Assim como se descolou do mensalão e de otras cositas más, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se descola agora da crise econômica que derruba as expectativas de crescimento e os níveis de emprego, no Brasil e em todo o mundo, em 2009.
Como já disse o senador, ex-ministro e ex-governador Cristóvam Buarque, com fina e realista ironia, "tudo o que é bom foi o Lula quem fez, e tudo o que é ruim, a culpa é dos outros".
O que é bom: a estabilidade da moeda; o Proer, que fortaleceu o sistema financeiro interno; as privatizações, que deram impulso inédito a setores como a telefonia; e a inserção internacional, produtos da era de Fernando Henrique Cardoso que agora entram na contabilidade favorável de Lula --que, aliás, se referia a coisas assim como "herança maldita", lembra?
O que é ruim: a crise em si, a queda na previsão do crescimento e o aumento do desemprego, os solavancos nas Bolsas, tudo isso é culpa dos outros: os Estados Unidos, o George W. Bush, o mundo desenvolvido. Só, neste caso, Lula tem razão. Ou seja: tem discurso. E as pesquisas já mostram que a população, já disposta a acreditar, porque acredita em tudo o que Lula diz, agora tem boas razões para isso.
De um lado, a economia brasileira estabilizada pela faxina tucana e depois fortalecida pelos fantásticos ventos favoráveis que sopraram no mundo inteiro, e na América Latina em particular, em 2007 e 2008. De outro, o fato de que a crise começou no coração da maior potência e se alastrou para todo o mundo rico, principalmente para a Europa.
Resultado: Lula junta as duas duas pontas e sai sorridente por aí ensinando aos EUA e à Europa o quê, como e quando fazer. Até o Proer, para sanear os bancos!
A não ser que haja uma hecatombe não prevista, portanto, crise não vai contra Lula, mas a favor. Como escrevi na Folha no último domingo, ele espera que "a conjunção crise, posse de Obama e nova arquitetura financeira internacional catapulte o Brasil como protagonista internacional". E ele, como um líder emergente.
Já mandou carta para o presidente da França, Nicolas Sarkosy; foi o terceiro líder estrangeiro a se encontrar com Obama na Casa Branca e vai receber o primeiro-ministro britânico Gordon Brown na quinta da próxima semana.
Depois, tem reunião da "liderança progressista" no Chile, Cúpula das Américas em Trinidad Tobago e G20 em Londres. Na crise, os líderes das grandes potências baixam a crista. E Lula canta de galo.
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Atualização da última Pensata "Uma atrás da outra": depois do castelo, do casarão e do pagamento de horas "extras" sem horas "ordinárias", continuam saindo podres do Congresso.
Vamos ao Senado: "nepotismo terceirizado", o filho do diretor que morava em apartamento funcional, o Sarney mandando seguranças pagos com dinheiro público para o Maranhão (e ele é eleito pelo Amapá!) e a Roseana presenteando os amigos com passagens aéreas da cota de senador para o fim de semana na residência oficial da presidência.
Como a gente ia dizendo, o nível de desgaste do Congresso está ficando insuportável.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília. |
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