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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Amor, loucura e morte social num clássico cinqüentenário





Lygia Fagundes Telles, a autora do livro Ciranda de Pedra, prefere não dar palpites quando o assunto é a adaptação de suas obras . Não deu na primeira versão, de 1981, assinada por Teixeira Filho, e não será agora que a dama da literatura brasileira vai intervir. A própria escritora já teve uma desagradável experiência ao adaptar a obra de outro autor - no caso, nada menos que o Dom Casmurro - e ver no cinema algo bem diferente do que havia escrito no roteiro, feito em parceria com o marido Paulo Emílio Salles Gomes.

Portanto, considera normais algumas modificações em seu romance, como a supressão do lesbianismo da tenista Letícia ou a camuflagem da impotência de Conrado. ''Acho até bom, porque há tanto sexo nas novelas hoje em dia que Ciranda de Pedra vai inovar com essa sexualidade velada'', brinca, lembrando a resistência com que a sociedade da época recebeu o romance, finalmente lido por recomendação dos maiores críticos literários da época (e republicado este mês pela Rocco). ''Em 1954 não se podia falar de homossexualidade, impotência e suicídio, e creio que até hoje temas como o último continuam tabus'', diz, referindo-se ao caso do filósofo vienense André Gorz, que cometeu duplo suicídio com sua mulher, em setembro do ano passado.

Em Ciranda de Pedra, quem se mata é o médico Daniel, por não suportar a morte da companheira Laura. ''É estranha essa ligação com o suicídio de Gorz anos depois, mas entendo que grandes amores como o dele por Dorrine ou o de Daniel por Laura levem à morte, pois são experiências intensas'', diz, lembrando que, no caso de Laura, a deterioração de seu estado mental corresponde a uma morte social , antes da morte física. Vale lembrar: o desajuste que leva à loucura e ao confinamento tampouco era um tema incomum em 1952, quando Lygia começou a escrever Ciranda de Pedra. Foucault só trataria disso duas décadas mais tarde.

Lygia, claro, tem consciência de seu pioneirismo, mas diz que não foi uma provocação deliberada. O livro nasceu de um passeio romântico por Higienópolis. Ela entrou num casarão demolido e, ao ver uma fonte com anões de pedra formando uma ciranda, lembrou-se de um poema de Rilke. Como só a poesia ''é capaz de dizer o que as próprias coisas jamais pensaram ser na sua intimidade'', ela decidiu: iria escrever a história dessa família desaparecida junto às paredes do velho casarão. E é ela que agora chega à novela das seis. A.G.F.

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