao longo de 19 anos de amizade e consagrada durante a campanha eleitoral do ano passado. Gilberto sempre teve cargos de importância nos bastidores do partido, vitais mas discretos. É um pouco como ocorre agora, no governo. O chefe do Gabinete Civil, José Dirceu, é outro nome de evidente influência política – mas ao costurar acordos políticos, invariavelmente é alvo de acusações e conflitos. Gilberto, não. Publicamente, é um grande mudo. Com Lula, é todo ouvidos e atenção. A administração da conta bancária presidencial e o controle das despesas da Granja do Torto também foram entregues a ele. Os dois se entendem porque é um caso raro de afinidade histórica. “Podemos discutir sem restrições porque não existe ressentimentos entre a gente”, diz.
Gilberto Carvalho começou a carreira política trabalhando em favelas de Curitiba. Depois, ingressou no movimento operário, como braço da Teologia da Libertação, tendência de esquerda da igreja católica. Entrou para o PT em 1984 e assumiu a direção no Paraná. Chefiou o Instituto Cajamar, frente do pensamento petista, ao chegar em São Paulo, casado com a sua primeira mulher, com quem teve três filhos. Em seguida, foi indicado para a secretaria de comunicação do diretório nacional do partido. Em 2001, pela primeira vez participou de uma administração, a convite do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado no ano seguinte. Foi um momento complicado na vida de Gilberto Carvalho. Acusado de desvio de verbas públicas no município, nunca comprovadas, fechou-se ainda mais. “Ponho as minhas mãos no fogo por Gilberto”, disse Lula, na época, em defesa do amigo. “Fui do inferno ao céu em apenas um ano”, recorda-se, ao fazer referência à morte de Daniel e à vitória de Lula nas eleições de outubro.
Por não ostentar as amarras protocolares de um ministro, como ocorre com José Dirceu, e também porque não administra verbas polpudas, Gilberto pode burilar, e enriquecer, a única aliança que lhe cobram e do qual ele não se desvia jamais: a parceria com o presidente da República. Quando dialoga com terceiros, Gilberto se refere a Lula como “Senhor Presidente”. Na intimidade, elimina o “senhor”, para evitar gafes. Lula, porém, devolve descontraído: “ Deixa que o baixinho resolve”, diz. O baixinho, de 1m60 de altura, conquistou toda a família Silva. A primeira-dama Marisa Letícia o respeita e o ouve. Em tom de brincadeira, cobra: “Quando você vai me arrumar uma sala com janela?”. Gilberto foi encarregado de providenciar um espaço para Marisa ao lado do gabinete presidencial. Conseguiu improvisar um escritório, mas ainda falta a vista para o cerrado.
Calmo, de sorriso amplo, Gilberto conquista facilmente a simpatia das pessoas. “Tenho uma ótima convivência dentro do Planalto”, diz. Por onde passa, seja na correria do horário de trabalho, seja a caminho do almoço no restaurante do Palácio, é sempre atencioso com os funcionários. Faz troça sobre as partidas do campeonato brasileiro de futebol (torce para o Palmeiras, capaz de declamar a escalação completa do time na década de 50), pergunta sobre a família e promete resolver as pendências. Raramente perde o controle emocional. Reza sempre e faz promessas. Mantém a tranqüilidade até num terreno difícil, o dos campos de pelada. Orgulhoso por ter emagrecido bons quilos, Gilberto é assíduo boleiro nos churrascos de fim de semana na Granja do Torto. E, numa metáfora do que faz em seu cotidiano no terceiro andar do Planalto, não abre mão da posição em que melhor atua: Gilberto é zagueiro. Dos bons, é o que diz Lula.
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