Steffen Schmidt/Efe
Foi às páginas da Folha, neste sábado (20), a primeira notícia extraída do processo aberto pela ditadura contra Dilma Rousseff na década de 70.
Os documentos estavam trancados num cofre do STM (Superior Tribunal Militar).
Por dez votos contra um, os ministros do tribunal reconheceram o direito do jornal de ter acesso aos papéis.
Depois de manusear um primeiro lote de cópias, os repórteres Matheus Leitão e Lucaz Ferraz informam o seguinte:
1. Dilma Rousseff detinha, junto com outros dois militantes, os códigos que, combinados, levavam a um arsenal.
2. Eram as armas da VAR-Palmares, organização que combateu a ditadura militar (1964-1985).
3. A revelação foi levada aos autos num “depoimento” arrancado de João Batista de Sousa em março de 1970.
4. Companheiro de Dilma, João Batista falou sob tortura. Mas, procurado pelos repórteres, confirmou o conteúdo do processo, adicionando detalhes.
5. Responsável pela guarda do armamento da VAR-Palmares, João Batista desenvolveu um código que identificava o endereço, em Santo André (SP).
6. Dividiu o segredo com outras duas pessoas da organização. Um pedaço do código foi repassado a Dilma. Nessa época, ela se escondia sob o codinome de “Luíza”.
7. O outro naco do código foi às mãos de Antonio Carlos Melo Pereira, que, na clandestinidade, atendia pelo nome de “Tadeu”.
8. Na hipótese de prisão de João Batista, Dilma e Antonio Carlos teriam como chegar ao “aparelho” das armas. Bastaria que juntassem as duas partes do código.
9. "Fiz isso para que Dilma, minha chefe na VAR, pudesse encontrar as armas", declara, hoje, já decorridos 40 anos, João Batista.
10. O arsenal incluía: 58 fuzis Mauser, 4 metralhadoras Ina, 2 revólveres, 3 carabinas, 3 latas de pólvora, 10 bombas de efeito moral...”
...100 gramas de clorofórmio, 1 rojão de fabricação caseira, 4 latas de "dinamite granulada" e 30 frascos com substâncias para "confecção de matérias explosivas".
11. João Batista participou de assaltos a bancos e mercados. Hoje, conta: "Informava todas as ações para Dilma com três dias de antecedência".
12. Tido pelos colegas como um dos mais corajosos militantes da VAR-Palmares, João Batista arrostou quatro anos de cadeia. Diz ter sido torturado por mais de 20 dias.
13. Na entrevista, declarou ter votado em Dilma. Até hoje ele a chama de "minha coordenadora".
14. Antes de ser preso, acertara com Dilma três “pontos” de encontro. Diz que não revelou aos torturadores as horas e os locais.
15. Dilma seria presa meses depois de João Batista. Ele recorda que, depois, ela lhe disse que utilizou o código para resgatar o arsenal da Var-Palmares.
16. Nos autos do processo, o trecho em que João Batista fala do código foi anotado assim:
"Que, tal código, entregou a ‘Tadeu’ e ‘Luisa’, sendo que deu a cada um uma parte e apenas a junção das duas partes é que poderia o mencionado código ser decifrado".
17. Procurada, Dilma Rousseff, agora presidente eleita, não quis comentar.
18. José Dirceu, que chamara Dilma de “companheira de armas” na solenidade em que transmitiu a ela o cargo de chefe do Gabinete Civil, reagiu assim:
“Ficha de órgão político é lixo puro. Se você acreditar [nas acusações], precisa acreditar também que o [jornalista] Wladimir Herzog se matou".
19. No caso específico, os dados foram corroboradas por quem as prestou. De resto, até o “lixo” e os métodos da ditadura têm inestimável valor historiográfico.
Não é por outra razão que o petismo, Dirceu incluído, defende a criação de uma "Comissão da Verdade". O companheiro não há de supor que a verdade é via de mão única.
No mais, um país que desconhece o seu passado perde a oportunidade de aproveitar, no presente, os acertos pretéritos. Perde também a chance de esquivar-se dos erros.
sábado, 20 de novembro de 2010
#Dilma tinha código que levava às armas da guerrilha
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