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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Negociações para a venda da Nossa Caixa avançam


Decisão do CNJ sobre depósitos judiciais e interesses políticos tornam o Banco do Brasil favorito na operação

Carlos Marchi


A negociação entre o governo de São Paulo e a direção do Banco do Brasil para vender a Nossa Caixa avançou nas últimas semanas e está próxima de um fim bem-sucedido, afirmou ontem ao Estado um dos principais assessores do governo José Serra (PSDB). Nas últimas semanas, a venda da Nossa Caixa ao BB adquiriu variáveis políticas que interessam aos dois lados envolvidos no negócio.

Além de ter avançado no campo político, houve uma decisão judicial fundamental para o futuro da Nossa Caixa. Ontem, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu que os depósitos judiciais devem permanecer nos bancos públicos. Um dos principais atrativos da Nossa Caixa para os bancos privados - a começar pelo Bradesco -, era os depósitos judiciais que administra, avaliados em mais de R$ 16 bilhões.

Como o Bradesco, ou outro banco privado, não poderá ficar com esses depósitos, a Nossa Caixa perde boa parte de seu apelo. Para o Banco do Brasil, porém, ela continua sendo interessante. No mercado financeiro, avalia-se que o preço da Nossa Caixa possa variar de R$ 6 bilhões a R$ 10 bilhões.

Desde o anúncio da união do Itaú com o Unibanco, a direção do BB está obcecada em tomar decisões que devolvam ao mais antigo banco brasileiro um valor institucional que acaba de perder. A compra da Nossa Caixa não devolverá ao BB o primeiro lugar do ranking nacional de bancos, mas o deixará bem perto disso.

O governo Serra também enxerga variáveis políticas que lhe interessam. Se a Nossa Caixa for vendida ao BB e ajudar a reconstituir o valor institucional perdido, o governo paulista estará mais que fazendo um bom negócio: estará, também, ajudando o governo Lula a recuperar um de seus discursos mais caros, a defesa dos valores estatistas, ponto central na ideologia do PT. E isso, num ano que antecipa a sucessão presidencial, é um gesto simpático que pesa, pois Lula se livrará do estigma de ver o BB perder sua liderança secular justamente em seu governo.

Duas razões, no entanto, estimulam o governo paulista a vender a Nossa Caixa ao BB, e não a um banco privado. A primeira é que esse modelo de venda dispensa uma licitação que traria impasses jurídicos e desgastes políticos. A segunda é que ela permite ao governo paulista se livrar de protestos da CUT e de sindicatos de bancários paulistas, o que seria inevitável se a Nossa Caixa fosse vendida a um banco privado.

Por outro lado, quando era candidato, o governador Serra anunciou que faria da Nossa Caixa uma espécie de BNDES estadual, um banco de fomento capaz de alavancar a atividade econômica em regiões menos desenvolvidas do Estado. Uma vez no governo, Serra percebeu que, por várias razões, a Nossa Caixa não poderia cumprir esse papel tão ambicioso.

Outro sinal positivo para as negociações veio do Congresso. Pessoas envolvidas nas negociações estão confiantes na aprovação da Medida Provisória 443, que dá condições para que a Nossa Caixa seja vendida ao Banco do Brasil sem necessidade de licitação pública. Embora tenha havido alguma resistência inicial e discurso dúbio de integrantes da oposição sobre essa possibilidade, as negociações avançaram no Congresso.


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