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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“Regulação da mídia é indispensável”

Gabriel Bonis
4/10/2011 21:21, 
Por Gabriel Bonis, no sítio da CartaCapital:Em uma palestra sobre o atual jornalismo brasileiro na Faculdade Cásper Líbero, na segunda-feira 3, o jornalista Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, defendeu a regulamentação da mídia como forma de controlar os interesses dos proprietários de veículos do setor. “Quando se toca neste assunto, a mídia se apressa em dizer que está sendo tolhida. Porém, trabalhei fora do país em um lugar onde patrão não poderia ser diretor de redação por lei. É indispensável estabelecer esse limite”, disse Carta.Aos 77 anos, o jornalista, criador das revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital e do Jornal da Tarde, afirmou a uma platéia lotada, principalmente por estudantes de jornalismo, que a profissão reflete os atrasos políticos e sociais do País. “Não tenho uma boa opinião do jornalismo brasileiro e isso não deve mudar a curto ou médio prazo”, alfinetou.Porém, essa visão não desanima a estudante de jornalismo Helena Lima. “É uma análise bem realista, mas não chega a assustar”, observou. “Creio que essa análise pessimista é até comum entre os jornalistas de uma forma geral”, concordou a também estudante Carolina Salomão, de 21 anos.Segundo Carta, “alguns senhores, donos de veículos de mídia, carregam a herança da Casa Grande. Mostram um país que eles gostariam de ver”. Como exemplo deste posicionamento, cita o episódio ocorrido com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, na França, na última semana.Na oportunidade, Lula recebeu o seu sétimo título de doutor honoris causa. A premiação era do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences Po, que concedeu a honraria pela primeira vez a um latino-americano. O diretor de redação de CartaCapital destacou que alguns correspondentes brasileiros na coletiva de imprensa “encarnaram seus patrões e manifestam o ódio de classe”. “Questionaram a decisão de uma respeitada instituição que pesou prós e contras, perguntando como era possível alguém que nunca leu um livro receber um título de doutor.”A estudante de jornalismo Renata Moura, de 21 anos, concordou com as críticas feitas por Carta à mídia nacional, e aos seus correspondentes a “encarnar seus patrões”. “Acredito que é importante debater esse aspecto de casa grande e senzala e os problemas do jornalismo brasileiro, entre eles o fato de que os donos não deveriam ser diretores de redação.”O criador de CartaCapital também mostrou-se preocupado com fato de alguns veículos de imprensa não se conscientizarem da importância de levar aos leitores uma informação correta. “É preciso sempre manter a fidelidade canina à verdade factual, mas infelizmente o jornalismo brasileiro atual não a respeita e omite fatos quando não lhe convém que algo venha à tona. Isso quando não mente.”Carta falou também sobre o dever da imprensa em fiscalizar o poder, que nem sempre está na política. “Entendemos sempre que a política é corrupta, mas há uma via de duas mãos, quem corrompe e quem é corrompido. Nessa operação não existe somente políticos, há os senhores do poder, não só deputados, ministros e senadores.” Em seguida, ironizou: “A nossa corrupção é a mais glamurosa do mundo.”OpiniãoSegundo Carta, há espaço para a opinião no jornalismo, desde que seja feita uma apuração apresentando todas as partes envolvidas. “O espírito crítico nos permite saber que estamos vivos, é uma dádiva”, declarou, apontando que o formato de CartaCapital difere das demais revistas semanais do Brasil por ter uma característica de análise.Sobre sua carreira, ele destacou a liberdade técnica que teve para fundar o Jornal da Tarde, na década de 60. “O jornal saia às 12h no centro de São Paulo. Era corajoso, bem feito e valorizava as grandes reportagens, além do tom literário. Embora tenha que admitir, o jornal cresceu muito após a minha saída em 1968 para dirigir a Veja, tendo o seu ápice até 1973.”Em relação à semanal que também fundou, Carta é enfático: “Criei um monstro”. Porém, mantém o bom humor ao ser questionado se, como ex-diretor da revista Quatro Rodas, uma publicação sobre carros, sabe dirigir. “Não sei a diferença entre um Fusca e uma Mercedes. Talvez por isso a revista tenha sido um grande sucesso”, brincou.O jornalista também falou sobre a internet como ferramenta para buscar informações em mídias alternativas aos grandes veículos de imprensa. “É um instrumento excelente, mas depende de quem está usando”, declarou. “Já tive e abandonei um blog porque por trás desse negócio há uma questão moral. Quem escreve não se identifica, ofende e não mostra quem é ou o que quer.”Uma característica que, segundo Moura, não deve ser encarada de forma negativa. “Se você é um Mino Carta ou Rubens Paiva, vai ser atacado, mas é importante continuar escrevendo, é apenas mais um aspecto desse meio.”


CartaCapital escolhe candidato à presidência

Por Alberto Dines

A revista CartaCapital anunciou formalmente o seu apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. É a primeira publicação nacional a assumir ostensivamente uma preferência para as próximas eleições de outubro.
CartaCapital segue um rito adotado com freqüência pelos grandes veículos jornalísticos, principalmente nos Estados Unidos regido pelo regime presidencialista. Na Europa, mais inclinada para o parlamentarismo, esse tipo de adesão a um candidato é menos usual considerando-se que uma opção partidária sugere sempre um compromisso mais duradouro.
Embora louvável e meritória, a iniciativa de CartaCapital é, de certa forma, desnecessária. A revista tem apoiado de forma quase irrestrita não apenas o presidente, mas o seu governo e, principalmente, o seu partido. Poupa apenas os seus aliados. Esta é uma opção antiga e ficou mais visível a partir de maio de 2005, quando começaram as revelações a respeito do escândalo do mensalão. De qualquer forma, a preservação dos ritos é sempre bem-vinda e, sobretudo, a preservação dos ritos democráticos.
*** Trechos do editorial "CartaCapital declara sua preferência, com transparência e sem hipocrisia", copyright CartaCapital nº 409 – 6/9/2006 Há quatro anos, CartaCapital fez sua opção, declarou explicitamente preferência pela candidatura Lula no confronto com José Serra. Agora volta a escolher o presidente no embate contra Geraldo Alckmin. Em 2002, não faltou quem condenasse nosso comportamento, por considerá-lo impróprio de um jornalismo isento e pluralista.
Estas definições às vésperas de uma eleição são comuns, no entanto, nas melhores mídias do mundo. De resto, aqui mesmo, o O Estado de S.Paulo apoiou abertamente a candidatura Serra, ao contrário dos demais que alardeavam, e impávidos alardeiam, uma eqüidistância inexistente. Isto, em castiço, chama-se hipocrisia. (...)
O governo Lula ficou longe daquele que teríamos desejado. Tem, entretanto, seu trunfo, a própria eleição de um ex-metalúrgico, retirante nordestino, para a presidência da República, a despeito da ojeriza, quando não o ódio, que nutrem por ele os graúdos de vários calibres, e os aspirantes a graúdos.










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