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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Para fugir da crise, empresas estrangeiras sacam do Brasil US$ 4,1 bi


Multinacionais raspam o tacho
Autor(es): Vânia Cristino e Victor Martins
Correio Braziliense - 27/07/2010

Filiais de companhias estrangeiras sacam US$ 15 bilhões do país entre janeiro e junho, para melhorar os resultados de suas matrizes.

As filiais de empresas estrangeiras que atuam no Brasil estão se tornando a tábua de salvação para muitas de suas matrizes. Embaladas pelo forte crescimento da economia nacional, têm lucrado como nunca e remetido tudo o que podem para os países de origem como forma de melhorar os resultados de suas controladoras. Somente em junho, as multinacionais retiraram US$ 4,15 bilhões do país, valor sem precedentes para este mês em 63 anos. No acumulado dos seis primeiros meses do ano, os saques totalizaram US$ 14,96 bilhões. As remessas foram comandadas por companhias da Holanda, da Espanha, da Itália, de Portugal e dos Estados Unidos, nações que se têm debatido para sair do atoleiro.

A disposição das multinacionais em retirar dinheiro do Brasil foi tão grande, que o sempre comedido chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, não escondeu a surpresa. “O movimento surpreendeu.” Segundo ele, as saídas de recursos do país se intensificaram no fim de junho, pois as empresas de setor automobilístico e de produtos químicos botaram o pé no acelerador. “A indústria automobilística vai muito bem no Brasil, mas essa não é a situação do setor no mercado internacional”, disse. As montadoras remeteram US$ 920 milhões apenas em junho.

Na avaliação de Altamir, essa dependência continuará pelo menos até o fim do ano. Pelas suas contas, as remessas de lucros e de dividendos pelas multinacionais totalizarão o recorde de US$ 32 bilhões em 2010, ante os US$ 25,2 bilhões do ano anterior. Motivo: não há perspectiva de recuperação das principais economias do mundo. O Brasil, porém, avançará pelo menos 7%, o maior salto desde 1986, ajudando a manter os balanços da matrizes das múltis no azul.

Diante desse quadro, as contas externas do Brasil não param de piorar. Em junho, as transações correntes, que contabilizam o vaivém de capitais, computaram rombo de US$ 5,18 bilhões, o pior resultado desde 1947, quando o BC passou a fazer tal levantamento. Nas projeções do banco, o deficit no ano todo baterá em US$ 49 bilhões, também um resultado histórico. Para Altamir, não há com o que se preocupar, pois esse buraco será totalmente coberto por capital vindo de fora. O problema, avaliam analistas, é que o dinheiro a que o técnico do BC se refere é de curto prazo, direcionado à bolsa de valores e a títulos públicos. Ou seja, é capital especulativo, que pode sair a qualquer momento, desestabilizando o país.

O sinal de alerta está ligado. O rombo nas transações correntes com o exterior deveria ser coberto integralmente pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED), destinado à produção e à criação de empregos. Esses recursos, contudo, estão caindo vertiginosamente. O BC projetava a entrada de US$ 1,5 bilhão no mês passado, mas só foram computados US$ 708 milhões. Nem mesmo as aplicações em ações (US$ 1,92 bilhão) e em títulos públicos (US$ 1,41 bilhão) foram suficientes para cobrir o deficit. Para o segundo semestre, Altamir garantiu que o quadro é positivo. Até o dia 26 de julho, os investimentos diretos somavam US$ 1,6 bilhão e o BC espera fechar o mês com US$ 2 bilhões.


Brasileiros viajam mais

Os brasileiros nunca viajaram tanto para o exterior. Apenas no primeiro semestre, eles deixaram US$ 7 bilhões lá fora — um recorde. Comparado com igual período de 2009, esse montante ficou 58% maior, o que indica, segundo o Banco Central, que a expansão da renda e o crédito fácil têm motivado os consumidores a investir em viagens internacionais. Tamanha movimentação nos embarques ao exterior criou um desequilíbrio: os brasileiros vêm gastando muito mais lá fora do que os estrangeiros aqui dentro. Deduzidos os gastos dos que visitam o país, formou-se um buraco gigantesco, de US$ 4,1 bilhões, nas contas externas. Nos seis primeiros meses do ano, a cifra representou um aumento de 117% no saldo negativo, o maior já registrado desde 1947.

A expectativa da autoridade monetária é de que o rombo fique ainda maior e chegue a pelo menos US$ 8 bilhões em dezembro de 2010. Com a crise na Europa e Estados Unidos, a nova classe média ganhou mais um incentivo para conhecer outros países. Essa parte da população vem sendo beneficiada pela deflação e desvalorizações fortes das moedas mundo afora. Com o dólar e o euro mais baratos e com as empresas aéreas financiando viagens em até 48 vezes, ficou fácil ir para o exterior. A classe C, que até pouco tempo não podia sonhar com um passeio assim, também está começando a consumir esses pacotes.

Primeira vez
“No turismo receptivo, registramos crescimento de 15%, mas as despesas dos brasileiros no exterior têm avançado de forma mais rápida”, disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. A estudante Cecília Lindgren, 24 anos, é uma das milhares de brasileiras que fez a primeira viagem ao exterior recentemente. Passou três meses no Panamá e na Costa Rica em um intercâmbio de estudos. O plano da jovem, antes de terminar o curso de administração na Universidade de Brasília, é fazer pelo menos mais um intercâmbio. “Hoje está muito fácil ir para fora. Dá para parcelar no cartão, viajar por milhas e, se comprar as passagens com antecedência, é possível encontrar várias promoções”, ensinou Cecília.

As receitas com viagens internacionais vem evoluindo em ritmo bem menor que as despesas de brasileiros lá fora. Os gastos dos estrangeiros(1) no país eram da ordem de US$ 403 milhões em junho de 2009 e passaram para US$ 416 milhões em junho último, um acréscimo de apenas US$ 7 milhões. No acumulado do ano, eles deixaram no Brasil US$ 2,94 bilhões nos seis primeiros meses de 2010 contra US$ 2,56 bilhões no mesmo período do ano passado. Além das viagens, pesou também no balanço os gastos com importação de maquinário. Sempre que a economia vai bem, a corrente de comércio aumenta e o país precisa de equipamentos que não dispõe. As despesas com transportes, por exemplo, que ficaram em US$ 1,708 bilhão entre janeiro e junho de 2009, saltaram para US$ 2,925 bilhões no primeiro semestre deste ano.

1 - Perfil comprador
O Brasil é a bola da vez no turismo mundial. Entre 2003 e 2009, enquanto os brasileiros desembolsaram 63% a mais que a média mundial em viagens internacionais, as despesas dos estrangeiros no Brasil cresceram 114%. O volume de recursos estrangeiros não supera os dos brasileiros lá fora porque o perfil de consumo é diferente. “A quantidade de brasileiros que vai ao exterior é menor do que o número de visitantes que recebemos. A diferença é que o brasileiro viaja para comprar”, explicou Jeanine Pires, presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur).


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