Lula perdeu uma boa oportunidade de ficar calado em seu discurso diante do primeiro ministro britânico Gordon Brown. O presidente disse que vivemos uma crise “causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que antes da crise parecia que sabia tudo e que, agora, demonstra não saber nada.”
Questionado por um jornalista inglês, o presidente continuou, acrescentando que não conhece “nenhum banqueiro negro ou índio.”
É absurdo e vergonhoso. Todo esforço para associar cor da pele, tipo de cabelo, cor dos olhos e outros traços genéticos a realizações econômicas e sociais é uma forma de preconceito. Equivale a comportar-se como aquele cidadão que diz: “índio é preguiçoso e por isso vive no mato” ou aquela dona-de-casa que sentencia: “nunca vi um negro tirar nota boa na escola”. Não custa recordar que, para muitos escravocratas, o cativeiro servia para educar e civilizar os negros africanos.
Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano do seculo XIX que fez trabalhos sobre a loucura, a mediunidade e a criminalidade, chegou a formular a teoria de que era possivel adivinhar o comportamento de um criminoso pelo formato do rosto — e assegurava ter descoberto traços que indicavam vocação para o roubo, o homicídio e o estupro.
Eu até entendo que um governo que defende o sistema de cotas nas universidades dê muita importância à cor da pele em sua forma de explicar as dores e mazelas do mundo. Mas, ao assumir um viés racial para o debate sobre a crise economica mundial, Lula chegou ao limite do grotesco.
Perdeu a oportunidade de cobrar a responsabilidade de quem deve — para criar uma ambiente pouco proveitoso de agressividade e constrangimento. Não há dúvida de que a crise teve início nos países ricos e desenvolvidos. Mas a discussão é de política econômica.
Aliado do Brasil, país que seu governo considera um parceiro prioritário na reunião do G-20, Gordon Brown não conseguiu disfarçar o constrangimento diante das palavras de Lula.Os banqueiros não quebraram o mundo porque são brancos nem porque tem olhos azuis. Também não tem o monopólio do comportamento irracional — característica que faz parte do sistema econômico em que vivemo
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