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domingo, 29 de março de 2009

Bolo de aniversário


Reprodução
Bolos para todos os gostos. Presentes, sempre, em todos os aniversários
"Bolos para todos os gostos. Presentes, sempre, em todos os aniversários"

Lecticia Cavalcanti
Do Recife (PE)

Num fim de tarde em Ur, na Caldéia, três anjos foram à casa de Abraão e Sara - para anunciar que, mesmo já velhos, afinal teriam filhos. Então, segundo a Bíblia, o anfitrião pediu à esposa: "Depressa, amassa três medidas de farinha e faça bolos" (Gênese 18,6). Por esse tempo, qualquer massa adocicada assada era indistintamente chamada de pão ou bolo. E repartir essa massa, com os visitantes, era a melhor forma de celebrar aquela dádiva concedida por seu Deus. Como naquela casa, homens e mulheres vêm repetindo este gesto de comunhão, em volta de bolos, ao longo dos séculos.

Bolo é, na etimologia da palavra, tudo aquilo que tem a forma de bola. E seus primeiros registros remontam a 7.000 anos a.C., na Palestina. Eram também pintados nas paredes das pirâmides do Egito, mas só os mais apreciados pelos faraós mortos. Entre eles, quase sempre, o famoso bolo seco de Canopo - reverenciando essa antiga cidade situada na margem ocidental do Nilo. Assírios usavam receitas que misturavam ervas, farinha e mel, cozidos em recipientes de barro, tudo depois enterrado e coberto por brasas.

Mas foi com os gregos que a pastelaria começou a ser valorizada. O poeta Aristófanes (445-386a.C.) chegou a fazer versos em louvor de Théanos, maior pasteleiro da época. Novas formas de apresentação e decoração foram surgindo, usando farinha, mel e queijo branco ou azeite - depois substituídos, nas receitas, por manteiga. No bazym, um tipo de bolo mais sofisticado, acrescentava-se ameixa, figos secos, nozes, romã, uva.

Mais tarde, também os romanos se interessaram pela arte da pastelaria; e passaram a trazer profissionais, da Grécia, para ensinar esse oficio. Novos bolos foram então criados: o libium, feito com uma libra (equivale a 0,4535923 quilograma) de farinha, duas libras de queijo e um ovo; o spherita, com forma esférica e frito; o confarreatio, servido no confarreo - casamento solene, com dez testemunhas. Também o placenta, redondo, feito com queijo e mel em camadas sobrepostas - daí vindo o próprio nome do órgão que une o feto à parede do útero. A denominação se deve a Realdus Columbus (1516-1559), que, em seu "De re anatomica", comparou o órgão "in modum orbicularis placentae" (ao modo redondo da placenta).

O colonizador português trouxe com ele suas próprias receitas de bolo. O primeiro que aqui chegou foi um bolo seco de amêndoas, conhecido como fartéis (ou farte, ou fartem ou fártel). Oferecido por Cabral aos índios, não fez nenhum sucesso: "Deram-lhes ali de comer pão e pescado cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram fora", segundo carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom Manuel I.

Aos poucos, outras receitas foram chegando. Algumas permanecem, ainda hoje, fiéis às suas raízes portuguesas; outras foram adaptadas, com substituição de ingredientes, como o bolo de bacia, cuja receita está no livro de Domingos Rodrigues (1680) - primeiro registro de receitas da língua portuguesa.

Aqui foram também nascendo receitas, misturando ingredientes de nossas três culturas. Os da terra usados ancestralmente por nossas índias - mandioca, batata-doce, milho, amendoim, castanha de caju, abacaxi, caju, goiaba; os trazidos pelo colonizador português - cravo, canela, gengibre, noz-moscada, amêndoas, nozes, pera, maçã; e os que usavam ingredientes dos escravos - coco e leite de coco. Bolos para todos os gostos. Presentes, sempre, em todos os aniversários.

Receita: BOLO COLCHÃO DE NOIVA

Ingredientes:
200 g de manteiga
200 g de açúcar
3 ovos
200 g de farinha de trigo
1 colher (de sopa) de fermento em pó
½ xícara de leite
Sal

Preparo:
- Bata muito bem manteiga e açúcar, até formar um creme. Reserve.
- Bata os ovos como para pão-de-ló (primeiro as claras, depois junte as gemas). Junte esses ovos à mistura anterior. Acrescente também trigo, fermento e leite, aos poucos.
- Coloque a massa em duas assadeiras redondas, untadas com manteiga e polvilhadas com trigo.
- Depois de pronto, recheie e cubra com recheio de amêndoa - ½ kg de amêndoa (sem casca, passada na máquina), 2 gemas, 3 xícaras de açúcar, 1 xícara de água. Deixe no fogo até soltar do fundo da panela.


Lecticia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.

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