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quarta-feira, 9 de abril de 2008

O coronel e o lobisomem

Pode ser que você nunca tenha ouvido falar no nome dele. Mas referências não faltam a Maurício Farias. O cara é filho do cineasta Roberto Farias (diretor de “Assalto ao trem pagador”) e irmão de Lui Farias. Maurício é casado com a atriz Andréa Beltrão e assina a direção do seriado “A Grande família”, além de minisséries, como “Hilda Furacão”. Achou pouco? O diretor é um sujeito tranqüilo, confiante quanto à sua estréia em longas metragem em “O coronel e o lobisomem” e, principalmente, quanto à parceria e amizade com Guel Arraes. E aliás, que amizade. O diretor e produtor pernambucano poderia ter dirigido esse fechamento da “trilogia da comédia popular”, mas passou a regência para o parceiro que, segundo ele, teria “um olhar novo e trataria o material com mais originalidade e criatividade”. Duvida? Então, confira abaixo o que o próprio Maurício tem a dizer a seu favor.


O diretor durante a coletiva de lançamento do filme em BH

Pílula Pop: Você já tem bastante experiência com direção na TV, como “A grande família” e “Hilda Furacão”. Quais as diferenças e as dificuldades que você encontrou ao dirigir um longa?

Maurício Farias: A minha maior dificuldade foi fazer da equipe uma nova família. Porque o elenco já trabalhava comigo na TV, mas a equipe não. Acredito no trabalho em grupo, daí minha afinidade com o Guel [Arraes]. Quando a gente se encontrou na televisão, e nós dois já trabalhamos juntos há seis anos, foi um cruzamento de tendências, até mesmo na prática. Então, a minha maior dificuldade foi criar essa família, fazer com que ela caminhasse com intimidade e animação - o que é preciso se ter, com certeza, num filme.

Pílula Pop: Como foi a primeira experiência no comando de um longa metragem e como foram as filmagens em Minas Gerais?

Maurício Farias: Eu me senti muito bem, porque estava bem acompanhado. Quando se tem esse apoio total e irrestrito, como eu tive em “O coronel e o lobisomem” é muito bom, porque direção é um trabalho muito solitário. Todas as decisões pesam sobre as suas costas: contas, erros, acertos. É muito importante ter parceiros, como o Guel e a Paula, com quem você pode dialogar à altura sobre todos os aspectos da produção. As decisões eram tomadas de igual para igual, ao mesmo tempo em que a minha opinião era respeitada - a escolha do elenco, por exemplo, foi minha. Foi uma felicidade para mim. Quando o Guel me chamou para fazer o filme e me mostrou o roteiro, eu tinha bem claro que o caminho que eu devia seguir era algo na linha do realismo mágico. Comprei na hora a idéia de filmar em Minas, já que eu conhecia aqui. Já havia gravado na Praça da Liberdade em “Hilda Furacão”. E em Tiradentes também.

Pílula Pop: E como você encara as comparações com o “Estilo Guel” de direção?

Maurício Farias: É uma afinidade que eu tenho com o Guel. Já trabalho com ele na TV há anos. É um mestre na comédia, na narrativa. O texto e a adaptação eram do Guel e isso já traz em si um caminho. Os atores e os parceiros também contam para essa visão, porque já têm essa mesma grife “Guel Arraes” associada. É o estilo de um grupo, mas não é a mesma direção. Eu acredito no que está feito e eu não fiz nada copiando, fiz o que eu achava melhor para cada cena.


O elenco: Selton Mello, Lúcio Mauro Filho e a esposa de Maurício, Andréa Beltrão

Pílula Pop: Assistindo ao filme, percebe-se que o elenco está muito a vontade na atuação e nos diálogos. O filme teve muito de improvisação ou vocês se fixaram mais no que estava no roteiro?

Maurício Farias: O tipo de trabalho que eu faço praticamente não dá espaço para o improviso. Apesar desses atores serem capazes de qualquer coisa, mesmo (risos). Mas a gente ensaiou muito, ficamos um mês trabalhando bastante cada cena antes de filmar. A gente se entende bem, trabalha há muito tempo junto. É isso, somado aos ensaios, à seriedade e à forma como esse grupo trabalha, que resultou nesse conforto.
***Nesse momento, alguém chega dizendo que o tempo está acabando e atropela minha entrevista. Paciência. E um pouco de insistência***

Pílula Pop: Esse ano tem sido de vacas magras para o cinema nacional. Somado a isso, ainda existe o sucesso do “Auto da compadecida” e de “Lisbela e o prisioneiro” que, de certa forma, precedem “O coronel e o lobisomem”. Como está a expectativa para o lançamento do longa?

Maurício Farias: A expectativa é enorme. Eu espero que o maior número de pessoas goste e que faça o maior sucesso possível. A gente sabe que não adianta, mas sofre, sofre, sofre. Agora, porém, o próprio filme responde por ele mesmo. E são as pessoas que vão ver - e vão gostar ou não. Espero que elas gostem porque ele foi feito de uma maneira muito bacana e muito caprichada.


A bela Ana Paula Arósio, os produtores Paula Lavigne e Guel Arraes e o diretor

Pílula Pop: Com tanto trabalho de pós-produção, tem alguma cena ou alguma coisa que você gostaria de refazer ou melhorar no filme, depois de pronto?

Maurício Farias: Eu, como diretor, considero-me um obsessivo. Essa coisa não tem fim. Todo trabalho que você faz, vai sempre querer refazer alguma coisa. Mas estou muito satisfeito, acho que o filme está excelente. Gosto do meu trabalho no filme, dos atores, da produção, da direção de arte e fotografia, do figurino – está tudo bem legal. Se tivesse mais condições, mais tempo, é claro que a gente sempre faria melhor, né? Mas eu tive bastante conforto para filmar, fiz praticamente tudo da forma que tinha imaginado.

Pílula Pop: E qual a sua cena preferida no filme?

Maurício Farias: Gosto da passagem de tempo, logo que a Esmeraldina vai embora. As cenas dele comendo na cozinha, a barba dele cresce. Ele dormindo escondido com o olho para fora, depois virando coronel. Gosto da cena no trem em Tiradentes também, acho uma seqüência linda. E o Selton aparecendo por trás é bacana. Mas o filme tem de tudo: diversos exercícios de direção. Desde ritmo a algumas virtuoses de câmera. E gosto muito do julgamento, acho que se fosse para citar, as cenas do tribunal, realmente, são as mais interessantes.

por Daniel Oliveira

O coronel e o lobisomem

(Brasil, 2005)

Dir.: Maurício Farias
Elenco: Diogo Vilela, Selton Mello, Ana Paula Arósio, Pedro Paulo Rangel, Tonico Pereira, Othon Bastos, Andréa Beltrão, Lúcio Mauro Filho, Francisco Milani, Marco Ricca

Princípio Ativo:
Grife Guel Arraes

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Tem elenco do Guel Arraes. Tem roteiro do Guel Arraes. Tem produção do Guel Arraes. Tem a cara do Guel Arraes. Preste bem atenção, não estou dizendo que seja um filme do Guel Arraes. Até que não é. “O coronel e o lobisomem” pode completar a tal “trilogia da comédia popular” – que já é, pelo menos, uma quadrilogia, com o anúncio de “O bem amado” em longa metragem. Mas tem traços próprios, para o bem e para o mal, que salvam o diretor Maurício Farias da acusação de “Guel Arraes with lasers” (ou with lobisomem digital).

Adaptado do livro de José Cândido de Carvalho, o longa conta a saga do Coronel Ponciano (Diogo Vilela), um Dom Quixote do romance regionalista nacional. Ele é criado junto com o filho do capataz, Pernambuco Nogueira (Selton Mello) e os dois se apaixonam por Esmeraldina (a bela Ana Paula Arósio), prima do coronel. Quando um lobisomem aparece na região da fazenda, os moradores suspeitam de Pernambuco e Ponciano questiona a lealdade do amigo.

Estreante em longas, Maurício Farias tem longa experiência na televisão e sua direção de atores é segura e competente. A adaptação respeita o texto rebuscado de José Cândido, cheio de períodos longos e neologismos, à la Graciliano Ramos. Isso faz com que o filme seja guiado pelos diálogos e interpretação. O elenco é o grande destaque do filme, dominando um texto desafiador, especialmente Pedro Paulo Rangel, que rouba a cena como o enxerido Seu Juquinha, empregado da fazenda.

O quesito técnico não decepciona, com fotografia e direção de arte extremamente bem cuidadas, auxiliadas por efeitos visuais de qualidade incomum no cinema brazuca. A Digital 21, empresa responsável pelos efeitos e co-produtora do longa, ainda teve o desafio de criar a fera do título, em uma seqüência que poderia ter ficado ridícula, mas que surpreende e não compromete a proposta do filme. Na trilha, Caetano Veloso repete a função de “Lisbela e o prisioneiro” e “Dois filhos de Francisco”, mas dessa vez com a parceria de Milton Nascimento, que combina o estilo e os acordes das canções com a beleza das locações mineiras.

Com tudo isso, “Coronel” é excelente, você me diria. Não é para tanto. Maurício Farias é bom com os atores, tem bons momentos como as seqüências do julgamento, mas peca um pouco no ritmo. E a solução final não faz jus ao resto do roteiro. Assim como as músicas recentes de Caê e Milton, você reconhece a qualidade e o primor técnico, mas sabe que não chegam aos pés do arrebatamento das canções da fase áurea dos emepebistas. Nada que os olhos de Ana Paula Arósio não consigam superar.

Arósio: bonita, até de olhos fechados

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