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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Proposta brasileira de asilo a condenada por adultério divide Irã


DA BBC BRASIL

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A proposta brasileira de conceder asilo a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, que chegou a ser condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério, é apoiada por ativistas que defendem os direitos humanos no Irã, mas criticada por setores mais conservadores ligados ao governo do país.

Membros de organizações de direitos humanos disseram que a oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder asilo a Ashtiani é um passo positivo, mas que ainda é preciso fazer mais para pressionar o Irã a banir esse tipo de sentença.

O governo iraniano ainda não fez uma declaração oficial sobre se aceita a proposta de Lula, mas um site ligado à Guarda Revolucionária do Irã fez críticas à posição do presidente brasileiro, acusando-o de interferir nas questões internas do país.

AP
Foto divulgada pela ONG Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério
Foto divulgada pela ONG Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério

Ashtiani, de 43 anos, está presa no Irã desde maio de 2006, quando um tribunal na Província do Azerbaijão Ocidental a considerou culpada por manter "relações ilícitas" com dois homens após a morte de seu marido.

No início do mês, as autoridades iranianas haviam afirmado que ela não seria mais morta por apedrejamento, embora a mulher ainda possa ser sentenciada à morte por enforcamento pelo adultério e por outras acusações que pesam contra ela.

O caso teve grande repercussão internacional e, no sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pedindo que permita que a mulher possa se asilar no Brasil.

APOIO

"A oferta do presidente do Brasil a Ashtiani e sua família foi um passo muito positivo e é bem-vindo. No entanto, espero que isso crie uma pressão pelo fim de sentenças de morte por apedrejamento", disse à BBC Brasil a iraniana Mina Ahadi, coordenadora do Comitê Internacional Contra Apedrejamento, entidade que vem fazendo uma campanha pela liberdade de Ashtiani.

"Eu conversei com o filho dela e outros familiares sobre a oferta do Brasil. Eles ficaram muito contentes e esperançosos. Esperamos que a notícia seja dada a Ashtiani ainda nesta segunda-feira", explicou a ativista, que também coordena uma campanha com assinaturas na internet em prol da iraniana.

Apesar de elogiar a oferta brasileira, Ahadi disse que considera negativa a proximidade entre Lula e o regime islâmico do Irã.

"O presidente brasileiro ignorou evidentes violações de direitos humanos no Irã. O apelo pela liberdade e asilo de Ashtiani não apaga o criticismo em relação a ele de muitas pessoas e da oposição no Irã."

CARISMA

Para o ativista Mahmoud Amiry-Moghaddam, diretor da entidade Direitos Humanos no Irã, a interferência de Lula em favor da iraniana foi uma grande notícia, pois o presidente brasileiro "tem o carisma junto ao governo do Irã".

"Certamente, o governo iraniano irá considerar essa proposta de forma séria, pois se trata de um país amigo e que goza de boa credibilidade com o Irã", salientou Moghaddam à BBC Brasil.

Entretanto, a ativista acredita que, por si só, a oferta de asilo a Ashtiani não mudará o destino de muitos outros sentenciados a este tipo de execução.

"Já tivemos muitas pessoas enforcadas ou apedrejadas até a morte por omissão de líderes internacionais, incluindo Lula, que poderiam ter feito mais pressão junto ao governo iraniano."

"Por se omitir no passado, apoiando o atual regime, o carisma de Lula ficou um pouco abalado entre setores da sociedade iraniana que vêm lutando por mais liberdade e direitos humanos no país", afirmou.

CRÍTICAS

O site Jahan News, ligado à Guarda Revolucionária do Irã, entidade linha-dura e que dá suporte ao regime islâmico do país, usou uma linguagem de acusação contra Lula devido à oferta de asilo.

"O presidente brasileiro está sob a influência da propaganda ocidental... e interferiu nos assuntos internos do Irã", diz um texto no site.

De acordo com Mohammad Marandi, professor de Ciência Política da Universidade de Teerã, mesmo o bom relacionamento entre Brasil e Irã não vai garantir que a proposta brasileira seja aceita, especialmente entre membros mais linha-dura do governo iraniano.

"Há um consenso geral dentro do governo de que mesmo nações amigas não podem interferir em assuntos vistos como delicados dentro do Irã. Com o Brasil não será diferente", explicou Marandi.



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