'Do começo ao fim', de Aluizio Abranches, causa polêmica antes mesmo da estreia
Publicada em 13/05/2009 às 09h42m
Mauro Ventura
RIO - O cineasta Aluizio Abranches recebeu na quinta-feira à tarde um telefonema do produtor Fernando Libonati: "Tá na rede. Vazou." Ele se referia a um promo - filme promocional - de quatro minutos de "Do começo ao fim", previsto para estrear no segundo semestre.
Veja o promo de "Do começo ao fim"
- Deu um frio na barriga quando eu soube. Fiquei muito nervoso. É muito cedo - diz Abranches.
A divulgação prematura também atrapalhava a estratégia de lançamento de um filme com temática polêmica: "Do começo ao fim" trata de um romance entre dois irmãos. Escrito e dirigido por Abranches ("Um copo de cólera" e "As três Marias"), conta a história da médica Julieta (Julia Lemmertz). Ela tem dois filhos: Francisco (Lucas Cotrim, quando criança, e João Gabriel Vasconcelos, na fase adulta), com o primeiro marido, o empresário Pedro (o argentino Jean-Pierre Noher); e Thomás (Gabriel Kaufman e Rafael Cardoso), com o atual marido, o arquiteto Alexandre (Fabio Assunção). Rosa (Louise Cardoso) é a melhor amiga de Julieta. Os dois meninos têm uma diferença de idade de seis anos. Eles desenvolvem uma relação mais íntima do que o normal. A mãe percebe, mas diz: "O que posso fazer?".
- É algo que vai acontecendo naturalmente - diz Abranches.
Diretor quis falar de uma "forma feliz"
O filme dá um salto de 15 anos, até o enterro da mãe, quando os rapazes têm 20 e 26 anos. Eles se relacionam e enfrentam uma separação, quando o mais novo vai morar na Rússia, treinando para as Olimpíadas. O diretor fugiu dos clichês, de mostrar pais abusadores, filhos que vivessem sem maiores contatos com o mundo exterior e castigos moralistas.
- É uma família amorosa, libertária, os pais se dão bem. Os irmãos não vivem num lugar ermo, em que não tivessem oportunidade de conhecer outras pessoas. Quis falar do assunto de forma feliz, que não fosse um bode. Por que toda vez que se fala de incesto é de forma trágica?
Mesmo sabendo que está abordando um tema para lá de controverso, Abranches diz que o objetivo principal não foi a polêmica.
- São dois assuntos espinhosos, incesto e homossexualismo, mas acima de tudo quis contar uma história de amor. E que não tivesse um julgamento nem levantasse bandeiras.
Para tanto, optou por falar de forma carinhosa.
- São movimentos lentos. É tudo muito suave no filme. Queria um clima harmonioso - diz ele, elogiando a fotografia do suíço Ueli Steiger, que fez filmes como "Godzilla", "O dia depois de amanhã" e "O patriota".
Ele mostrou o primeiro corte do filme - ainda faltam a edição de som, a música, a mixagem e a finalização da imagem - para amigos.
- Em primeiro lugar, eles têm elogiado o talento da Julia. Em seguida, a beleza do filme. Depois, a delicadeza como o tema foi tratado. E, por fim, qual dos dois atores é mais bonito. Aí já estou rindo de orelha a orelha, porque é sinal de que todas as outras discussões já aconteceram.
Mas Abranches enfrentou reações de possíveis patrocinadores.
- Foi difícil à beça de vender. Levei vários "nãos". Diziam que o conselho da empresa não ia aceitar um tema desses, alegavam problema de verba. São assuntos tabus.
Teve quem sugerisse a troca por duas irmãs. Um dos patrocinadores, que disse ter gostado de "O segredo de Brokeback Mountain", saiu da sala, voltou e falou: "Vem cá, será que não poderiam ser dois primos, em vez de dois irmãos?". Ele explicou que não teria a mesma força. O empresário acabou patrocinando. Foi um dos dois únicos que o diretor conseguiu, num total de R$ 200 mil. Com um detalhe: exigiram anonimato. Abranches também ganhou um prêmio espanhol de pouco mais de US$ 100 mil, do fundo Ibermedia.
- O resto do dinheiro é nosso mesmo, e empréstimo em banco.
O filme é uma co-produção dele e da Pequena Central, de Marco Nanini e Fernando Libonati, e terá distribuição da Downtown, de Bruno Wainer.
Depois que as imagens foram parar no YouTube, o panorama econômico começa a mudar.
- Começou um minimovimento de procura.
Ele garante que o vazamento do DVD promo - exibido para alguns investidores - não foi intencional.
- Quando soube, fui logo ao YouTube e já tinha dois mil acessos. Liguei na hora para um amigo, que conhece um especialista em internet. Queria tirar da rede. Esse homem falou que eu podia botar no YouTube como se fosse invasão de privacidade ou tentar bloquear. Mas lembramos do caso da Daniela Cicarelli (que tentou remover um vídeo em que aparece com o namorado em uma praia da Espanha). Quando olhamos de novo, já havia duas páginas com o promo. Ele falou que eu podia ligar para essas duas pessoas e pedir para retirar. Mas, quando vimos de novo, já eram dez páginas.
O jeito foi relaxar. O risco agora é a pirataria. Está sendo aplicada marca d'água em cada cópia.
- Estou morrendo de medo.
A ideia surgiu em 2004, um ano antes do curta-metragem "Starcrossed", que vem sendo comparado a "Do começo ao fim". O filme também fala do amor proibido entre dois irmãos, mas o fim é bem diferente.
- Nunca tinha visto. Vi agora, não tem nada a ver - diz Abranches.
Os quatro atores que vivem os irmãos foram escolhidos por testes.
- Já Julia, ao ler o texto, disse: "Nossa, nunca vi um roteiro tão delicado." E Fabio falou: "Nunca fiz um filme assim. Tô doido para fazer."
A julgar pelos comentários postados na internet, a melhor opção foi não bater de frente com a rede.
- A Julia brincou dizendo: "Vão ter que inventar um Bonequinho de queixo caído" - diz Abranches, referindo-se à cotação da crítica do GLOBO. Alguém sugeriu: "Ou dois Bonequinhos de mãos dadas."
Pelo que se viu até agora, mais provável são os aplausos.
domingo, 28 de junho de 2009
FÁBIO ASSUNÇÃO DO COMEÇO AO FIM
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