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| | Ana Paula Arósio, Arieta Corrêa e Malu de Martino | |
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| Está em cartaz nos cinemas o filme “Como Esquecer”, com direção de Malu de Martino. Malu tem uma longa estrada no cinema. Estudou em Nova Iorque na década de 80, e desde então dedica-se à direção de vídeos culturais, institucionais e documentários.
Em 2001 dirigiu o média-metragem “Ismael e Adalgisa”, que recebeu os prêmios de melhor filme eleito pela crítica e pelo júri popular no Festival de Cuiabá, melhor fotografia no Festival de Recife (2002) e melhor direção de arte no Festival Vitória Cine Vídeo. Em 2006 obteve vários prêmios com “Mulheres do Brasil”, entre eles o de melhor longa-metragem no Festival de Campo Grande e o de melhor atriz coadjuvante para Dira Paes.
Na entrevista abaixo Malu de Martino nos conta como foi dirigir seu recente longa ”Como Esquecer”, sobre a história de Julia (Ana Paula Arósio), professora de literatura inglesa que, após ter sido abandonada pela namorada (Antônia), com quem viveu por 10 anos, busca redescobrir a vida e voltar a ser feliz sozinha.
O que a motivou a fazer o filme? Ao final aparece na tela um “in memoriam” e sei que o filme foi baseado em um livro, mas até então desconhecido do público em geral. O que me motivou a fazer o COMO ESQUECER foi basicamente a história. Me pareceu ser um desafio transportar para a tela grande a dor da perda a partir de um universo pouco explorado pelo cinema brasileiro, o LGBT. Sou fascinada pelo chamado cinema de personagem, imersões, reflexões sobre sentimentos mais profundos. Quando li o livro achei que, neste momento, o cinema brasileiro abre espaço para essas reflexões. Portanto essa foi a minha principal motivação. O “em memória” no final do filme refere-se às minhas grandes perdas, amigos que já se foram e que me fazem uma falta enorme… O COMO ESQUECER para mim é também um filme sobre amizade e me remete aos amigos que tenho e que tive, e a eles prestei minha homenagem.
Como foi a preparação dos atores, em especial da protagonista, Ana Paula Arósio? Ensaiamos um mês e meio assiduamente. Construímos a intimidade dos atores e a confiança que depositamos uns nos outros, nesse período. A Ana Paula é uma trabalhadora incansável, aplicadíssima! Vimos filmes do Carl Drayer, do Truffault e do Won Kar Wai, além de inúmeros textos para ajudar nessa composição. Inclusive textos da Sonia Hirsh, que particularmente não parece relacionado ao trabalho, mas que ajudaram a verbalizar os sentimentos que buscávamos.
Qual foi a cena mais difícil de gravar e qual demorou mais tempo para filmar (ou que demandou mais retrabalho na filmagem)? Para mim a cena mais difícil de rodar foi a cena em que a Julia (Ana Paula Arósio) pede para ser amarrada. Demorou muito e a Ana Paula ficou horas amarrada na cadeira para correções de luz e câmera. Ela optou heroicamente por não sair da cadeira para não “esfriar” e não haver problemas na continuidade. No mais, cinema dá trabalho, muito trabalho! Filmar em locações, prática frequente no cinema independente, é sempre delicado… cachorros que latem, vizinhos que cantam, crianças que brincam etc. Mas conseguir fazer o filme e ter o resultado esperado, me faz esquecer tudo isso e ter tesão de filmar de novo! [risos]
Considerando o avanço das conquistas em termos de visibilidade LGBT de 10 anos para cá, você acha que a aceitação do público por temáticas como essa do filme, especialmente lésbica, melhorou – ou tem melhorado – nos últimos anos? Acho que avançamos sim. Ainda há muito a ser feito, mas sinto que o cinema caminha para uma maior abertura nesse sentido. Na minha opinião os veículos audiovisuais devem contribuir para maior esclarecimento e uma reflexão mais profunda dessas questões. Gosto de dizer que se ressaltamos as semelhanças aceitamos melhor as diferenças. A homovisibilidade se faz necessária num momento em que a aceitação das diferenças é fundamental para a nossa evolução.
Houve alguma razão especial para a escolha da Ana Paula Arósio e de Murilo Rosa para os papéis principais do filme? Sobre o Murilo Rosa, conheço desde o meu primeiro filme, Ismael e Adalgisa, e somos amigos desde então. Eu tinha muita vontade de voltar a trabalhar com ele por sua dedicação ao trabalho e admiração que tenho pelo mesmo. Ao pensar na atriz que faria a Julia, conversando com Murilo, chegamos ao nome da Ana Paula Arósio, que considero a melhor atriz dramática da geração dela. Era preciso uma atriz que “comprasse” a ideia e se dedicasse completamente à proposta da direção. O Murilo se prontificou a fazer a ”ponte”, pois eu não a conhecia, nem ela a mim. Por indicação prévia dele fizemos chegar a ela o roteiro, em seguida nos encontramos em SP e ela topou a proposta prontamente. O resultado, na minha opinião, não poderia ter sido melhor. Penso que a escolha desses dois atores foi muito por causa das suas trajetórias profissionais e minha admiração pelo trabalho de ambos.
* Entrevista originalmente publicada no blog Crônicas Urbanas. |
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