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domingo, 5 de dezembro de 2010

#DILMA #LULA O principal espião de Lula no governo Dilma já especula sobre a volta do verdadeiro chefe


Ao comentar anteontem a psicopatia política de Lula, desentranhei o sentido nem tão secreto das expressões “herança maldita” e “herança bendita”. Empregada a primeira para designar o governo FHC, servia a dois propósitos conjugados: 1) se as coisas desandassem, a culpa seria do antecessor; 2) se as circunstâncias sorrissem, como sorriram, os méritos seriam atribuídos a Lula. A segunda expressão tem o sentido espelhado em relação à primeira, mas com o mesmo propósito, que é enaltecer o Babalorixá de Banânia: 1) caso o governo Dilma seja bem-sucedido, Lula lhe terá deixado uma base formidável; 2) caso naufrague, a responsabilidade será inteiramente dela (ou da economia mundial), e o demiurgo virá, então, para nos salvar.

Lula já negou, para incredulidade geral, que vá tentar a volta. Ele próprio empregou o verbo “desencarnar” para se referir à necessidade de o espírito de presidente da República abandonar o seu corpo e migrar para o de Dilma Rousseff. Mais: diz ter aprendido que ex-presidente atrapalha e que pretende ser um ex “como nunca antes na história destepaiz…” Vai apenas assar coelhos- e não adianta, leitor, torcer para que vá caçar sapo.

Não obstante tanta disposição para o decoro, a nata do primeiro escalão de Dilma é mais pró-Lula do que o governo do próprio. Com algum exagero, sim, mas que chama a atenção para a essência da questão, pode-se dizer que Dilma está cercada por um grupo de espiões lulistas. Ao menor sinal de desarranjo da equação imaginada pelo chefe, eles dariam o sinal de alerta: Gilberto Carvalho (secretário-geral da Presidência), Antônio Palocci (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Miram Belchior (Planejamento). Todos aí certamente respeitam o cargo da presidente, mas não há, no grupo, um só admirador de Dilma ou que a tenha como líder. Ela será, quando muito, uma chefe.

As coisas vão se cumprindo mais ou menos como o imaginado por Lula. Quando foi buscar uma sem-voto para fazer dela candidata, tinha claro que estava construído uma obra. Cheguei a chamá-lo de “Pigmaleão da política”, o que deu vida a uma estátua. Ele só não está exatamente apaixonado pela sua criação, como no mito. Ela é uma peça de seu xadrez político: tinha de entregar o pode a alguém que não fosse lhe fazer sombra na máquina partidária, que controla sindicatos, estatais, fundos de pensão etc. Ela governa, mas ele manda.

Durante um bom tempo, ouviremos falar do “estilo Dilma”; do seu “pragmatismo em contraste com a intuição de Lula”; de sua maior propensão à “racionalidade” ao tomar uma decisão, enquanto ele seria mais “emotivo”, essas coisas. Esses exercícios que perscrutam a alma da personagem da notícia, suas intenções secretas, seus receios íntimos, suas ambições etc. migraram das antigas revistas femininas para a cobertura política e resultam nos tais “perfis”, salpicados de psicologices e sociologices. Recorrendo à livre interpretação, repórteres e colunistas situam o texto na fronteira entre o jornalismo e a literatura, com boas doses, portanto, de ficção. E a Dilma independente, com marca distintiva, que pode dissentir de forma importante do PT, é uma dessas criações.

Ontem, Gilberto Carvalho, atual chefe de gabinete da Presidência e futuro secretário-geral, desandou a falar, acreditem, sobre 2014, a sucessão de… Dilma Rousseff!!! Não fosse o PT o que é, não fosse Lula quem é, não estivesse Dilma onde está justamente porque um é o que é, e o outro é quem é, deveríamos ficar um tanto espantados. Mas não há mesmo motivo para isso. Aquele escalado para ser o braço-direito da próxima presidente comporta-se como porta-voz do atual, especulando mais sobre o futuro dela do que sobre o futuro dele. Na ordem normal das coisas, é um despropósito. Mas ela não chegou lá porque se tenha cumprido a ordem normal: sem Lula, não teria se elegido vereadora em Cochinchina do Mato Dentro.

Carvalho concedeu uma entrevista à jornalista Vera Rosa no Estadão deste domingo. E foi indagado sobre a eventual volta de Lula em 2014. A única resposta ética, que respeita a figura institucional da presidente eleita, é esta, com variações de palavras: “Não faz sentido tratar disso agora; vamos nos esforçar para fazer um grande governo, e a presidente Dilma tem o direito constitucional de pleitear a reeleição”. E acabou! Ocorre que Dilma não é chefe no partido; Dilma não é nem será chefe de Gilberto Carvalho; Dilma não será chefe da Presidência. A menos que tente virar a mesa, o que, creio, não fará. Lula vai voltar? Eis a resposta de Carvalho:
“Ele não planeja nem voltar nem não voltar. Vai depender muito do que vai acontecer. Uma coisa é um governo Dilma bem-sucedido, e outra, com dificuldades. Uma coisa é ele articular um papel internacional muito mais amplo ou não. Tudo é possível. Agora, ambição automática de voltar não existe”.

Ponto final! Dilma está sendo testada pelos petistas na função de presidente da República, cargo que pertence a Lula. Uma única coisa é certa: ele não será professor da Sorbonne. Pode retomar seu “trabalho” no Instituto da Cidadania. Um empresário já busca a sede para o futuro Instituto Lula. O Grande Timoneiro expressa ainda o desejo de se dedicar ao combate à fome na África e à mobilização em favor da reforma política no Brasil. Tudo será feito para que ele se mantenha no noticiário, deixando evidente quem continua no comando. Adicionalmente, o recado também vai para as oposições: “Torçam para o governo Dilma dar certo; nesse caso, vocês a enfrentam nas urnas; se der errado, terão de enfrentar Lula”. Na entrevista de Gilberto Carvalho ao Estadão, lemos este trecho:
[Lula]Cobra resultados?
Cobra. E sem misericórdia. Mas, ao mesmo tempo, é o cara que dois minutos depois já esqueceu aquilo e é superafetuoso. Tem um episódio que nunca vou esquecer na minha vida.

Qual?
Foi quando eu fui exposto, na CPI dos Bingos (em 2005), por causa da questão de Santo André. O presidente sabia da maldade de tudo aquilo, um jogo político, mas podia ter se livrado de mim. E houve um dia em que teve aquela acareação com os irmãos do Celso Daniel (prefeito assassinado de Santo André). Lula ia viajar às 18 horas. Eu cheguei de volta do Congresso lá pelas 19 horas e ele estava na minha sala me esperando. Atrasou a viagem, passou a mão na minha cabeça e falou: “Gilbertinho, você não tem uma cachacinha pra gente tomar aí, não?” Um cara desses você morre por ele. Sou um privilegiado.

Encerro
Como se nota, já estamos no terreno da idolatria, o que, não custa lembrar ao muito pio Carvalho, é pecado!

Por Reinaldo Azevedo


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