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quarta-feira, 1 de abril de 2009

'Alfaiates' do livro restauram obrasde todas as épocas




por JOANA DE BELÉM

Para quase todas as enfermidades de uma obra literária há solução na Invicta Livro, oficina de encadernação e restauro que cria autênticas obras de arte através de técnicas artesanais. É um dos quatro 'ateliers' do mundo a praticar o foredge painting, que consiste em pintar aguarelas no corte da frente das folhas.

São autênticos alfaiates de livros os homens de aperto de mão vigoroso que traçam uma nova vida para as obras literárias que entram na Invicta Livro, no Porto. Alfaiates pelo uso de métodos artesanais e sob medida, sem fórmulas padronizadas, através dos quais encadernam e restauram volumes de todas as épocas, mas também cirurgiões pelo trabalho de precisão, atento ao pormenor, sem espaço para falhas que possam danificar autênticas preciosidades que aqui recuperam a vitalidade.

À entrada da oficina, situada num antigo edifício da Praça da República, as prateleiras de uma estante em madeira ostentam orgulhosamente alguns dos trabalhos mais emblemáticos ali concebidos. Entre elas, uma impressionante edição comemorativa do 1º Centenário da Morte de Eça de Queiroz. A lombada é pintada a ouro de lei e, no corte da frente das folhas, foi aplicado o foredge painting (ver coluna da página à direita), técnica inventada no século XVII e que na Península Ibérica só é praticada pela Invicta Livro. No mundo, existem apenas mais três ateliers a fazê-lo: Dois em Inglaterra e um nos Estados Unidos. Para além desta especificidade, "com esta qualidade artística não existe mais nenhuma oficina no País", afiança José Mário Santos, o engenheiro civil que de coleccionador se transformou em empresário do ramo.

"Aqui trabalha-se o livro conforme o estilo, não podemos restaurar ou encadernar um surrealista da mesma forma que o realismo de Eça de Queiroz ou o romantismo de um Almeida Garrett", explica, enquanto manuseia um Pacheco versus Cesariny, do "libertino" e polémico Luiz Pacheco. Tal como este, entram infelizes e saem luminosos os livros que clientes de todo o País enviam para a Praça da República."Chegam rasgados, bichados, sujos, com humidade" e para quase tudo há solução.

Uma primeira edição de Contos de Eça de Queiroz apanhou água na capa e primeiras páginas, que já estão ser lavadas e secadas na horizontal, para não deformarem. "Há livros antigos que podem ser lavados as vezes que se quiser, porque as folhas são de uma espécie de trapo, uma fibra muito resistente", conta, antes de explicar que as páginas são posteriormente alinhadas, cosidas à mão, seguem para o empaste (colocação de cartões a cobrir a brochura), a cobertura, os dourados e, finalmente, o acabamento. Um processo longo que depende do estado em que a obra se encontra. Há livros que devem ter "demorado cinco a seis anos a restaurar", mas o período normal é entre um mês a meio ano. Os valores, esses, podem ir dos 28 euros "até ao infinito".

Em prateleiras, peles finas de várias cores aguardam chamada para fazer embutidos nas capas. Bem perto, cinco móveis repletos de gavetas com ferros usados para decalcar desenhos com o auxílio de uma alavanca. Os ferros manuais estão alinhados por séculos (o mais antigo data do século XVI), todos classificados e motivo de orgulho. "Temos até ferros de mão de D. Carlos."

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