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sábado, 15 de janeiro de 2011

#rio : Sobreviventes enfrentam sede, fome e desespero

População busca água e comida até na lama. Preços disparam com escassez de produtos

Rio - Além da dor de perder tudo, sobreviventes da tragédia que matou 550 pessoas passam fome e sede nas cidades da Região Serrana destruídas pela chuva. O drama de contar mortos e a procura por parentes parecem um trabalho interminável para os moradores, que enfrentam a pior catástrofe natural do Brasil. Muitos acessos estão bloqueados e comunidades, isoladas. Após a tragédia, os moradores enfrentam falta de comida, água, comunicação e a disparada de preços. Morador do bairro São Geraldo, em Friburgo, Rodrigo Svoboda, 25 anos, perdeu o irmão e está sem alimentos em casa. “A queda de barreira deixou o bairro ilhado. Tenho esperança de que, com maquinário, alimentos cheguem”, disse.

Foto: Divulgação
Somente parte da casa resistiu ao deslizamento de uma encosta em Nova Friburgo | Foto: Divulgação

Em Teresópolis, devido à escassez de produtos, um galão de 20 litros de água, que custava R$ 10 antes da tragédia, agora vale R$ 40. O litro da gasolina, cujo preço médio é de R$ 2,76 no interior, chega a ser vendido por R$ 4.

Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia
População tenta aproveitar mercadorias descartadas de uma enchente que invadiu um supermercado em Nova Friburgo | Foto: Deisi Rezende / Agência O Dia

Nas ruas, a cada monte de alimentos destruídos pela enxurrada e deixado de lado por lojas e supermercados, pessoas que se revezam na tentativa de conseguir um alimento com menos lama.

CHALÉS ISOLADOS

Em Vieira, terceiro distrito de Teresópolis, o cenário é devastador. Situada a 60 km do Centro, a comunidade estava ontem isolada, sem comunicação ou ajuda. Desesperada, a população passou a operar retroescavadeiras para desobstruir acessos.

>> FOTOGALERIA: Rastro de destruição em Friburgo e em Petrópolis

No ponto mais alto do distrito, rochas gigantescas rolaram dos morros e devastaram a área rural. A enxurrada destruiu a entrada do Hotel Fazenda São Moritz, que teve a sede e os chalés isolados da estrada por um rio formado pela correnteza. O distrito está sem energia elétrica, água potável, comunicação e comida desde o desastre.

Na casa do garçom Jorge Luiz Gonçalves, 43, a lama chegou a um metro de altura. “Morava aqui há 35 anos. Até o carro que estava na garagem foi levado pela enxurrada”, contou. Ontem, queda de barreira interditou a estrada que liga Itaipava, em Petrópolis, a Teresópolis. Motoristas devem seguir pela Rio-Magé. Até ontem às 22h, o número oficial de mortos era de 247 em Nova Friburgo, 231 em Teresópolis, 43 em Petrópolis, 18 em Sumidouro, e 2 em São José do Vale do Rio Preto.

Mercados já vendem alimentos racionados

Com uma série de consequências da destruição em Nova Friburgo está a fome. Sem alimentos e com cerca de 90% do comércio do município ainda fechados, a população tenta como pode suprir instintivamente a necessidade de comer.

No centro de Friburgo, apenas farmácias voltaram ao funcionamento normal. Na principal rua da cidade, em um dos poucos supermercados que abriram suas portas, ou melhor, meias portas, organizaram filas. Apenas duas pessoas podem entrar no estabelecimento por vez e comprar três itens alimentícios por pessoa até às 18h. Não há previsão para a retomada da rotina.

“É triste. Na minha casa, ainda tenho alimentos, mas não sei por quanto tempo. Essas pessoas perderam suas famílias e ainda têm que passar por isso”, lamenta a aposentada Gilda Knust, de 68 anos.

Deficientes de tudo, o município já está sem água potável e já falta alimento para os cerca de mil desalojados em abrigos. A prefeitura de Friburgo pede o envio de água, alimentos e material descartável.


14/01/2011

às 21:16

Teresópolis ainda tem áreas completamente isoladas

Bairro Santa Rita, em Teresópolis: terreno encharcado dificulta até o pouso de helicópteros (Foto: Daniel Ferrentini)

Bairro Santa Rita, em Teresópolis: terreno encharcado dificulta até o pouso de helicópteros (Foto: Daniel Ferrentini)

Nada é simples nas cidades que já somam mais de 500 mortos na região serrana do Rio. Com dezenas de áreas ainda sem comunicação e sem acesso, Teresópolis, Friburgo e Petrópolis enfrentam a permanente ameaça de mais deslizamentos de terra e, ao longo da sexta-feira, a chuva dificultou as ações de resgate tornaram-se ainda mais complexas. Nos locais mais isolados, só é possível remover feridos e corpos com helicópteros. Mas sobre o solo encharcado, o pouso pode significar a perda de uma aeronave.

Em Teresópolis já operam sete helicópteros – dois da marinha, dois do Corpo de Bombeiros e três da Petrobras –, mas algumas equipes conseguem, no máximo, identificar áreas onde há deslizamentos, feridos e mortos. “Fora do centro da cidade, temos deslizamentos pulverizados por áreas rurais. São mais de 200 pontos. A muitos desses, não conseguimos chegar porque o pouso é impossível”, explicou a promotora Anaiza Helena Malhardes Miranda, de Teresópolis, que atua desde a quarta-feira nas ações de emergência da cidade.

Um dos trabalhos do Ministério tem sido o de agilizar a identificação e o sepultamento dos corpos. Cerca de metade dos mais de 200 mortos em Teresópolis já foram sepultados. Os corpos que restaram, desde a tarde de sexta-feira, estão sendo congelados e o material genético é colhido para que se faça a identificação química, pois não há mais condição de se fazer reconhecimento visual.

“Sabemos de locais isolados onde há mortos e que as pessoas estão fazendo o sepultamento por lá mesmo. Não há mais condição de esperar pela remoção”, contou Anaiza.

O representante comercial Abel Nunes viveu uma aventura para resgatar seu pai, de 78 anos, em Teresópolis. O condomínio onde a família morava, o Retiro da Serra Fazenda Clube, fica no bairro Santa Rita, que continua inacessível à Defesa Civil. Acompanhado de um sobrinho e de um amigo, Abel alugou um helicóptero e rumou para a serra.

O resgate demorou oito horas. A dificuldade não foi somente para encontrar um lugar para pousar, mas também de identificar o que sobrou do condomínio. Os três desembarcaram a três quilômetros de distância da área. Andaram pelo mato e tiveram que desviar das barreiras que dificultavam o trajeto. “No meio do condomínio havia um lago, próximo a uma área de lazer muito agradável. A contenção desse lago rompeu, ele esvaziou e agora só tem lama e entulho”, explica Abel.

A mulher de seu pai, que estava no quarto no momento do temporal, morreu. Ele sobreviveu porque estava na sala e foi empurrado pela enxurrada. A violência das águas foi tamanha que o pai de Abel, que tem o mesmo nome do filho, perdeu até a roupa do corpo. Não sobrou nada da casa. O carro também sumiu. “O corpo da mulher dele deve estar no meio da lama, assim como os fogões, geladeiras e móveis das casas”.

(Por Cecília Ritto, João Marcello Erthal e Rafael Lemos, Rio de Janeiro e Teresópolis)

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