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sábado, 12 de julho de 2008

Operação Satiagraha da PF apreendeu dinheiro que seria usado para subornar delegado

Operação Satiagraha da PF apreendeu dinheiro que seria usado para subornar delegado; banqueiro Daniel Dantas teria oferecido US$ 1 milhão para que seu nome e de outros 'cabeças' do grupo Opportunity fossem retirados das investigações

Grupo de Dantas movimentou US$ 2 bilhões em paraísos fiscais, diz PF

Fabiana Uchinaka
Em São Paulo
Atualizado às 17h52

O banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e o mega-investidor Naji Nahas, presos na manhã desta terça-feira (8) durante a operação Satiagraha, deflagrada pela Polícia Federal, encabeçavam dois grupos criminosos que, associados, faturaram no mercado de ações mediante informações privilegiadas e lavaram dinheiro em paraíso fiscais. Segundo o Ministério Público Federal, o grupo de Dantas movimentou entre 1992 e 2004 quase US$ 2 bilhões por meio do Opportunity Fund, uma offshore nas Ilhas Cayman, no Caribe.

As investigações da PF apontam que Dantas era cliente de Nahas e usava o grupo do investidor para lavar dinheiro no mercado financeiro. Nahas comandava um esquema com doleiros que praticavam fraudes no mercado de capitais usando informações privilegiadas. "Eles tinham 'megacontatos' e se privilegiaram de informações do mercado financeiro, como do Federal Reserve (Fed, o BC americano), por exemplo", afirmou o procurador da República Rodrigo de Grandis.

O ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, também preso durante a ação, é acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Ele, que também era cliente de Nahas, teve operações financeiras ilegais interceptadas pela PF durante as investigações. "Tudo indica que o dinheiro de Pitta vinha do exterior. O grupo de Nahas gerenciava um fundo que ele tem nas Ilhas Cayman", disse Protógenes Queiroz, delegado da Polícia Federal responsável pelo caso. Ele, no entanto, diz que ainda não pode confirmar que o dinheiro foi desviado da prefeitura de São Paulo. "Mas ele não tem uma atividade hoje que justifique o recebimento desses valores", completou.

As investigações da PF e do MP começaram há quatro anos, a partir de documentos sobre o caso mensalão enviados pelo Supremo Tribunal Federal à Procuradoria da República no Estado de São Paulo. Na apuração, as empresas Telemig e Amazônia Celular (das quais o Banco Opportunity, de Dantas, é acionista) aparecem como financiadoras do valerioduto.

Escutas telefônicas e interceptação de dados levaram ao grupo de Dantas, que, segundo a PF, usava uma "infinidade de empresas" de fachada para encobrir desvios de dinheiro público. "O esquema de Dantas era tão complexo que nem ele sabia o volume de dinheiro que operava", afirmou, durante entrevista coletiva, o delegado Queiroz, que cooordenou a investigação. Ele calcula que o esquema tenha movimentado bilhões de reais.

Informações privilegiadas

Segundo relato do juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, no documento que determina as prisões, Nahas teria como saber, com antecedência, a decisão do Fed acerca da taxa básica de juros dos EUA


Além de evasão e formação de quadrilha, o grupo de Dantas cometeu também gestão fraudulenta, concessão de empréstimos vedados (empréstimos entre empresas do mesmo grupo) e corrupção ativa.

"Estas organizações criminosas estavam muito bem organizadas e segmentadas, com muitas pessoas infiltradas em órgãos. Eram dois grupos, um liderado pelo Dantas e outro pelo Nahas. Eles interagiam e convergiam em alguns negócios", explicou Queiroz.

O grupo de Nahas era usado como um banco, um mercado de câmbio informal da onde, por exemplo Celso Pitta e Dantas, sacavam altas quantias de dólares. Os suspeitos são acusados de formação de quadrilha, operação de instituição financeira sem autorização, uso indevido de informação privilegiada e lavagem de dinheiro.

O juiz federal Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro, decretou a prisão temporária de 22 pessoas e mais duas prisões preventivas, sendo 10 pessoas ligadas a Dantas (como os sócios Verônica Dantas e Carlos Rodemburg) e mais 10 ligadas a Nahas (entre elas, Celso Pitta e os doleiros Carmine Enrique, Miguel Jurno Neto e Lúcio Bolonha Funaro). Dantas foi preso no Rio de Janeiro e transferido para São Paulo e Nahas e Pitta foram presos em suas residências na capital paulista. No total, foram realizadas 15 prisões em São Paulo, nove no Rio de Janeiro, uma na Bahia e uma no Distrito Federal.

Greenhalgh nega acusações

O advogado e ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh negou, em nota enviada à imprensa, participação na articulação para descobrir informações sobre as investigações da operação Satiagraha, da PF


O Ministério Público Federal também pediu a prisão do advogado e ex-deputado federal pelo PT Luiz Eduardo Greenhalgh e de Guilherme Sodré, que, segundo o procurador Rodrigo de Grandis, faziam "parte da quadrilha agindo junto ao Poder Executivo com a finalidade de descobrir circunstâncias das investigações [da PF], que, por determinação legal, são sigilosas". Greenhalgh é citado em grampos telefônicos por meio de apelidos como Leg e Gomes, já Sodré aperece como Guiga. A Justiça entendeu que não existiam fundamentos suficientes para decretar prisão dos dois.

Vazamento e suborno
As prisões preventivas foram direcionadas a duas pessoas, que, a mando de Dantas, ofereceram US$ 1 milhão para um delegado federal que participava das investigações para que ele tirasse o nome de Dantas e de Verônica do inquérito policial. Sabe-se que o grupo de Dantas teve acesso a informações sigilosas por meio de vazamento, que está sendo investigado pela polícia.

O delegado que recebeu a tentativa de suborno relatou o fato ao juiz, que autorizou uma ação controlada, ou seja, os contatos continuaram com o intuito de se obter mais informações e provas. O grupo chegou a dar R$ 129 mil ao policial e pediu que o arqui-inimigo de Dantas, Luiz Roberto Demarco, fosse investigado.

Na casa de Hugo Chicaroni, que também foi preso hoje, foi encontrado R$ 1 milhão que seria usado para pagar a propina.

Operação
De acordo com a Polícia Federal, foram expedidos 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão. No total, cerca de 300 policiais de quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília) trabalharam na operação.

Por volta das 6h30, cerca de 20 agentes da PF em cinco carros chegaram à sede do Banco Opportunity, no Rio, onde realizam uma varredura nos computadores e documentos da instituição.

O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, disse em entrevista à "GloboNews" que a prisão do banqueiro é "arbitrária e desnecessária". "Daniel Dantas é um empresário reconhecido pela competência e vem sendo estigmatizado como se fosse transformado em inimigo público", disse.

Dantas soube da operação da PF há dois meses

Personagem crucial no processo de aquisição da Brasil Telecom pela Oi, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, e seus principais sócios e executivos estavam no alvo da Polícia Federal desde o mês de abril, sendo investigados por supostos crimes financeiros após informações encontradas em computador

"A ação da PF revela precipitação e mostra que muitas da medidas são anunciadas antes pela imprensa", disse Machado. "Há mais de dois meses o jornal Folha de S. Paulo dizia que essa operação ia acontecer e quando solicitamos informações à polícia nos negaram".

A advogada do ex-prefeito Celso Pitta, Ruth Stefanelli, foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou. Já o advogado que representa Naji Nahas ainda não foi localizado. Durante entrevista coletiva organizada pela PF hoje em São Paulo, os advogados de ambos não falaram com a imprensa.

Foram decretadas também as prisões temporárias de Verônica Dantas (irmã de Daniel e parceira de negócios), Carlos Rodemburg (sócio e vice-presidente do banco Opportunity), Daniele Ninio, Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro, Dorio Ferman, Itamar Benigno Filho, Norberto Aguiar Tomaz, Maria Amália Delfim de Melo Coutrin e Rodrigo Bhering de Andrade.

Do grupo de Naji Nahas, foram decretadas a prisão também de Fernando Nahas (filho), Maria do Carmo Antunes Jannini, Antonio Moreira Dias Filho, Roberto Sande Caldeira Bastos, os doleiros Carmine Enrique, Carmine Enrique Filho, Miguel Jurno Neto, Lúcio Bolonha Funaro e Marco Ernest Matalon

Envolvidos
Neste ano, Celso Pitta já foi considerado culpado pelo "escândalo dos precatórios" pela Justiça Federal, que imputou-lhe uma pena de quatro anos de prisão.

Naji Nahas ficou conhecido nacionalmente depois de ter sido acusado como responsável pela quebra da Bolsa de valores do Rio de Janeiro, em 1989. Após todos os processos referentes a este caso terem sido julgados, o empresário foi absolvido de todas as acusações.

Daniel Dantas é preso quase três meses após fechar um dos maiores negócios do mercado de telecomunicações brasileiro: vendeu suas participações na Brasil Telecom e Telemar (Oi) por cifra equivalente a 1 bilhão de dólares. A operação de hoje não tem relação com a operação Chacal (caso Kroll), no qual Dantas já responde a ação penal.

*Com informações da Reuters

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