RIO - Poupada pelas enchentes que devastaram localidades de sete cidades da Região Serrana e provocaram a morte, até agora, de 853 pessoas, a parte central da cidade de Petrópolis é considerada uma bomba-relógio. Na sexta-feira, pesquisadores da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ sobrevoaram os municípios atingidos, constatando que Petrópolis tem áreas de risco densamente ocupadas onde, se tivesse chovido o mesmo volume registrado em outros pontos, a tragédia na serra seria ainda maior. O sobrevoo é parte do levantamento que visa à elaboração de um documento, a ser entregue aos governos federal e estadual, até o fim da próxima semana, com o que pode ser feito em caráter emergencial e também preventivo.
— É uma contribuição da universidade, semelhante ao que já foi feito após as chuvas em Santa Catarina, em 2008, e em Angra dos Reis, em 2010. É uma posição da Coppe sobre prevenção e medidas emergenciais para se evitar um grande número de vítimas — disse o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa.
( Veja as imagens do sobrevoo )
Para o vice-governador Luiz Fernando Pezão, a avaliação dos pesquisadores da Coppe é corretíssima. Por isso, acrescentou ele, o projeto do governo estadual para a construção de moradias na região tem levado em conta o número de pessoas que precisam ser retiradas das áreas de risco. Um exemplo citado por Pezão é o Vale do Cuiabá, em Itaipava. Lá, são necessários 200 reassentamentos. Mas o estado vai erguer um total de 1.500 casas em Petrópolis para desocupar áreas de risco.
— Estamos fazendo isso em todos os municípios. Ontem (quinta-feira), o governador Sérgio Cabral autorizou a compra assistida de moradias e também indenizações para tirar pessoas de área de risco — disse Pezão.
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O professor de engenharia geotécnica Maurício Erlich, que fez o sobrevoo, disse que a mancha de destruição em Friburgo, Teresópolis e Petrópolis é bastante localizada.
— Em alguns locais você vê muita destruição, mas basta olhar para o lado para observar que alguns locais não foram atingidos — explicou.
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Segundo o professor, na Região Serrana existe uma tendência a ocorrer concentração de chuvas em determinadas áreas, como se fossem vários microclimas. Em Teresópolis, bairros como Caleme e Campo Grande e a área rural foram castigados, enquanto o Centro ficou intacto.
A importância de ser adotada uma política de prevenção, uma vez que episódios como o ocorrido na Região Serrana podem acontecer outras vezes, foi destacada por Willy Lacerda, professor de engenharia geotécnica da Coppe, que também participou do sobrevoo. Ele recomenda a criação de abrigos, que devem ser construídos em locais seguros, com capacidade para acomodar de 400 a 500 pessoas. O treinamento da população é outra etapa.
— É preciso melhorar, urgentemente, o sistema de alerta — disse Willy Lacerda. — A prevenção deve ser uma política de estado, e o que aconteceu não pode ser esquecido, mesmo depois de dois ou três verões sem chuva.
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O professor disse ainda que, para elaborar o estudo da Coppe, os técnicos vão utilizar fotos tiradas na sexta-feira e imagens registradas por satélite antes dos danos causados pelas chuvas.
A prefeitura de Petrópolis não quis comentar a avaliação dos técnicos da Coppe. O prefeito Paulo Mustrangi, por meio de sua assessoria, disse que o município vem realizando estudos em parceria com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e a Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop). A prefeitura informou também que, desde 2007, a cidade dispõe do Plano Municipal de Redução de Risco de Escorregamentos e Inundações.
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Realizado em convênio com o Ministério das Cidades, o plano tem o objetivo de apoiar atividades de gerenciamento de deslizamentos e inundações para o primeiro distrito. Ele contempla diagnóstico de risco, propostas de ações estruturais e não estruturais em áreas de assentamentos precários. O estudo identificou 102 pontos críticos somente no primeiro distrito. Segundo o levantamento, pelo menos 15 mil moradias foram construídas em áreas consideradas de risco ou alto risco. Bairros como Alto da Serra, Quitandinha, Bingen e Independência foram identificados como os mais críticos.
COLABOROU: Jaqueline Ribeiro
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