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domingo, 23 de janeiro de 2011

Sete meses após enchente, famílias ainda vivem em acampamentos em Pernambuco


Plantão | Publicada em 23/01/2011 às 11h26m

Daniel Carvalho, especial para O Globo

BARREIROS - Sete meses se passaram, mas famílias que perderam tudo na enchente do Rio Una, em Barreiros, município a 110 quilômetros de Recife, ainda vivem o drama de não ter onde morar - pesadelo também vivido por desabrigados em Alagoas, vítimas das enchentes de junho do ano passado.

Em Pernambuco, os desabrigados estão alojados em tendas apertadas e quentes, sem emprego e se mantendo com doações. Quem não aguentou a situação, contrariou as orientações das autoridades e está construindo sobre os escombros, nas margens do rio, correndo o risco de viver uma nova tragédia.

No acampamento Esperança, montado pelo governo pernambucano, com apoio da prefeitura e de uma ONG internacional, às margens da rodovia PE-60, moram 80 famílias. O espaço lembra um campo de refugiados.

O bebê Cauã, de 4 meses, nasceu numa das tendas. A mãe dele, a desempregada Clarisse Silva, de 18 anos, passa o dia perambulando com a criança. Amamentar o filho é atividade que faz na frente de todos. Na barraca não dá para ficar:

- Ele reclama muito por causa da quentura. O sol queima mesmo aqui dentro.

Não é só o calor que incomoda. Nos dias de chuva, como na última quinta-feira, quando O GLOBO esteve no acampamento, é preciso improvisar com plásticos para não molhar o pouco que foi salvo e está amontoado nas barracas. Até água para beber é problema. O fornecimento de água mineral havia sido interrompido. Um caminhão-pipa vinha abastecer o reservatório.

- Até bicho morto a gente já encontrou na caixa d'água. Tinha uma víbora e um sapo. Depois disso é que voltaram a entregar água mineral - conta a manicure Mônica Maria da Silva.

Todas as pessoas ouvidas pelo GLOBO denunciaram que funcionários da prefeitura os pressionam para deixar o local:

- Querem dar R$ 150 de auxílio-moradia. Não tem casa para alugar por esse preço. O menor valor que encontrei foi R$ 180 - diz Marlene Maria da Silva.

O secretário de Administração de Barreiros, Inaldo Lins, admite que há intenção de desmobilizar os acampamentos, mas disse desconhecer as denúncias. Segundo Lins, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome repassou R$ 786 mil para a manutenção dos acampamentos, mas a verba só dura até este mês. A prefeitura já pediu mais verba ao governo federal.

As famílias nos acampamentos aguardam a construção de casas num terreno desapropriado pelo governo do estado. Pela dificuldade de encontrar uma área apropriada, as obras de terraplanagem só começaram mês passado, e as primeiras moradias devem ser entregues só em dezembro, diz a prefeitura. Até dezembro, estava aprovada a construção de 2.843 casas.

Quem não aguenta esperar e não suporta a situação dos acampamentos opta pelo perigo. Dezenas de famílias estão reconstruindo suas casas no mesmo lugar, às margens do Rio Una. É o caso do comerciante Josiel José de Lima, de 39 anos. Ele já está de casa nova com o filho de 4 anos e a esposa. Mora ao lado de sua antiga residência, hoje pela metade. No andar térreo existia o mercadinho que sustentava a família. Agora, montou o estabelecimento no espaço onde funcionava uma igreja.

A prefeitura reconhece que há imóveis sendo construídos na área de risco, mas se diz de mãos atadas para impedir o retorno das famílias.

Além de Barreiros, 40 cidades foram atingidas em Pernambuco; 20 pessoas morreram, 26.966 ficaram desabrigadas e 56.643, desalojadas. O governo federal investiu R$ 75 milhões em obras emergenciais e, com o governo do estado, investe R$ 497 milhões em obras de infraestrutura. Das 18 mil casas que devem ser construída em Pernambuco, ao custo de R$ 1,17 bilhão, só 99 foram entregues. O GLOBO tentou por dois dias contato com o governo estadual, sem sucesso.




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