O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou à BBC que o acordo firmado entre ele e o governo interino do país está condicionado ao Congresso aprovar sua volta ao poder.
"Se o Congresso vota contra minha restituição, não há acordo. Isso significaria que fracassaram as negociações", disse ele.
"Moralmente o Congresso tem a obrigação de retornar à ordem democrática que existia antes de 28 de junho", disse, mencionando a data em que foi deposto.
"Assim como foi possível dar um golpe de Estado, é possível reverte-lo. Depende da vontade política", afirmou, quando questionado por que o mesmo Congresso que votou por sua deposição aprovaria agora sua volta.
Verificação
Atualmente o Congresso está em recesso por causa da campanha eleitoral e não anunciou quando se reunirá para discutir o tema.
Segundo o acordo fechado na sexta-feira, deve ser formado até a próxima quinta-feira um governo de unidade nacional.
O documento não especifica quem deve presidir este novo governo interino que administraria o país até janeiro, quando assume o presidente que será eleito nas eleições de 29 de novembro.
Se instalou em Honduras nesta segunda-feira a Comissão de Verificação do Acordo, coordenada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e integrada pelo ex-presidente chileno Ricardo Lagos e pela secretária de Trabalho americana, Hilda Solís.
O representante do governo interino será Arturo Corrales, e o de Zelaya, o embaixador hondurenho na ONU, Jorge Arturo Reina.
Acordo 'secreto'
Circulam em Honduras rumores de um "pacto secreto" costurado pelo negociador americano, Thomas Shannon, com parlamentares do governo deposto e do governo interino.
O deputado Marvin Ponce, do Partido da Unificação Democrática (UD), que se alinha com o presidente deposto, Manuel Zelaya, disse à BBC Mundo que existe um "acordo tácito" para reconduzi-lo ao cargo.
A decisão cabe ao Congresso, e por isso Ponce reconhece que a volta do presidente deposto à liderança do país não é garantida. Mas seria "altamente provável", segundo ele.
Na correlação de forças entre os 128 parlamentares, pesarão mais os 62 votos do Partido Liberal (o mesmo de Zelaya e de Micheletti) e os 55 do Partido Nacional.
Estima-se que 17 liberais votarão por Zelaya, além dos cinco do UD, de Ponce. Mas o que definirá a balança será o voto do Partido Nacional.
Por isso, todos os olhos estão postos sobre o candidato presidencial desse partido, Porfírio Lobo, que até agora encabeça a corrida eleitoral.