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sábado, 28 de março de 2009

O papelão de Lula


Sex, 27/03/09
por Paulo Moreira Leite |

Lula perdeu uma boa oportunidade de ficar calado em seu discurso diante do primeiro ministro britânico Gordon Brown. O presidente disse que vivemos uma crise “causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que antes da crise parecia que sabia tudo e que, agora, demonstra não saber nada.”

Questionado por um jornalista inglês, o presidente continuou, acrescentando que não conhece “nenhum banqueiro negro ou índio.”

É absurdo e vergonhoso. Todo esforço para associar cor da pele, tipo de cabelo, cor dos olhos e outros traços genéticos a realizações econômicas e sociais é uma forma de preconceito. Equivale a comportar-se como aquele cidadão que diz: “índio é preguiçoso e por isso vive no mato” ou aquela dona-de-casa que sentencia: “nunca vi um negro tirar nota boa na escola”. Não custa recordar que, para muitos escravocratas, o cativeiro servia para educar e civilizar os negros africanos.

Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano do seculo XIX que fez trabalhos sobre a loucura, a mediunidade e a criminalidade, chegou a formular a teoria de que era possivel adivinhar o comportamento de um criminoso pelo formato do rosto — e assegurava ter descoberto traços que indicavam vocação para o roubo, o homicídio e o estupro.

Eu até entendo que um governo que defende o sistema de cotas nas universidades dê muita importância à cor da pele em sua forma de explicar as dores e mazelas do mundo. Mas, ao assumir um viés racial para o debate sobre a crise economica mundial, Lula chegou ao limite do grotesco.

Perdeu a oportunidade de cobrar a responsabilidade de quem deve — para criar uma ambiente pouco proveitoso de agressividade e constrangimento. Não há dúvida de que a crise teve início nos países ricos e desenvolvidos. Mas a discussão é de política econômica.

Aliado do Brasil, país que seu governo considera um parceiro prioritário na reunião do G-20, Gordon Brown não conseguiu disfarçar o constrangimento diante das palavras de Lula.
Os banqueiros não quebraram o mundo porque são brancos nem porque tem olhos azuis. Também não tem o monopólio do comportamento irracional — característica que faz parte do sistema econômico em que vivemo

  • Paulo Moreira Leite

    Paulo Moreira Leite É Diretor da Sucursal de Brasília da revista ÉPOCA. Jornalista desde os 17 anos, foi correspondente em Paris e em Washington, diretor de redação da ÉPOCA, redator-chefe da Veja e diretor de redação do Diário de São Paulo. Entre fevereiro de 2007 e janeiro de 2008, foi vice-presidente da Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo. Iniciou a carreira no Jornal da Tarde e foi repórter especial do Estado de S. Paulo. No início de 2008, cobriu o início das primárias americanas como enviado especial do IG aos Estados Unidos.

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