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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Minissérie destaca o brilho e a voz que marcaram o Brasil nos anos 1930 ao lado de outro mito: Herivelto Martins



Ana Clara Brant

Publicação: 08/01/2010 07:00 Atualização: 08/01/2010 08:54

Villa-Lobos dizia que ela era a maior cantora popular do país. Maria Bethânia a considera um mito e Cauby Peixoto a elegeu como a voz mais emocionante do Brasil e a intérprete mais brasileira de todas. Todos esses grandes nomes da Música Popular Brasileira se referem à Vicentina de Paula Oliveira, ou simplesmente, Dalva de Oliveira. E quando for ao ar hoje à noite, o último capítulo da minissérie da TV Globo Dalva e Herivelto - Uma canção de amor, certamente a cantora, conhecida como a Rainha da Voz, terá conquistado mais fãs ardorosos, além de Villa-Lobos, Bethânia e Cauby.

Dalva de Oliveira começou a cantar ainda menina, mas sua carreira deslanchou mesmo quando integrou o chamado Trio de Ouro, com Herivelto Martins, que viria a ser seu marido e pai de seus dois filhos, e Nilo Chagas, nos anos 1930.

"Dalva é sem dúvida uma das maiores intérpretes de todos os tempos, de uma passionalidade muito grande, uma estilista incomparável, e com uma qualidade vocal única. Villa-Lobos era seu admirador - e também do Herivelto. A sua voz, com a capacidade de atingir agudos, era apenas um dos seus diferenciais. A afinação, por exemplo, deslumbrava João Gilberto. E sua carreira é pontuada por músicas de extremo bom gosto", comenta o produtor musical, compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho, que foi amigo de Dalva e Herivelto Martins.

Para ele, é extremamente importante e louvável a exibição, em horário nobre, de uma minissérie abordando a história de dois grandes nomes da MPB, mas só lamenta a pouca utilização de gravações originais. "Acho que existe, digamos, um pouco de preconceito com essas 'vozes antigas'. A tecnologia avançou muito, as vozes de Dalva, Chico Alves, Linda Batista e Orlando Silva eram inigualáveis. Mas louve-se a produção primorosa, a reconstituição da época, a direção – que têm sido intocáveis", destaca.

É de se esperar que com esse resgate da história de Dalva e Herivelto comecem a pipocar lançamentos ou relançamentos de coletâneas, livros e afins dos dois artistas, assim como ocorreu no ano passado, quando a Globo exibiu a minissérie sobre a cantora Maysa. De pronto, a Editora Globo já colocou nas lojas uma nova edição do livro Minhas duas estrelas, de Ana Duarte e Pery Ribeiro, filho de Dalva e Herivelto. Essta publicação serviu de inspiração para a autora do seriado, Maria Adelaide Amaral. A assessoria da emissora carioca também divulgou que vai lançar ainda neste semestre o DVD da minissérie e provavelmente também o CD com a trilha da atração.

Quem vivenciou aqueles áureos tempos está matando um pouco a saudade. Esse é o caso da pianista e compositora Neuza França, 89 anos, que chegou a assistir ao vivo às apresentações do Trio do Ouro no auditório da Rádio Nacional, no Rio de Janeiro. "Gostava tanto deles, especialmente da Dalva, que insisti para que meus pais me levassem para ver o show. Era impressionante a performance, principalmente a da Dalva de Oliveira. Além de cantar lindamente, ela mexia as cadeiras, gesticulava", lembra. Neuza, que mora na Asa Sul, conta que eles eram os artistas mais comentados e queridos naqueles anos e que fazia questão de comprar todos os discos. "Eram realmente os maiores cantores da época. Mas a Dalva era o destaque."

O casal
É claro que não se pode falar de Dalva de Oliveira sem citar seu companheiro de vida e carreira, Herivelto Martins. Aliás, amanhã, a TV Cultura reapresentará uma entrevista com Herivelto Martins, na qual ele fala, inclusive, sobre a cantora Dalva de Oliveira. O programa Ensaio, dirigido por Fernando Faro e gravado em 1990, vai ao ar sábado, a partir das 20h.

"É óbvio que o Herivelto tem um papel importante na vida e na carreira dela, mas Dalva foi muito maior. Os fãs da cantora têm até um pouco de birra dele sim, é o que eu percebo, mas a gente não julga ninguém. Teve muito amor entre os dois, então cada um teve a sua parcela de culpa", comenta o estudante Paulo Henrique Lima, 20 anos, um dos principais fãs da cantora e que criou um blog dedicado à Dalva.

O compositor carioca radicado em Brasília Lacyr Vianna, 73 anos, conviveu, quando criança, com o casal, já que seu pai, o também compositor Elpídio Vianna, era amigo de Dalva e Herivelto. Para ele, não é à toa que até hoje ainda são lembrados grandes sucessos de suas carreiras, como Ave Maria no morro e Praça Onze, e que ninguém discute o talento de Herivelto Martins, mas, que individualmente, considera Dalva mais estelar. "Em um determinado período, um complementava o outro. Enquanto Dalva cantava extraordinariamente, Herivelto compunha muito bem. Porém, para mim, ela o superou", acredita Lacyr que, com apenas 8 anos, chegou a viajar certa vez com o casal e se lembra de ter sentado no colo da estrela.

Já o crítico Hermínio Bello de Carvalho, questionado sobre o que pensa dos críticos que afirmam que Herivelto fez sua carreira à custa de Dalva, respondeu: "Essa é uma visão míope que, de tão absurda, me nego a comentá-la. Herivelto foi um compositor em tempo integral, ele fez muitos sucessos fora do Trio de Ouro", salientou.

Blogueiro
Ele mal completou 20 anos e portanto nem era nascido nos idos de 1940, 1950 e 1960, auge de Dalva. Mesmo assim, nutre pela artista uma grande devoção que chegou até a emocionar o filho da cantora, Pery Ribeiro. O estudante mineiro Paulo Henrique Lima, um ex-seminarista que se apaixonou pela voz da estrela, é o criador do único blog dedicado à cantora. "Há uns dois anos, um amigo me enviou duas músicas dela. E eu nunca tinha ouvido falar em Dalva de Oliveira. Quando escutei, de cara já fiquei impressionado com aquela voz. Como ela cantava com sentimento, com amor mesmo. Uma coisa única", descreve Paulo. No fim do ano passado, ele foi convidado pelo próprio Pery para visitar a exposição Dalva e Herivelto, em cartaz em São Paulo.

» DALVA E HERIVELTO - CRÍTICA
Precisa e envolvente

Fosse somente pelo aspecto documental, Dalva e Herivelto - Uma canção de amor já teria seus méritos. Mas com minuciosa reconstituição de época, interpretações convincentes e roteiro enxuto - favorecido pelo número reduzido de capítulos - a minissérie deixa pouco espaço para críticas. Alguns senões - nas cenas do hospital, por exemplo, a voz de Adriana Esteves soa muito segura para uma moribunda - se dissolvem em meio às qualidades da produção. Maria Adelaide Amaral é precisa ao narrar os conflitos do casal, apesar das muitas histórias que poderia explorar numa época tão rica em situações e personagens, como foi a era do rádio. A passionalidade da relação e a transformação disso em música ficam em primeiro plano. Evita assim o didatismo de explicar quem foi Francisco Alves, Orlando Silva, Linda Batista e outras figuras de importância na história da música brasileira, mas que aqui entram adequadamente como meros coadjuvantes. O resultado é uma história envolvente, que dá oportunidades de sobra para Adriana Esteves brilhar e surpreender quem ainda guardava a imagem da atriz insegura do início de carreira. (Rosualdo Rodrigues)
Ouça trechos das músicas:
Ave Maria no morro

Errei, Sim

» Principais sucessos na voz de Dalva:
  • Bandeira Branca
  • Ave Maria no Morro
  • Que será?
  • Kalú
  • Errei, sim
  • Segredo
  • Estrela do mar

» Principais músicas de Herivelto Martins
  • Ave Maria no Morro
  • Praça Onze
  • Da cor do meu violão
  • Que Rei Sou eu?
  • Acorda Escola de Samba
  • Dois corações

» Curiosidades sobre Dalva e Herivelto

O nome de Dalva era na verdade Vicentina Paula de Oliveira. Mas sua mãe, dona Alice, achava que esse não era um nome de uma estrela e a rebatizou de Dalva.

Na primeira versão do filme Branca de Neve e os Sete Anões produzida pelos estúdios Disney, em 1938, Dalva de Oliveira dublou os diálogos da personagem Branca de Neve. O seu filho Pery Ribeiro dava a voz ao anão Dengoso.

Em 1987, Dalva foi homenageada pela escola de samba Imperatriz Leopoldinense com o enredo Estrela Dalva. Um ano antes, a União da Ponte teve como enredo Herivelto Martins. O amigo Hermínio Bello de Carvalho afirma que, o cantor, mangueirense fanático, guardou uma certa mágoa por nunca ter sido homenageado por sua escola do coração e foi então que prestou uma homenagem a ele: quando Herivelto fez 80 anos, Hermínio juntou uma parte da bateria da Mangueira, e foi para a porta da casa dele, na Urca. E ele foi lá dentro e pegou seu célebre apito, como quem comandava sua mini escola de samba.

Aliás, Herivelto, foi um dos compositores que mais escreveu sambas para a Estação Primeira de Mangueira. Alguns afirmam que ele foi até o que mais compôs para a verde-e-rosa até hoje.

Dalva de Oliveira excursionou pela Europa e chegou a cantar até para a Rainha Elizabeth II, na Inglaterra.

Herivelto Martins foi assistente de Orson Welles, quando o astro e diretor de Hollywood – então no auge da fama – aportou ao Rio para filmar o inacabado "It’s all True". Herivelto, que estava na boca do povo com "Praça Onze" (campeã do carnaval de 1942), andava de cima para baixo com Welles a tiracolo, levando-o a todas as biroscas de samba. Algumas dessas noites de boêmia acabaram no apartamento de Herivelto, atrás do Cassino da Urca , quando Welles só acordava depois das duas da tarde.

O primeiro disco do Trio de Ouro trouze a marchinha da carnaval Ceci e Peri, de autoria de Príncipe Pretinho. Na época em que gravaram o disco, Dalva estava esperando seu primeiro filho, e o público escrevia pedindo que, se fosse um menino, eles o batizassem de Pery, e, se fosse menina, Ceci. Foi o que aconteceu quando deu à luz ao futuro cantor Pery Ribeiro.



Sulamérica Trânsito












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