Reprodução "Bolos para todos os gostos. Presentes, sempre, em todos os aniversários" |
Lecticia Cavalcanti
Do Recife (PE)
Num fim de tarde em Ur, na Caldéia, três anjos foram à casa de Abraão e Sara - para anunciar que, mesmo já velhos, afinal teriam filhos. Então, segundo a Bíblia, o anfitrião pediu à esposa: "Depressa, amassa três medidas de farinha e faça bolos" (Gênese 18,6). Por esse tempo, qualquer massa adocicada assada era indistintamente chamada de pão ou bolo. E repartir essa massa, com os visitantes, era a melhor forma de celebrar aquela dádiva concedida por seu Deus. Como naquela casa, homens e mulheres vêm repetindo este gesto de comunhão, em volta de bolos, ao longo dos séculos.
Bolo é, na etimologia da palavra, tudo aquilo que tem a forma de bola. E seus primeiros registros remontam a 7.000 anos a.C., na Palestina. Eram também pintados nas paredes das pirâmides do Egito, mas só os mais apreciados pelos faraós mortos. Entre eles, quase sempre, o famoso bolo seco de Canopo - reverenciando essa antiga cidade situada na margem ocidental do Nilo. Assírios usavam receitas que misturavam ervas, farinha e mel, cozidos em recipientes de barro, tudo depois enterrado e coberto por brasas.
Mas foi com os gregos que a pastelaria começou a ser valorizada. O poeta Aristófanes (445-386a.C.) chegou a fazer versos em louvor de Théanos, maior pasteleiro da época. Novas formas de apresentação e decoração foram surgindo, usando farinha, mel e queijo branco ou azeite - depois substituídos, nas receitas, por manteiga. No bazym, um tipo de bolo mais sofisticado, acrescentava-se ameixa, figos secos, nozes, romã, uva.
Mais tarde, também os romanos se interessaram pela arte da pastelaria; e passaram a trazer profissionais, da Grécia, para ensinar esse oficio. Novos bolos foram então criados: o libium, feito com uma libra (equivale a 0,4535923 quilograma) de farinha, duas libras de queijo e um ovo; o spherita, com forma esférica e frito; o confarreatio, servido no confarreo - casamento solene, com dez testemunhas. Também o placenta, redondo, feito com queijo e mel em camadas sobrepostas - daí vindo o próprio nome do órgão que une o feto à parede do útero. A denominação se deve a Realdus Columbus (1516-1559), que, em seu "De re anatomica", comparou o órgão "in modum orbicularis placentae" (ao modo redondo da placenta).
O colonizador português trouxe com ele suas próprias receitas de bolo. O primeiro que aqui chegou foi um bolo seco de amêndoas, conhecido como fartéis (ou farte, ou fartem ou fártel). Oferecido por Cabral aos índios, não fez nenhum sucesso: "Deram-lhes ali de comer pão e pescado cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram fora", segundo carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel I.
Aos poucos, outras receitas foram chegando. Algumas permanecem, ainda hoje, fiéis às suas raízes portuguesas; outras foram adaptadas, com substituição de ingredientes, como o bolo de bacia, cuja receita está no livro de Domingos Rodrigues (1680) - primeiro registro de receitas da língua portuguesa.
Aqui foram também nascendo receitas, misturando ingredientes de nossas três culturas. Os da terra usados ancestralmente por nossas índias - mandioca, batata-doce, milho, amendoim, castanha de caju, abacaxi, caju, goiaba; os trazidos pelo colonizador português - cravo, canela, gengibre, noz-moscada, amêndoas, nozes, pera, maçã; e os que usavam ingredientes dos escravos - coco e leite de coco. Bolos para todos os gostos. Presentes, sempre, em todos os aniversários.
Ingredientes:
200 g de manteiga
200 g de açúcar
3 ovos
200 g de farinha de trigo
1 colher (de sopa) de fermento em pó
½ xícara de leite
Sal
Preparo:
- Bata muito bem manteiga e açúcar, até formar um creme. Reserve.
- Bata os ovos como para pão-de-ló (primeiro as claras, depois junte as gemas). Junte esses ovos à mistura anterior. Acrescente também trigo, fermento e leite, aos poucos.
- Coloque a massa em duas assadeiras redondas, untadas com manteiga e polvilhadas com trigo.
- Depois de pronto, recheie e cubra com recheio de amêndoa - ½ kg de amêndoa (sem casca, passada na máquina), 2 gemas, 3 xícaras de açúcar, 1 xícara de água. Deixe no fogo até soltar do fundo da panela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário