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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

#POLITICA : A feijoada completa da Casa Civil: da orelha ao rabo!


Lula não vai dizer um sonoro “Obrigado!” à VEJA? Por que não?
Vocês se lembram da reação dos petistas e do próprio presidente da República quando veio à luz a primeira reportagem da revista sobre as lambanças na Casa Civil na gestão Dilma Rouseff-Erenice Guerra? Ah, era tudo guerra eleitoral, tentativa da oposição de melar o jogo, “golpismo midiático”, diziam alguns delinqüentes. Pois é… Ontem, em entrevista ao site Terra, Lula resolveu mudar definitivamente o discurso: Erenice teria jogado fora a chance de ser “uma grande funcionária pública deste país…” Prestem atenção a esta fala:
“Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo todo tempo. E, quando acontece, a pessoa perde”.
Pois é… Um presidente ser “enganado” por sua ministra-chefe da Casa Civil é de lascar, né? Faz a gente duvidar da inteligência do bruto. Como prezo a de Lula, vou lhe dar o benefício da certeza (de que é inteligente): ele não foi enganado por ninguém; enganados eram os brasileiros, certo? A VEJA não se enganou.
Se “a pessoa” o enganou, quem o tirou das trevas foi a revista, que deveria receber, sei lá, uma daquela comendas por serviços prestados à República. Em vez de vociferar contra “a mídia” e permitir que seus assalariados se dediquem a patuscadas semelhantes, deveria ser grato “aos companheiros jornalistas” e à “companheira revista”, que tornou, um pouquinho que seja, mais moral o seu governo.
Lula não achou que Erenice “jogou fora” a chance de ser exemplar quando ordenou o dossiê contra FHC-Ruth Cardoso — ela estava sob as ordens de Dilma. Nem quando se meteu, numa operação obscura, na venda da Varig. Ou quando tocou adiante o tal Plano Nacional de Bandalheira Larga. Assuntos arcanos demais para o povão! E Lula, a exemplo de certos colunistas, está convencido de que, para esssa camada, bastam o vale-pão e o vale-circo.
Quando o assunto é grana, no entanto, aí o bicho pega. Aí é preciso esse recuo. O  “povão” consegue entender esta mensagem: “Levou grana!”. Mas lá estava a glossolalia habitual:
“Se essas denúncias são manipuladas eleitoralmente, o povo percebe. Mesmo aquilo que é verdadeiro, o povo percebe. Agora, o povo aprendeu a julgar, isso é uma coisa interessante.”
Besteira! Não há manipulação nenhuma, e ele sabe muito bem. Será que os candidatos que disputam a eleição com Dilma deveriam fazer de conta que um escândalo de proporções  ainda desconhecidas — mas já gigantesco pelo que se conhece — deveria ficar fora da campanha eleitoral? Por quê? A Casa Civil é o coração do governo. As coisas cabeludas que se sabem até agora aconteceram durante a gestão de Dilma Rousseff, debaixo de seu nariz.
Lula, como sempre, vai reescrevendo sua biografia. Segundo disse, adotou uma posição de cautela:
“Eu sempre admito que, muitas vezes, tem coisas que você tem que investigar.”
Errado! No caso de Erenice, partiram logo para apontar uma grande conspiração. E o presidente recorreu a mais uma de suas imagens iluminadas. Acusações, afirmou, são como feijoada:
“Você escolhe o que você quer ali. Tem coisa que tem dimensão séria, tem coisa que é boato, especulação, tem coisa que não tem profundidade.”
É… Parece que a Casa Civil era uma feijoada completa, com a porcaria toda, da orelha ao rabo. Só que era Dilma quem estava na chefia da cozinha nos casos mais graves conhecidos até agora.
Por Reinaldo Azevedo

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