O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, finalmente visitou o Brasil nesta semana. Ahmadinejad chegou dizendo, em entrevista à Rede Globo, que Luiz Inácio Lula da Silva era seu "grande amigo". Os discursos e imagens de afeto mútuo entre os dois em Brasília reforçaram tal ideia. Não se trata de amizade nos termos do cidadão comum, claro. Logicamente, a aproximação de líderes nacionais tende a ser definida muito mais pelos interesses políticos. Mas ambos mostraram-se tão à vontade na defesa de posições semelhantes para questões internacionais (necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, direito de todo país à energia nuclear pacífica...) que, no meio político, é possível imaginar que Lula e Ahmadinejad sejam realmente hoje "grandes amigos".
Em análises publicadas aqui no exterior sobre Lula, um dos elogios mais comuns sempre foi em relação à sua capacidade de dialogar com líderes das mais diferentes tendências políticas. Lula, dessa forma, foi amigo de George W. Bush e já se tornou grande amigo de Barack Obama. É amigo de Dmitry Medvedev, Hu Jintao e continua sendo amigo dos "inimigos" Hugo Chávez e Álvaro Uribe ou Shimon Peres e Mahmoud Abbas. Mas Lula, com sua crescente influência internacional e a necessidade de o Brasil se posicionar em temas mais delicados, sabe que, mesmo com sua fantástica habilidade nas relações político-pessoais, não é possível ser amigo de todo mundo o tempo todo.
Dessa maneira, Lula já coleciona inimizades. O mais notório "inimigo" do líder brasileiro é Roberto Micheletti, que tomou o governo de Honduras após a deposição do presidente Manuel Zelaya, em junho deste ano. Os dois já bateram boca por meio da imprensa, com Lula referindo-se a Micheletti como "golpista". Lula também acaba de reafirmar que não reconhecerá um governo hondurenho nascido das eleições marcadas para este domingo, dia 29. Como o apoio a Zelaya em Honduras está longe de ser unânime, e o país caminha para uma alternativa política não aceita ainda pelo Brasil, está claro que muita gente em Tegucigalpa não gosta do presidente brasileiro.
Os Estados Unidos pensam de forma diferente de Lula. Para Washington, as eleições hondurenhas são uma solução interessante para uma incômoda crise num país bastante próximo ao território americano, mas de importância estratégia muito modesta. Eleições diretas para a composição de um governo de união nacional é uma saída comumente pregada pelo Departamento de Estado americano para países em crise. Em Honduras não está sendo diferente, e os Estados Unidos deverão legitimar o futuro governo eleito. Isso colocou, segundo relato do jornal espanhol El País, a relação entre Barack Obama e Lula em dificuldades. Para piorar, e voltando ao presidente do Irã: como os Estados Unidos tentam isolá-lo internacionalmente, por causa das ambições nucleares do país dos aiatolás, as fotos de Lula sorridente ao lado de seu amigo Ahmadinejad em Brasília não devem ter caído bem na Casa Branca.
Lula tem sido um mestre nas relações internacionais ao manter um bom diálogo com líderes de todos os tipos, mesmo aqueles que não conversam entre si. Mas o presidente brasileiro, ao se aliar a um lado específico de uma crise política e fazer amizades polêmicas, terá de se acostumar a ter inimigos ou ver amizades esfriarem de vez em quando.Sphere: Related Content