“Ela está mais solta, mais desembaraçada”, informam os colunistas estatizados e os parceiros da base alugada. “Ela está mais segura, mais confiante”, aplaudem os Altos Companheiros e as plateias alugadas. Dilma Rousseff é a Dilma Rousseff de sempre, constatou o jornalista Celso Arnaldo Araújo depois da entrevista ao Jornal da Band. O falatório continua incongruente, raso, errático, tosco, absurdo. Mas o que era declaração de candidata agora é pronunciamento de presidente eleita ─ e por isso merece mais que comentários sarcásticos e sucessivas internações no Sanatório Geral. Merece contragolpes e corretivos exemplares, como os aplicados pelo texto de Celso Arnaldo:
“Eu quero dizê que eu vou sê implacável com o comprimento (sic) da Lei Maria da Penha”
Dilma Rousseff, em entrevista anteontem ao Jornal da Band, prometendo encurtar a complicada lei que pune agressores de mulheres em ambiente doméstico.
Sim, poderia ser apenas mais uma internação da candidata Dilma Rousseff no Sanatório desta coluna – devem ter sido mais de 200, ao longo de 15 meses. No conjunto, uma coleção de cretinices que inviabilizaria, por espanto dos associados, até a candidata à presidência de um modesto clube de campo.
Consumado o embuste, desde as 8 horas da noite do dia 31 de outubro de 2010, quando o TSE confirmou oficialmente sua vitória, a presidente eleita já não merece a leniência do sarcasmo — marca registrada do Sanatório — que reservávamos à candidata.
O Brasil é que precisaria ser implacável com o cumprimento de uma hipotética Lei Dilma Rousseff – contraponto da Lei Maria da Penha. Se aprovada, puniria com a perda de mandato o presidente que agredisse sistematicamente um elenco de obrigações inerentes ao cargo de primeiro mandatário do país, todas do gênero feminino — a língua portuguesa, a liturgia do cargo, a concatenação de ideias, a honestidade de conceitos, a lógica descritiva, a informação com conteúdo, a expertise gerencial, a verdade insofismável, a naturalidade expositiva, a elegância de estilo.
Por essa lei homônima, Dilma Rousseff não duraria uma semana no cargo. Maria da Penha Maia Fernandes suportou quatro anos de agressões do marido. O Brasil não chega lá.
Deitando falação pretensamente feminista sobre a Lei Maria da Penha no Jornal da Band, a presidente eleita agrediu tudo isso e muito mais. Em 80 inacreditáveis segundos, demonstrou absoluto desconhecimento não apenas da lei, mas dos próprios limites da atuação de um presidente da República – e, como sempre, uma agônica dificuldade para encontrar a palavra certa: um problemaço institucional e diplomático para um presidente da República. Seu palavrório sobre o câmbio, na véspera, no Jornal Nacional, já tinha sido um naufrágio sem âncora. E o dólar, sempre avisa o professor Delfim Netto, não leva desaforo pra casa. Voltando a Maria da Penha:
“A impunidade é um fator que dá às pessoas que cometem crimes a sensação que elas podem cometer sem punição”.
Nossa presidente eleita, com sua sensibilidade singular, decretou que é a impunidade que faz as pessoas se sentirem impunes. É um avanço no diagnóstico da violência no Brasil. Agressores de mulheres que ainda não entenderam a lei, tremei!!:
“A Lei Maria da Penha é clara, ela pune com prisão, qualquer, seja quem seja que faça, qualquer agressor à mulher”.
Pela Lei Dilma Rousseff, “seja quem seja que faça” exigiria sentença capital. “Agressor à mulher”, seria um agravante.
Desempenho terrível
Uma pergunta: o caso Netinho foi uma exceção ao “seja quem seja que faça”? Prossegue a legisladora:
“E aí é importante que a gente esclareça não só as polícias, né, que a gente faça campanhas no sentido tamém de esclarecê a sociedade. Porque denúncias do agressor é algo que é importantíssimo que ocorra e também é importantíssimo que os órgãos públicos e a Justiça acolham a denúncia. E sejam prontos no sentido de investigá, puni, condená, né, o agressor e não deixá que hoje essa espécie de convívio com a agressão, que aliás no Brasil é histórica, ela num cumeçô ontem”.
A Lei Maria da Penha foi promulgada em 2006, último ano do primeiro mandato de Lula. O companheiro – com a poderosa Dilma na retaguarda, a “primeira mulher presidente” – não conseguiu até hoje fazer a lei funcionar? As “polícias” não foram avisadas de que bater em mulher, aliás bater em qualquer pessoa, é crime? A Justiça também não tomou conhecimento? Nunca antes na história deste país se bateu tanto em mulher e agora isso vai acabar? Maria da Penha votou em Lula e agora em Dilma?
O fecho desse libelo contra a agressão à mulher é monumental:
“Então as pessoas achavam que a mulher podia sê agredida”.
Quem achava? Netinho, aliado de Dilma?
Mas isso vai mudar:
“Colocarei o peso do governo federal pra assegurá que seja comprida (agora ela quer a lei grande de novo…), quem for agredida, se denunciá e a gente consegui pegá o agressor, o agressor será exemplarmente punido”.
Parece evidente que, por nunca saber do que está falando e o que está falando, a presidente Dilma Rousseff não fará nada para assegurar o cumprimento da Lei Maria da Penha – que é apenas uma dos milhares de leis e projetos com que o presidente terá de interagir em seu governo.
O terrível desempenho da presidente eleita, de domingo para cá, já não merece ironias ou deboche — apenas uma justa preocupação com o perigo real e imediato que seu despreparo, agora oficializado, pode representar para a governabilidade.
Para ela, uma palavrinha difícil — mas fundamental para a sobrevivência de um presidente.
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