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sábado, 17 de julho de 2010

"Escola é irrelevante", diz coronel ao negar erro em tiroteio no Rio


Pior é não fazer operações, diz coronel sobre morte de menino
17 de julho de 2010 22h21 atualizado às 22h31


Wesley Andrade morreu atingido por uma bala perdida na zona norte  do Rio Foto: Severino Silva/O Dia

Wesley Andrade morreu atingido por uma bala perdida na zona norte do Rio
Foto: Severino Silva/O Dia


Responsável pela operação nas favelas da Quitanda e Pedreira, na capital fluminense, onde o menino Wesley Guilber de Andrade, 11 anos, morreu atingido por tiro dentro da sala de aula de uma escola na manhã de sexta-feira, o coronel Fernando Príncipe lamenta a morte, mas defende a manutenção das ações policiais. "O Ciep Rubens Gomes - onde aconteceu o fato - é irrelevante. Se não houver Ciep, haverá uma casa, uma fábrica. Mas o pior é não realizar operações", disse.

Afastado do comando do 9º BPM, o coronel abre fogo contra o comandante-geral da corporação, coronel Mário Sérgio Duarte. "Com a minha exoneração, o comandante-geral diz para os outros comandantes que eles devem privilegiar a omissão e a covardia, devem privilegiar o não fazer". Príncipe diz que não errou e que a perda de vidas inocentes, "eventualmente, vai acontecer".

Para o coronel, a operação no local era necessária. Ele afirma que empresários da Fazenda Botafogo já haviam o procurado para reclamar da situação no local. "A ação começou às 8h20, havia 100 homens comandados por um major. Tínhamos como alvos a comunidade de Final Feliz e os morros da Pedreira, Lagartixa e Quitanda. O bandido é inconsequente, faz disparos em qualquer direção. Tivemos que trocar tiros. Não há outro jeito de se fazer operação. Ou é assim ou, então, não faz. A inteligência diz que o bandido ele está lá dentro (da favela). Temos que ir lá. O que a polícia deve fazer? Não fazer nada é prevaricação", afirma.

Sobre a morte do menino, o comandante exonerado diz lamentar, porém se isenta da culpa. "Eu lamento muito, claro. Mas não fui responsável por ela, meus policiais também não. Com a minha exoneração, o comando mostra que não assume a responsabilidade de seus comandados. Não foi a primeira vez que um estudante foi atingido naquele Ciep, e o poder público nunca providenciou a blindagem do prédio. Abomino a morte de inocentes, mas isso, eventualmente, vai acontecer."

Enterro
Wesley foi enterrado na manhã de sábado, no cemitério de Irajá. No sepultamento, acompanhado por 70 pessoas, amigos da vítima e professores lembraram a tragédia. A professora do menino, Mariza Helena, foi a primeira a prestar socorro. "Quando ouvimos os primeiros tiros, saímos da sala e nos posicionamos no corredor. Ali era um lugar que considerávamos mais seguro. Mas o tiroteio parou e voltamos para a sala de aula. De repente, ouvimos novos disparos. As crianças começaram a correr para fora, mas uma bala entrou na sala".

Mariza contou que, depois de ser atingido, Wesley ainda correu até o corredor. "Ele caiu no chão do corredor e começou a sangrar. Os coleguinhas gritavam pedindo que não deixasse ele morrer. Tenho 40 anos de magistério, 17 só nesta escola. Mas, depois disso, não sei se conseguirei voltar para a sala de aula", disse.

Diretora da unidade, Rejane Faria passou mal no velório. "Tudo foi embora, todo o nosso trabalho. Me perdoa pai, me perdoa mãe", afirmou. Na segunda-feira, as aulas no Ciep Rubens Gomes estão suspensas. Psicólogos e assistentes sociais da Secretaria Municipal de Educação se reunirão com professores e alunos, que vão vestidos de branco em pedido por paz.

Pai de Wesley, o comerciante Ricardo Freire cobrou a presença de autoridades do Estado na despedida do filho. "Eles não se preocuparam porque os filhos deles andam de carros blindados e passam longe das áreas de risco", disse. O governo estadual arcou com o custo do enterro. "O tudo deles não é nada pra gente."

O Dia


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